quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ensaio - Moda e Literatura

Com este ensaio eu abro um espaço no blog para falar sobre os livros que têm a moda como tema ou personagem principal, um filão cada vez mais promissor no mercado editorial. Espero poder compartilhar com o leitor mais um gênero da literatura que me apaixona. Em breve vou postar um texto sobre o livro LInhas, da Sophia Bennett, exatamente sobre este assunto. Espero que vocês gostem.

Moda e literatura não são gêneros tão desconectados quanto aparentam ser, pois ambos trabalham com técnicas narrativas, estilos, criação e representação de realidades, além de mergulharem igualmente no universo do imaginário. As duas esferas procuram provocar impacto na mente humana, e se esforçam para mobilizar seus públicos com a criação de efeitos variados e intencionais.
Os estilistas, assim como os escritores, inspiram-se nos estímulos, nas vivências e em seus mundos externos e internos para produzirem suas criações. Algumas vezes os primeiros se baseiam em alguma obra da literatura universal para tecerem suas coleções, enquanto em outros momentos os literatos discorrem sobre o contexto ‘fashion’ em seus livros.
Em julho de 2006 o renomado Ronaldo Fraga invadiu as passarelas do São Paulo Fashion Week com modelos extraídos completamente do universo do escritor mineiro João Guimarães Rosa, especialmente de sua obra-prima Grande sertão: veredas. Sua coleção A cobra: ri – uma história para Guimarães Rosa é uma homenagem muito bem-vinda ao autor celebrado em todo o Planeta, justamente quando seu livro atinge a marca dos cinquenta anos de publicação.
O mesmo estilista já havia povoado sua criação com elementos retirados da obra de outro mineiro, Carlos Drummond de Andrade, um ano antes. Fraga alega que é apenas uma coincidência os dois serem de Minas; o fato é que a produção literária de ambos tem um valor inegavelmente universal e atemporal. Para ele, moda e literatura são dois gêneros artísticos que se preocupam essencialmente com a possibilidade de contar uma história.

Enquanto o mundo retratado pelo poeta é romântico e elegante, dando espaço a um figurino repleto de elementos delicados, a esfera de Rosa é árida, quase ‘clean’; desta forma, não há motivo para se produzir uma coleção preocupada com minúcias. A história retrata fielmente a paisagem sertaneja, despojada e estéril, porém simultaneamente exuberante, colorida e saturada de perfumes.
A Cobra: ri - Ronaldo Fraga
Desta forma, Ronaldo cria vestidos curtos que deixam os joelhos à mostra e abusam dos decotes. Como um reflexo da relação que se estabelece entre Riobaldo e Diadorim, o homem de Fraga é mais efêmero e delicado que a personagem feminina. Os tecidos remetem a texturas naturais, privilegiando o algodão, as malhas stonadas e a cambraia de seda. Nas estampas é fácil reconhecer as serpentes e as flores tão caras a Guimarães Rosa.
Por outro lado, escritores também se baseiam na moda para comporem seus livros; seja esta a protagonista ou apenas o pano de fundo, pode-se citar o figurino explícito de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, ou o conto de Scott Fitzgerald, Bernice corta o cabelo, no qual duas primas contrastam suas personalidades neste quesito; a mais descolada tenta informalmente passar umas dicas ‘fashion’ para a mais introvertida. Isso sem falar na chick-lit, o gênero literário especialmente dirigido às mulheres, no qual se pode inserir facilmente o já clássico O Diabo Veste Prada, de Lauren Weisberger, editado no Brasil pela Record.
O mercado editorial oferece ao leitor que se interessa por moda e literatura um vasto leque de opções, mesmo entre as obras não ficcionais, mas que primam pelo estilo literário e, assim, atingem facilmente seu público-alvo, tamanha a leveza e o fascínio que exercem sobre ele, como as obras de Gloria Kalil e o livro de Pascale Navarri, Moda & Inconsciente: olhar de uma psicanalista, um lançamento da Editora Senac.
Alice no País das Maravilhas
A escritora Sophia Bennett é a responsável por uma série que promete jogar mais lenha na fogueira da intensa relação entre moda e literatura, Linhas, publicada pela Intrínseca. A autora tece uma leve, porém profunda reflexão sobre o universo ‘fashion’ e suas implicações econômicas, sociais, políticas e éticas; tudo isso em uma saga divertida e sedutora, voltada particularmente aos jovens leitores.
Há muito que se dizer sobre este tema, mas vou parando por aqui, lembrando que este é um campo ainda pouco explorado, restrito a círculos ainda fechados, compostos por professores e estudantes de moda, trabalho particularmente executado na FMU, Faculdades Metropolitanas Unidas, a qual incentiva a criação de desfiles performáticos que percorrem justamente este circuito que integra Moda e Literatura.
Fontes:


