quarta-feira, 18 de junho de 2014

"Encantos" (Aprilynne Pyke)

Aprilynne nos conduz por um mundo de sonhos e fantasias, mas não deixa de revelar o outro lado dos universos mágicos. Com maestria ela ao mesmo tempo nos leva às alturas e tece profundas críticas sociais a uma dimensão que conhecemos muito bem. 







Pode parecer inacreditável, mas a sequência da saga Fadas é ainda mais apaixonante. Como os personagens principais já foram apresentados e desenvolvidos, bem como o cenário em que transitam, a autora pode ir agora direto ao ponto. Ela pode até criar outra paisagem e permitir que o leitor se torne cúmplice de Laurel na exploração de Avalon, o universo fantástico que marca suas origens.  

A protagonista adiou ao máximo o reencontro com Tamani após a difícil decisão de permanecer ao lado dos pais biológicos e de David. Por mais que tentasse justificar para si mesma a demora em ir ao encontro do elfo, era o medo que a movia, o medo de não resistir à tempestade emocional que ele sempre lhe provocava.

Porém, uma carta encontrada sob seu travesseiro selou seu destino. Ela deverá passar as férias de verão em Avalon, estudando e aprimorando seus dons de fada de outono. Não se trata de um simples treinamento. Os perigos continuam a rondar o mundo feérico e também a família adotiva de Laurel, sem falar nos seus amigos. Portanto, é essencial que ela desenvolva suas técnicas de cura e de defesa, armando-se com poções e fórmulas poderosas que, em uma emergência, podem fazer a diferença entre a vida e a morte dela e dos seus entes amados.

A princípio, apesar da insegurança e do receio natural, ela se empolga com a ideia de finalmente conhecer Avalon e, quem sabe, resgatar as memórias do passado. Mas logo o contato freqüente com Tamani, que lhe desperta desejos inconfessáveis, provocando culpa e confusão em seu coração angustiado, a pressão dos estudos árduos e a rígida hierarquia social de um universo que deveria transpirar magia e liberdade, começam a sufocar Laurel.

De repente, ela se vê dividida entre dois mundos, e em muitos momentos deseja retornar ao seu lar. Mas também aí nada é mais o mesmo desde que sua família descobriu sua verdadeira identidade. Mesmo sem saber dos riscos que envolvem as mais recentes revelações, já que Laurel preferiu omitir a luta contra os trolls e a verdade sobre Barnes, sua mãe adotiva não se comporta mais como antes. Deixou de ser sua amiga, confidente, e até passou a negligenciar suas responsabilidades maternas. Agora ela se mantém distante e fria, ocupada o tempo todo com uma loja nova, de produtos homeopáticos, aberta ao lado da livraria.

Essa mudança brusca e dolorosa deixa Laurel sem rumo e até um pouco deprimida. Além disso, ela não consegue se sair tão bem na prática da Herbologia Defensiva, o que a deixa mais vulnerável diante de uma provável ameaça dos trolls, e seu coração oscila mais que nunca entre o humano David e o elfo Tamani, e cresce a probabilidade dela magoar um deles ou até mesmo os dois. Enquanto isso, vive apreensiva diante do estranho silêncio de seus adversários.

E é justamente no seu primeiro momento de invigilância que os trolls atacam, deixando Laurel e David à mercê deles. No último momento a misteriosa Klea Wilson salva os dois das garras de seus inimigos. Mas desde o primeiro momento Laurel suspeita das intenções da humana e, apesar dos protestos de David, não consegue confiar nela. Seus pressentimentos se intensificam quando descobre que ela é uma caçadora de seres considerados sobrenaturais.

Klea insiste em protegê-la e a presenteia com uma arma. Apesar de Laurel recusar-se a usá-la, David a guarda para um momento de real necessidade. Sua empolgação com os armamentos, porém, revela uma face dele que a protagonista desconhecia. Isso a assusta e a aproxima mais de Tamani.

Um novo convite para uma festa em Avalon complica ainda mais esse contexto perturbador, principalmente quando ela decide ir sem contar nada aos pais e principalmente a David. Ao transpor esse limiar, ela põe em risco tudo que mais ama e suas convicções mais profundas. Haverá retorno após esse passo impulsivo? Algum dia sua vida voltará a ser a mesma? Seus inimigos terão a oportunidade de se aproveitar desse seu momento de fragilidade?

A autora nos revela, neste segundo volume, toda a beleza e sedução do universo das fadas, mas não poupa o leitor de outra visão desse mundo. Os seres mágicos não são tão encantadores e livres como poderíamos imaginar. Eles se dividem no que se poderia chamar de castas, rigidamente estruturadas. As fadas e elfos de Inverno, restritos a duas ou três criaturas, governam essa dimensão, estabelecem as regras sociais e protegem os portais de Avalon contra os invasores.

