quinta-feira, 11 de abril de 2013

"O Inverno das Fadas" (Carolina Munhoz)


O leitor é convidado aqui a escalar as montanhas de Bassenthwaite e ingressar no universo dos Sídhes. A ele é permitido surpreender fadas e elfos em sua mais profunda intimidade. Em pleno Samhain, quando o véu entre o mundo dos humanos e o dos povos mágicos é rompido, é possível espiar o interior do palácio do Governador Arawn e conhecer sua neta, Sophia Coldheart, uma fada nada comum.


Cabe ao ser feérico desempenhar uma missão na esfera humana: seduzir, encantar, enfeitiçar artistas talentosos, pessoas que se destacam no meio da multidão e trazem consigo o dom de criar. Ela é, portanto, uma musa. Inspira homens e mulheres que apresentam um potencial especial, seja na música, no cinema, no teatro, nas artes plásticas ou na literatura.

Sophia os fascina em seus sonhos ou face a face. Seja como for, sua presença arrebata almas e corações. Suas caças, ansiosas por glória, fama e prazer, logo se curvam diante da fada loira e bela. Mas sua beleza é fatal; a criatura mágica sempre cumpre sua palavra e seus amantes recebem o que desejam; porém tudo tem seu preço, e o seu é alto e irreversível.

Donald, Jade, Brad, Mickey, Richard, Britney, entre outros tantos, jamais se enquadrariam em uma vida longa, todavia comum; eles aspiram algo mais e nem por um instante se permitem medir as conseqüências de seus desejos; na verdade, seriam capazes de qualquer coisa para conquistar a glória imortal, até mesmo mergulhar em um processo de completa autodestruição que invariavelmente culmina em um fim trágico.

Donald tinha, sim, um amigo imaginário, mas nunca foi louco. Ao crescer, o transformou em uma amiga e, naquele momento, no quinto dia do quarto mês, a mesma sugava sua última gota de energia. Ele perdia a alma à medida que esquecia o motivo de sua existência e, ao ter os últimos sopros de vida extraídos por ela, sentiu-se em um forte dia de inverno, mesmo sendo uma ensolarada manhã de primavera. 

Sim, compactuar com Sophia, uma Leanan Sídhe, é quase como se lançar nos braços de sua prima Banshee, a Fada da Morte. Pois não há salvação para estas almas consumidas pela febre de uma vida fora do comum. Enquanto isso, a Rainha do Inverno, famosa por seu coração de gelo e sua incapacidade de amar, se alimenta da energia destes humanos à medida que os inspira na criação de suas obras-primas, até estar completamente abastecida, como um vampiro que suga suas presas para sobreviver. Se assim não agir, Sophia morre.

Assim foi com sua mãe, que se apaixonou por um elfo. Contra todas as expectativas e riscos, eles se casaram. No entanto seu pai não resistiu ao poder da esposa e, logo após o nascimento de Sophia, partiu nos braços da morte, logo seguido por sua amada. A fada loira sabe que este será seu destino se algum dia cair nas armadilhas do amor, algo que lhe parece completamente impossível.

Até o dia em que conhece William, um escritor dotado de raro dom, mas condenado ao anonimato em uma cidadezinha do condado de Cúmbria, Keswick, um lugarejo povoado por lendas e histórias sobre os povos encantados. A princípio ele é apenas mais um doador de energias para Sophia, mas pouco a pouco o jovem intriga a fada. Há algo de diferente no inglês, sua personalidade é tecida por outra substância, distinta da que animava seus antigos amantes.

Quando se dá conta, Sophia está completamente apaixonada por William, sem saber como nem o porquê. Ele corresponde intensamente aos seus sentimentos e, ao contrário dos demais, se tivesse que escolher entre o que sente pela fada e a glória eterna, teria uma opinião bem diferente, apesar de ter perspectivas promissoras quando se candidata ao prêmio literário Helen Beatrix Potter.

