quarta-feira, 14 de novembro de 2012

"A Fada" (Carolina Munhóz)

Pessoal, aproveitando a reedição de A Fada, da Carolina Munhóz, pela Fantasy/Casa da Palavra, posto aqui finalmente a resenha já publicada no site Infoescola. Para mim, foi uma leitura inesquecível; deve ser livro de cabeceira de todos os apaixonados pelos seres encantados.


Reedição de A Fada

Poucas narrativas me levaram a uma identificação tão completa como a tecida por Carolina Munhóz. Sua fada não é um mero produto da fantasia humana, e sim real e concreta como cada um de nós. Ela não está mergulhada em um universo etéreo e encantado, e sim numa profunda crise existencial.


As desventuras de Melanie Aine, Mel para os íntimos, têm início na comemoração de seus 18 anos; finalmente, depois de alimentar tantos sonhos e desejos, ela conquista a oportunidade de ter a celebração de seu aniversário, com direito a festa surpresa e até mesmo a um presente, um misterioso livro de encantamentos.

Ainda não pode contar com amigos entre seus convidados, pois sua casa isolada na Epping Forest, que mais parece um castelo medieval, é distante o suficiente de Londres para não atrair colegas de escola; além disso, a sensação de ser diferente de todos não é muito animadora em termos de popularidade no colégio. Assim, a festa se resume à presença dos pais e de um casal de amigos.

Um presente! Além de uma festa, estava recebendo um presente no dia do meu aniversário. Ninguém conseguiria entender a imensa felicidade que senti. Os fogos de artifício explodindo no peito. A sensação de ser uma pessoa normal. Ter pais normais. Pais que davam presentes em datas comemorativas.
Recebi um livro grosso, marrom, muito velho, com uma aparência até mofada. Mas não ligava. Porque ele era meu. Havia sido dado por meu pai.

A chama de alegria e choque que anima a alma de Mel logo se apaga. Ao tentar adormecer, é surpreendida com uma dor lancinante na lombar, acompanhada de um aroma intenso de algo queimado. Surge assim, nas suas costas, a imagem de uma fada, como se fosse uma tatuagem em sua pele.

Neste momento, porém, a protagonista está ocupada demais para refletir sobre o estranho evento, pois surpreende seu pai aos berros, e segue em seu socorro. A partir deste momento, tudo acontece muito rápido; sua vida se transforma definitivamente e ela parece ingressar em um pesadelo sem fim.

Mel perde o pai, descobre que é uma fada e sua mãe parte para a dimensão de Fairyland, atravessando um portal mágico e deixando a filha perplexa e sozinha no mundo dos humanos. Cabe à Ciale governar este reino no lugar da jovem, até que ela possa assumir seu trono; mas isto só vai ocorrer depois que a protagonista cumprir sua missão na Terra.

Jovens costumam ganhar presentes caros, passagens aéreas ou festas surpresas em aniversários de dezoito anos. Eu ganhei o falecimento do meu pai, o abandono de minha mãe, uma estranha tatuagem e a descoberta de que não era humana.  (...)
Até minha mãe, que deveria me acompanhar para o resto da vida, havia me abandonado feito uma cegonha sem apego. Com isso, tornei-me uma pessoa pessimista, algo estupidamente parecido com uma velha amargurada olhando a vida passar de uma janela ou algum troll de internet descontando sua fúria nos posts de um blog de pouco acesso.




Ela, porém, desconhece totalmente o seu destino, está perdida, sem rumo, imersa em uma tristeza infinita. Mel chora pela perda do pai e pelo suposto abandono da mãe, e seus únicos amigos são os italianos Olinda e Vincento. Mas em um dia muito especial, 23 de outubro, a garota conhece o menino Patrick e Arthur Wales, descendente de uma família de bruxos, duas presenças masculinas essenciais em sua vida.

Enquanto vive um romance turbulento com Arthur, Mel tenta encontrar sua própria identidade, um lugar no seu mundo, e a si mesma, pois só assim poderá finalmente compreender que tarefa sagrada a mantém ligada à esfera humana. Em alguns momentos ela sente emergir de um recanto em sua alma algo semelhante à felicidade; os outros momentos de sua existência são povoados por medos, dúvidas, angústias e revolta.

Os difíceis momentos vividos por Mel simbolizam, sem dúvida, o ritual de transição vivenciado por cada um de nós em busca de um sentido para nossas vidas, principalmente na adolescência e na juventude. Daí a identificação que o leitor pode sentir em relação à protagonista.

Senti-me estranha. Vazia. Notei que, por ser diferente, estagnei. Perdi a sensação gostosa de viver aproveitando cada minuto. Como se fosse o último.
Se pudesse suplicar por um desejo, pediria por essa sensação pelo menos por alguns segundos. Apenas isso. Quando tememos nosso destino, ficamos preocupados. Ao saber que algo vai interferir em nossa jornada, tememos aproveitá-la. Havia decidido. Mesmo decepcionada, precisava descobrir a minha missão. Ninguém poderia me ajudar.
Apenas o dono daquele olhar cativante.

Cada parte é precedida por uma bela ilustração e pela demarcação temporal e espacial da narrativa; a trama se desdobra a partir de uma epígrafe que resume a essência da história: o quanto é fundamental que se acredite nas fadas para que elas possam sobreviver. A citação é extraída da clássica obra de JMM Barrie, Peter Pan.

A viagem do leitor pelas 222 páginas deste livro traz surpresas e revelações sem fim, até a conclusão inesperada da narrativa; confesso que quase sempre consigo antever o final de uma obra, mas este realmente me surpreendeu. E devo dizer também que me encantou, não sei se vocês vão concordar comigo. Afinal, é sempre estimulante quando uma obra consegue provocar alguma polêmica.

A leitura dos agradecimentos finais é também muito ilustrativa, pois dá a entender que, em algum momento, Carolina teve contato com fadas, e por esta razão elas protagonizam sua história, a qual é certamente dedicada a estes seres mágicos e iluminados. Como a Mel que passou como um raio por sua vida e inspirou este livro.

A Mel entrou nela rápido e da mesma forma saiu, mas a marca que deixou em mim foi profunda e acho que nunca a esquecerei. Fiz-lhe uma promessa, de vencer, de realizar meus sonhos! (...) A única coisa de que tenho certeza é que um dia irei reencontrá-la. Nesta ou em outra encarnação!




Carolina Munhóz é jornalista e escritora. Fã da saga Harry Potter, ela foi um dos membros do Potterish, um dos sites mais importantes sobre o célebre bruxo; e teve a oportunidade de conhecer os protagonistas da série ao visitar os Estados Unidos. Nesta ocasião, justamente aos 18 anos, viajou por vários países, entre eles Inglaterra, França, Itália e Suíça.

Suas peripécias atraíram o foco da mídia, tais como Folha de São Paulo, Estadão, TV Cultura, Disney Channel, rádio Record de Londres e Época, revista que a comparou a autoras do quilate de Cassandra Clare e Alexandra Adornetto. Hoje a jovem escritora se dedica de corpo e alma à literatura e atua amplamente nas redes sociais. 

Editora: Fantasy/ Casa da Palavra

Autora: Carolina Munhóz

Origem: Nacional

Edição: 1/2012

256 Páginas

Preço: R$ 25,40

Capa: Brochura

Formato: Médio