Os seres de Outono, por seu intelecto privilegiado e seus estudos exaustivos, formam a elite de Avalon. Eles se dedicam apenas à aquisição de conhecimento e à produção das ervas, loções, tônicos nutritivos e poções que salvarão vidas. Os serviços gerais cabem à maior população, a das fadas e elfos de Primavera, como Tamani, já que os de Verão se dedicam à arte, à criação.

Laurel não se conforma com a maneira como os seres de Primavera e Verão são tratados; ela crê que são menosprezados e se insurge contra a etiqueta social de Avalon, protagonizando momentos de grande constrangimento, principalmente para Tamani, que, entre outras coisas, é obrigado pelas regras a caminhar atrás de Laurel, jamais ao seu lado. Todavia, a liberdade extravasa na arte e nos relacionamentos amorosos entre fadas e elfos. Ao pensar em seu futuro, Laurel considera cada vez menos a possibilidade de ir para a Academia de Avalon.

Só há um porém nessa trama inteligente e mágica. A autora deixa o leitor cada vez mais eletrizado e no final, após roermos as unhas e nos enredarmos em mais doses de mistério, ela nos deixa no ar, à espera da leitura do terceiro livro, Ilusões, algo que faltou no primeiro volume. Aliás, ela nos reserva uma surpresa e tanto nas últimas páginas de Encantos.



Aprilynne Pike nasceu na cidade de Salt Lake City, em Utah. Ela sempre foi fascinada pelo universo feérico. Some-se a isso sua criatividade frenética, e o resultado é uma escritora que aos vinte anos já traz em seu currículo uma especialização em Escrita Criativa na Faculdade Lewis-Clark, em Lewiston, Idaho. A autora é casada e tem três filhos, e com eles vive, atualmente, no Arizona.

Autora: Aprilynne Pyke

Origem: Nacional

Edição: 3ª

305 Páginas

Preço: R$ 25,50

Capa: Brochura

Formato: Médio









quinta-feira, 12 de junho de 2014

"O Enigma das Estrelas" - F. T. Farah

Oi, pessoal, não foi fácil ficar tanto tempo longe do Prosa. Novos desafios me levaram a deixar de lado o meu blog. Melhor assim do que não poder cuidar dele com o carinho que os leitores merecem. Passei esse tempo criando histórias, publicando contos em antologias, me dedicando ao trabalho e a um bebê que está prestes a nascer: minha primeira ficção. Agora estou de volta e não pretendo mais me distanciar de vocês. Resgato minhas impressões literárias com a eletrizante aventura composta por um promissor autor nacional, F. T. Farah. Espero que também gostem de um bom mistério espacial. 


Dez anos depois, F. T. Farah resgata sua história espacial e lhe dá uma roupagem nova, preservando sua essência, porém modernizando-a, procurando cativar as novas gerações ao mesmo tempo em que se mantém fiel ao seu público de carteirinha.

O Enigma das Estrelas compõe o primeiro volume da série que o autor intitula Clube dos Mistérios. A trama gira em torno de cinco amigos, Jonas, Alfredo, Vicentinho, Carola e Carmem, originários de vários pontos do Brasil e que só se encontram uma vez por ano, durante as férias de julho, na pitoresca cidade mineira de Morro do Ferro.

Seus pais são amigos de longa data; cada um deles constituiu sua própria família e voou rumo a um destino diferente, enquanto seus ancestrais permaneceram em Morro do Ferro.
Jonas, de São Paulo, forma um par romântico com Carola, a jovem de Ribeirão Preto. Eles perpetuam uma tradição familiar que se perde no passado, em uma história repleta de segredos.

Nilton, pai de Jonas, e Sofia, mãe de Carola, mantinham um romance na juventude, mas suas famílias impediram-lhes de levar adiante o relacionamento, apesar dos dois serem completamente apaixonados. Essa trama nebulosa ecoa ainda no presente. Murilo, pai de Carola, morre de ciúmes do rival, e a adolescente hesita em aceitar o pedido de namoro de Jonas, embora não pare de pensar nele por um só instante.

Carola olhou para Jonas sem jeito e arriscou perguntar: 
- E por que eles não ficaram juntos?
- É um mistério. Nem eu mesmo sei. 
- Eu sei - gabou-se Alfredo. 
- Por que? - Carola e Jonas perguntaram ao mesmo tempo. 
- É segredo. Meu pai me contou e disse pra eu não abrir a boca pra ninguém. 
Jonas e Carola olharam para o amigo de São Carlos, tentando, em vão, extorquir o segredo de seus pais. 

Murilo é irmão de Bento, um dos raros moradores de Morro do Ferro que ainda não viu um disco voador ou, pelo menos, luzes estranhas no céu. A narrativa se inicia justamente no momento em que ele, do alto de seu ceticismo, censura em pensamentos um dos conterrâneos, Rui, que alega ter sido abduzido e submetido a terríveis experimentos científicos por alienígenas mal-intencionados. De alguma forma ele conseguiu fugir e nunca mais foi o mesmo, extravasando suas angústias e traumas no álcool.

Nesse momento, Bento passa por uma experiência inesquecível que o marcará para sempre. Ele é perseguido por uma luz no céu. Tenta atirar no disco que sobrevoa seu carro, em vão. Então ele vê um dos aliens e um ser que lhe é muito familiar, mas que somente no final do livro o leitor saberá quem é. Vozes misteriosas soam em seus ouvidos, mas Bento se recusa a revelar que estranhas palavras o abalaram tanto.

É nas canções de Raul Seixas, autor de uma das músicas que ele ouviu durante o encontro, que ele busca desvendar esse enigma das estrelas. Bento acredita que ele é um profeta, e que a Sociedade Alternativa, pregada em suas canções, seria uma era de domínio dos extraterrestres.



Murilo, por sua vez, se torna inflexível diante de seu ceticismo. Recusa-se a crer em qualquer das histórias e lendas que povoam a cidade; despreocupado, incentiva Jonas a acampar com os amigos no alto do Morro dos Anjos. Ele convence os outros pais a liberar seus filhos para essa aventura, defendendo que é a forma ideal de lhes proporcionar um rito de passagem, um processo de amadurecimento.

- Proponho que nossos filhos façam uma atividade saudável nestas férias. Acampar, por exemplo. O que vocês acham? - Nilton sugeriu aos outros pais, esperando uma resposta imediata. 
- Como? Eles vão ficar sozinhos no meio do mato? - preocupou-se Estela, a mãe de Carmem. 
                                         (....)
- Quem será o responsável por eles quando a gente não estiver lá? 
- Meu filho. Ele é o mais velho da turma e, por isso, acredito que esteja mais apto para assumir a tarefa - respondeu Nilton. 

Jonas é o mais velho dos jovens, portanto torna-se o líder da turma, embora seja contestado por Alfredo, órfão de mãe e revoltado com o pai, Antonio, por não ter lhe permitido permanecer em São Carlos, onde planejava conquistar a garota por quem se apaixonou. Ele se alia a Vicentinho, o caçula do grupo, na tentativa de impedir que Jonas domine o grupo. Carmem também é um obstáculo no caminho do paulistano, pois está o tempo todo ao lado de Carola, dificultando o relacionamento de ambos.

Mas, acima de qualquer disputa entre eles, pairam ameaças sombrias. O perigo ronda seus pesadelos e seus corações. Jonas planejava assustar os amigos e se exibir diante de sua amada com as histórias narradas por seu pai, mas as velhas lendas se tornam reais demais.

 De repente, Jonas se torna o protagonista de uma guerra ancestral entre os ETs e de uma história sobrenatural que envolve um padre queimado na praça central de Morro do Ferro. Na época, o sacerdote lançou uma maldição sobre a cidade. Foi a partir desse momento que o povoado mineiro passou a ser assediado pelas estranhas luzes e por misteriosos reptilianos, que prometem assombrar os cinco amigos não somente durante os dias em que permanecem acampados, mas pelo resto de suas vidas.

 E alguns dos adultos também parecem guardar segredos arrepiantes, que podem ajudar a montar o quebra-cabeça que intriga o recém-criado Clube dos Mistérios, disposto a desvendar o enigma das estrelas.

Não houve resposta. Forçou a vista e conseguiu ver três sombras projetadas na lona da barraca. 
"Você é o escolhido", ouviu dentro de sua cabeça. 
- Saiam daqui! - berrou, desesperado. 
"Você é o escolhido."
- Socorro! - gritou, querendo acordar os amigos para ajudá-lo. 
No quarto das meninas, Carmem sentiu o chão tremer. 

O autor sabe como ninguém envolver o leitor, mantendo-o preso à leitura até a última linha. Ele é mestre na arte de criar mistérios, tensão e suspense. Resta agora aguardar com ansiedade o segundo volume. E que ele venha com todos os anexos dispostos ao longo do livro, trazendo mais dados sobre filmes, músicas, livros e tudo que envolve os campos da ufologia e da ficção científica. Perfeito para os fãs. E o livro ainda apresenta as ilustrações geniais de Samuel Casal.

F. T. Farah é paulistano, graduado em Jornalismo, aficionado por seres das estrelas e naves espaciais. Ele revela uma estranha preferência pelos reptilianos. Mas também publicou crônicas, outras histórias infanto-juvenis e ficção para adultos. Afinal, ele precisa driblar os Homens de Preto.


Editora: Geração Jovem

Autor: F. T. Farah

Origem: Nacional

Edição: 1

160 Páginas

Preço: R$ 26,90

Capa: Brochura

Formato: Médio