Ele odiava o papo de inspiração. Aquela conversinha de sentar pela primeira vez e escrever uma historinha achando estar arrasando. Para ele, escrever era passar dias e noites em claro, lutando com as palavras para conseguir montar algo que, um dia, iria modificar a vida de uma pessoa. Naquele momento, estaria tocando o interior dela. Sua função como escritor e ser humano estaria completa. Mas, nos últimos meses, algo o perturbava. O garoto que nunca foi de fantasiar em suas histórias começou a perceber que inseria seres mágicos nas obras. (...)
Ele sempre achou tudo uma bela maluquice, só que vinha sonhando com um ser que com certeza se tratava de um Sídhe. 

Sophia nunca imaginou que um dia poderia se apaixonar por alguém. E agora, o que fazer? Como impedir que William seja também consumido por seus encantos? Até onde irá a fada para salvar o escritor? E ele, terá forças para morrer por sua amada e ao mesmo tempo preservar a integridade de sua alma? Ou terá o mesmo fim dos outros, o suicídio?

Sophia é uma personagem incomum, uma espécie de anti-heroína. Ora surpreende o leitor com atitudes heroicas e inesperadas, ora o choca com as lembranças de comportamentos sombrios e condenáveis. É capaz de atos nobres e de um desapego ímpar em alguns momentos, porém em outros revela uma postura egoísta e implacável.

Carolina entretece sua narrativa mágica com inúmeras alusões ao universo pop, críticas sutis à indústria cultural, à manipulação e corrupção das almas dos que não resistem às promessas de fama, glória e poder, e com profundas reflexões sobre a natureza espiritual do ser humano, o sentido da existência e o legado histórico e cultural do Homem.

- Eu AMO essa música!
- (...) Essa é a Cold, Cold Heart da Dinah Washington!
- (...) Eu conheço essa música pela Norah Jones.
                                    (...)
- (...) Posso ser o Harry Potter de Keswick. Não ligo. Até se eu fosse um Cullen não iria ligar para os comentários dessa cidade. 
                                    (...)
O que seria o Homem? E o seu legado?
Sophia achava que a História sempre possuiu grande importância na compreensão da humanidade (...) A Leanan achava que se os humanos abandonassem a história, poderia resultar em um rompimento grave com a própria identidade cultural e pessoal do mundo. (...)
William seria uma representação histórica para a cultura de seu povo e do povo das fadas. Ele iria reunir dois povos distintos em uma mesma história. (...) O garoto iria mudar o mundo. Essa seria sua maior herança. 

Uma ideia genial é intitular cada capítulo com o nome ou o trecho de uma música, sempre relacionado ao seu conteúdo. Ícones da cultura nerd estão também aqui e ali ao longo da narrativa, como os personagens de O Senhor dos Anéis e Star Wars, hackers, e o game World of Warcraft.

Também há referências literárias, como uma homenagem à maior autora de literatura infantil de todos os tempos, Beatrix Potter, criadora do inesquecível Peter Rabbit, e musicais: Dinah Washington, Norah Jones, entre outras. Aliás, a autora resgata a própria protagonista de A Fada, Melanie Aine, que tem uma participação especial nesta narrativa.

É divertido tentar descobrir que celebridades se ocultam sob os nomes fictícios, tentando unir as pistas oferecidas pela autora. Mickey, por exemplo, certamente se refere ao cantor Michael Jackson, enquanto Maganus deve ser o alterego de Paulo Coelho. Ao mesmo tempo, é triste relembrar o destino de tantos artistas repletos de energia e talento. Mas, como diz Sophia, sempre há esperança. E oportunidade de redenção.



Carolina Munhóz é jornalista e escritora. Fã da saga Harry Potter, ela foi um dos membros do Potterish, um dos sites mais importantes sobre o célebre bruxo; e teve a oportunidade de conhecer os protagonistas da série ao visitar os Estados Unidos. Nesta ocasião, justamente aos 18 anos, viajou por vários países, entre eles Inglaterra, França, Itália e Suíça.