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cinema - Indicação do Mês - Cisne Negro


 

Esta semana decidi contrariar uma antiga decisão minha de não assistir Cisne Negro, pois a maior parte dos comentários classificava o filme, no mínimo, como um terror psicológico, algo que eu preferia evitar neste momento. Mas uma forte intuição bateu e me levou ao cinema justamente para descobrir a história por mim mesma.
Foi com certeza uma das experiências mais malucas, assustadoras e fascinantes da minha vida. É ainda mais difícil narrar minhas impressões sobre o filme que permanecer na cadeira do cinema do início ao fim. Vou começar com as primeiras palavras que me vieram à mente no momento em que saí da sala: perturbador, desesperador, visceral e sublime.
A trama acompanha a montagem de um balé clássico, O Lago dos Cisnes, de Piotr Ilitch Tchaikovsky, por uma companhia que decide aposentar sua primeira bailarina, Beth, brilhantemente interpretada por Winona Ryder. A partir deste momento iniciam-se os testes para sua substituição. Esta é a oportunidade que Nina, a protagonista da história, uma atuação magistral de Natalie Portman, sempre desejou, e ela dá tudo de si para conquistar a vaga.
No momento em que ela é escolhida para interpretar a Rainha Cisne, a realização de seus sonhos, as pressões exercidas pelo coreógrafo Thomas e por sua mãe possessiva, uma ex-bailarina frustrada, vivida pela atriz Barbara Hershey, levam Nina ao limite de sua psique já perturbada, até atingir o ponto crucial onde todas as fronteiras entre realidade e imaginação, loucura e sanidade, são transpostas.
Talvez um dos elementos mais perturbadores deste filme seja seu ponto de vista, que transporta o público para o interior da mente atormentada e doentia de Nina; esta é a única versão da história, não há outras visões da mesma narrativa. Este ‘detalhe’ tem um impacto profundo sobre a plateia, ou pelo menos teve em mim, pois a partir de um determinado momento não conseguimos mais distinguir o que é real do que é mera alucinação.
Nina é a bailarina que busca a perfeição da técnica; ela é o Cisne Branco ideal, pois representa a inocência, a pureza e a doçura que a personalizam. Por outro lado, ela é radicalmente controlada, disciplinada e reprimida; mas Thomas a escolhe porque sabe que em algum ponto de sua alma está presente o Cisne Negro, símbolo da sexualidade, da sedução e do mal.
Enquanto no Lago dos Cisnes duas irmãs gêmeas disputam o príncipe que traz consigo a libertação de um feitiço que as mantêm cativas nos corpos de dois cisnes, o branco, que traduz a luz de uma, e o negro, que simboliza as sombras que habitam a alma da outra, as mesmas forças se confrontam no interior de Nina, que luta desesperadamente para permitir que sua face sombria se manifeste. A única forma que ela encontra de extravasar seus sentimentos é através da automutilação; quando seu corpo sangra, as emoções jorram de sua alma como se finalmente uma porta fosse aberta.
Ao mesmo tempo, ela entra em conflito com sua mãe, o que intensifica ainda mais seu desgaste psíquico, e passa a projetar seus medos mais primitivos em outra bailarina, Lily, interpretada por Mila Kunis, que se destaca como coadjuvante. Ela não tem uma técnica apurada, mas apresenta a naturalidade e a sensualidade que Nina mais deseja expressar. Quando as duas se aproximam, a mente da protagonista imediatamente a identifica como sua principal rival, na verdade uma personalização de sua sombra.
O que se vê na tela é a essência da arte, um jogo de sedução e fascinação, e cenas que beiram o mais profundo terror psicológico. Esta inusitada combinação provoca um impacto único e inesquecível no público, pois toca as profundezas do inconsciente humano, seus abismos mais sombrios, e prova que a alma humana é tecida por luzes e sombras. A trajetória de Nina atesta que é impossível qualquer possibilidade de crescimento emocional sadio quando esta esfera mental é simplesmente desprezada e reprimida.
O desfecho do filme é ainda mais impactante; ele nos prende, nos paralisa e rouba o nosso fôlego de tal forma que mal podemos respirar, literalmente.  A encenação do balé, principalmente a atuação do Cisne Negro, é tão sublime, que nenhuma palavra, por maior que seja sua magia, poderá descrever. É uma daquelas cenas que ficam gravadas para sempre na mente humana. Natalie Portman merece, com certeza, não só o Oscar de melhor atriz, mas todos os prêmios de melhor interpretação de 2010. Por mais difícil e angustiante que seja a experiência de assistir Cisne Negro, é impossível sentir qualquer vestígio de arrependimento quando o filme chega ao fim.
Observação: Anotem o nome do diretor, que, aliás, qualquer cinéfilo irá reconhecer: Darren Aronofsky. É ele o responsável por filmes como O Lutador, de 2008, muito celebrado pela crítica e pelo público; o menos festejado A Fonte da Vida, lançado em 2006; e os trabalhos antigos que lembram mais Cisne Negro: Pi (1998) e Requiem Para Um Sonho (2000).

Título Original: Black Swan 
Direção: Darren Aronofsky
Lançamento: EUA, 2010
Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Winona Ryder, Vincent Cassel, Barbara Hershey.





terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Indicação - “Cidades Invisíveis” (Emili Rosales Castellá)


O catalão Emili Rosales Castellà é a grande revelação entre os autores contemporâneos europeus. Sua escrita segura, firme, fluente e poética tece com habilidade ímpar um mundo de sonhos e miragens que perseguem o protagonista desde sua infância. O escritor pode estar narrando suas próprias experiências através de seu altergo, mesclando ficção e realidade na trajetória de Emili Rossel, famoso galerista, marchand e amante das artes e da cultura. Mas, na verdade, não é imprescindível ter essa certeza.

Em sua obra "A Cidade Invisível", o autor retrata a busca da identidade de seus personagens principais. Nela se desenrolam duas histórias em tempos distintos, porém na mesma esfera espacial – a Catalunha do século XVIII e a atual. A história dentro da história corre paralela à trajetória de Emili, e encontramos nos dois heróis de suas respectivas épocas semelhanças marcantes, tanto nos ideais quanto em suas trajetórias, na procura de um sonho que, na verdade, representa a descoberta de si mesmos.

Emili cresce em meio às ruínas de uma cidade que não se concretizou, e que se torna para ele e os amigos uma obsessão. Neste recanto um tanto mágico ele realiza os principais achados de sua existência. Aí ele vive, durante a adolescência, os primeiros momentos de sua vida afetiva, que repercutem definitivamente em sua trajetória emocional. Durante algum tempo, longe de sua terra natal, Sant Carles, que ele passa a visitar apenas nos finais de semana, as imagens da Cidade Invisível se desvanecem, mas logo se reacendem quando, anos depois, Emili misteriosamente recebe pelo correio uma cópia do Memorial da Cidade Invisível, um manuscrito do século XVIII. Confuso, sem saber quem o enviou, ele inicia sua tradução, e mergulha de cabeça nas novas revelações que este documento enigmático lhe reserva.

Eu já não pensava mais na Cidade Invisível. Só em sonhos talvez. Até que, poucas semanas atrás, recebi um envelope sem remetente que continha a cópia de um longo documento manuscrito, cuja letra ondulada, elegante, com uma sucessão de curvas e traços estirados, logo me chamou a atenção. Ao fazer uma primeira e calma incursão por suas páginas — não estava acostumado com aquela caligrafia —, me dei conta de que se tratava de uma espécie de livro de memórias de um arquiteto do século XVIII, um tal de Andrea Roselli.

Estava escrito em italiano e levava um título que não se poderia assegurar que fosse da mesma mão que escreveu o restante do texto: Memorial da Cidade Invisível. Meu Deus, a Cidade Invisível! Imediatamente me lembrei da primeira vez que ouvi aquelas palavras, há muitos e muitos anos. Íamos brincar na Pedreira, aquela gigantesca cavidade aberta na colina que da serra de Montsià se debruça indecisa sobre o mar, na baía. Caminhávamos encolhidos entre as pedras e valetas de terra e parávamos em poças úmidas, esverdeadas, lamacentas, onde apanhávamos barro com as mãos e o transformávamos em figuras monstruosas. Por vezes alguém do grupo escorregava e seu casaco ficava que era uma lama só.

Neste memorial, encontramos a trajetória do arquiteto Andrea Roselli, e seguindo as pistas que ele proporciona tanto ao leitor quanto a Emili, estes se transportam ao século XVIII, e desvelam o passado da Cidade Invisível – os projetos do rei Carlos III de criar um núcleo urbanístico, centro comercial, artístico e cultural, a nova capital da Espanha, bem no âmago do reino catalão, no delta do Rio Ebro, completamente espelhada na cidade de São Petersburgo, criada também a partir do nada, e com os mesmos propósitos, na Rússia do czar Pedro, o Grande. O rei desejava, através da construção de sua Sant Carles, rever a Nápoles, a corte esclarecida que ele teve de abandonar para governar a Espanha.
Ao percorrer os caminhos de Andrea - seus sonhos, dilemas, conflitos, amores, desilusões e, principalmente, a busca de uma cidade que o abrigue, entre tantas que conheceu, de um lugar que seja seu -, Emili vai redescobrindo seu próprio passado, que para ele ainda guarda passagens obscuras e misteriosas, as quais ele não tem coragem de desvendar. A narrativa, envolvente e poética, seduz pouco a pouco o leitor, e lhe reserva passagens belíssimas, reflexões profundas sobre a existência, revelando-se assim uma obra de teor universal, com a qual nos identificamos, independente das diferenças culturais.

Andréa revela-se um personagem fascinante, à procura de seus sonhos e, ao mesmo tempo, acalentando o desejo de encontrar uma cidade que não passe mais como as outras que conheceu, diante da qual ele não precise mais partir. Mais que isso, ele aspira deixar em sua vida uma marca, algo que lhe permita não ser esquecido, transcender sua profunda solidão e a própria morte, conquistando de uma forma ou de outra, na arte ou no amor, a imortalidade. Emili também tem suas utopias, que por vários caminhos conduzem à Cidade Invisível – lá estão as respostas para os mistérios que o perseguem, seu futuro e seu passado, as tardes que ficaram para trás e as promessas de novos dias, a noite do tempo e as luzes que insistem em despertar, junto com as memórias adormecidas.

As figuras femininas são fundamentais nas veredas que Andréa e Emili percorrem. Cecília e Maria no século XVIII; Sofia e Ariadna no século XXI; elas iluminam e determinam os caminhos de ambos. De um lado, a exuberância, a beleza sofisticada, o gosto do proibido, dos perigos femininos; do outro, a simplicidade, a naturalidade, a espontaneidade, a pureza e a inocência. O autor ressalta em suas heroínas o poder do olhar, sua importância nos jogos de sedução e nos diálogos do amor, na leitura da alma de cada uma delas e na descoberta de histórias ocultas. Sabe-se que o olhar tem um significado profundo, tanto na mitologia quanto na filosofia, e o escritor sabe explorar muito bem essa potencialidade na caracterização de suas protagonistas.

Seja como for, de uma forma negativa ou positiva, essas mulheres influenciam e estimulam a busca de seus companheiros, impedindo-os de simplesmente esquecer o passado e seguir adiante. As memórias parecem ter um parentesco com o feminino nesta obra – aliás, é uma entidade feminina a responsável pelos caminhos da Memória, a deusa Mnemosyne -, e neste ponto destaca-se o papel de Ariadna, que, segundo a mitologia grega, era filha de Minos, rei de Creta, e de Pasífae. Ela se une a Teseu, ateniense inimigo de sua família, para destruir o Minotauro, encerrado pelo rei em um labirinto construído por Dédalo. Para ajudá-lo, ela lhe oferece uma espada mágica e um novelo de lã para que ele se guie dentro da construção labiríntica e, após enfrentar e matar o monstro, ele possa retornar e sair do labirinto. Abandonada posteriormente por Teseu, ela se casa com Baco, que ao encontrá-la desolada em uma ilha deserta, apaixona-se por ela.

Na leitura deste livro surpreendente, o leitor encontrará várias analogias entre a história mítica de Ariadna e Teseu e os caminhos reais percorridos pela heroína e Emili, uma narrativa de amor e abandono, ilusão e desilusão, encontros e desencontros. Na sucessão dos acontecimentos, o autor, através de sua Ariadna, tece os fios que conduzirão Emili de volta ao passado, não só ao tempo histórico, mas também ao encontro de sua identidade, das respostas que ele busca, mesmo sem perceber - sob a máscara do interesse pela História -, e que ele encontrará não através dos velhos caminhos conhecidos, mas sim tateando por novas veredas, muitas vezes sombrias e arriscadas, das quais ele não sairá ileso. Nas sombras do passado, porém, ele vê brotar a luz que poderá clarear não só o passado dos fatos históricos, mas igualmente os pontos obscuros de sua existência.

São tantos os fios que se desdobram ao longo da narrativa, que é surpreendente perceber, no final da leitura, como o autor consegue entretecer todos eles, com uma maestria sem precedentes, conciliando e conjugando as eras, revelando a verdade oculta na noite do tempo. Não é ocasional, portanto, este autor ter provocado surpresa e admiração entre os críticos, e esta obra ser vencedora do Saint Jordi, o prêmio mais importante da literatura contemporânea da Catalunha. Emili Rosales irrompeu no cenário literário com os livros de poemas Ciutats i mar (1989) e Els dies i tu (1991). Posteriormente ele publicou La casa de la platja (1995), Els amos del món (1997) e Mentre Barcelona dorm (1998). Na lista dos mais vendidos, este é um dos romances mais deslumbrantes dos tempos atuais, nos quais predominam best-sellers construídos sem muito esmero e carentes de preocupações estilísticas.


CIDADE INVISIVEL, A
Autor:  ROSALES, EMILI
Editora: NOVA FRONTEIRA
Assunto: LITERATURA ESTRANGEIRA-ROMANCES
ISBN :  8520919049
ISBN-13:  9798520919049
Livro em português
Brochura
1ª Edição - 2006 - 352 pág.

E em casa não voltei a falar da Cidade Invisível, embora com meus colegas continuasse encontrando indícios da sua existência, ou do seu desaparecimento. Com o tempo, aprendi que só existe o que se perde; sejam as cidades, os amores ou os pais. Um dia saímos andando pela praia em direção ao Sul, nos rochedos e grutas, desobedecendo às regras familiares e, remexendo debaixo de um monte denso de folhas de palmeira, atrás do emaranhado de galhos de uma figueira, descobrimos a boca de uma caverna, na qual não pudemos penetrar por mais de uns dez metros. Apesar disso, aquela era uma prova suficiente para termos certeza de que se tratava de uma outra saída da Cidade Invisível.