Suas peripécias atraíram o foco da mídia, tais como Folha de São Paulo, Estadão, TV Cultura, Disney Channel, rádio Record de Londres e Época, revista que a comparou a autoras do quilate de Cassandra Clare e Alexandra Adornetto. Hoje a jovem escritora se dedica de corpo e alma à literatura e atua amplamente nas redes sociais. E é musa de seu próprio autor, que também lhe inspira sem cessar, o marido Raphael Draccon. 


Editora: Fantasy/Casa da Palavra

Autora: Carolina Munhóz

Origem: Nacional

Edição: 1

302 Páginas

Preço: R$ 33,00

Capa: Brochura

Formato: Médio




quarta-feira, 10 de abril de 2013

"Como Dizer Adeus em Robô" (Natalie Standiford)


Esta história tem tudo para se tornar cult também no Brasil. Ela realmente promete! Eu amei a sinopse; aliás, só se encontra algo sobre o livro em inglês. Mas a editora Record promete lançar ainda este mês a versão brasileira. É torcer e já começar a contar os segundos, como eu. 



Nesta história que já se tornou cult nos Estados Unidos, dois jovens desajustados são intensamente atraídos um pelo outro. Jonah é um adolescente solitário e sarcástico. Bea é uma garota incompreendida pela mãe, uma mulher emocionalmente instável que apelida a própria filha de robô quando ela não consegue expressar sua dor diante da morte de seu bichinho de estimação, um gerbo.

Surpreendendo os colegas, o jovem pálido e reservado, maliciosamente chamado de Garoto Fantasma por seus companheiros, se torna amigo da nova aluna do colégio. E todos ficam mais surpresos ainda quando os dois se envolvem em uma intensa relação platônica.

Imediatamente Bea se dá conta de que tem mais afinidade com Jonah do que com as garotas maliciosas e incomunicáveis que a cercam. Ela passa a confiar cada vez mais no novo amigo, mesmo quando seu passado estranho e trágico vem à tona. Certamente os adolescentes, especialmente os que vivem à margem da vida social, vão se identificar com este conto lunático e sombrio.

Além dos detalhes que permitem a este público a identificação perfeita com os personagens, a autora também tece ao longo da trama várias referências culturais, como os filmes dirigidos por John Waters e o músico ‘outsider’ Daniel Johnston. A narrativa em primeira pessoa, conduzida por Bea, vai cativar o leitor e o enredo imprevisível o manterá engajado até a última linha.

Decididamente Natalie criou nesta obra uma anti-história de amor com todos os contornos de uma narrativa cult e um sabor semelhante ao encontrado em outro livro cultuado pelos jovens leitores, As Vantagens de ser Invisível, de Stephen Chbosky. Pode-se afirmar, sem margem de erro, que ela construiu uma narrativa honesta e complexa que não passa por cima de questões perturbadoras.

Os personagens secundários, especialmente os frequentes programas de entrevistas, são retratados com um peculiar humor dissimulado. Certamente os adolescentes terão uma empatia incomum com as emoções intensas de Beatrice e Jonah, e compreenderão mais que ninguém as razões que os levaram a sentir que foram feitos um para o outro.

Natalie Standiford nasceu na cidade de Baltimore, em Maryland, nos Estados Unidos. Ela trabalhou no departamento de Livros Infanto-Juvenis da editora Random House por três anos, passando de assistente editorial a Editora Assistente. Foi um aprendizado perfeito para alguém que, como ela, já alimentava o sonho de ser escritora.

Logo descobriu que não queria ser editora, e sim autora em tempo integral. Em um período de transição, deixou o emprego efetivo e tornou-se freelancer. Iniciou sua trajetória literária escrevendo e-readers, livros de imagens e obras infanto-juvenis. Atualmente está escrevendo para adolescentes. A autora também toca baixo em uma banda chamada Tiger Beat.

Fontes: