Nunca me vi sem palavras para falar sobre um livro, e raras obras mexeram tanto com minhas emoções. Essa história, repleta de poesia e magia, virou meu mundo de cabeça para baixo. Lia e relia os parágrafos e adiava o virar das páginas, pois não queria chegar ao final, embora ansiasse por conhecer seu desfecho.
Mesmo assim, percorri suas 409
páginas em um piscar de olhos. E, quando alcancei as linhas finais, queria
recomeçar a leitura. É o tipo da história que eu desejaria contar em voz alta,
ao redor de uma fogueira, compartilhar suas curvas, nuances, surpresas, pois a
autora gerou uma trama tão intensa que não poderia caber em um só coração.
Eu ri, chorei, roí as unhas, me
emocionei e, no meio da história, meu queixo caiu. Geralmente eu adivinho o que
vai acontecer nos livros, filmes, séries e novelas. Chega até a ser chato. Mas
não em Crônicas de Amor e Ódio.
Quando achei que tinha encontrado
o fio da história e que a travessia seria tranquila, uau! A trama dá tamanha
guinada que cheguei a ficar atordoada. Descubro, de repente, que nada, nem
ninguém, é o que parece ser e, a partir daí, uma nova jornada se inicia.
Desde o início o leitor sabe que
não está diante de um conto de fadas, embora a protagonista seja uma princesa.
Mas de forma alguma Lia se comporta como alguém da realeza. Destinada pela
família a se casar com um príncipe que jamais teve a oportunidade de conhecer,
ela se revolta e, seguindo os impulsos de sua natureza rebelde, foge poucas
horas antes da cerimônia.
Lia leva consigo apenas o sonho
de conhecer uma terra nova, onde ela seja apenas uma simples garota de 17 anos,
e não a Primeira Filha da Casa de Morrrighan, fadada a selar a paz entre dois
reinos. A jovem acredita não ter o Dom, algo que se exigia das Primeiras
Filhas. Porém, na verdade, ela descobre, ao longo de sua jornada, que jamais
soube o que era realmente o Dom.
Morrighan era uma jovem líder dos
Remanescentes, aquela que os guiou para uma espécie de terra prometida após a
quase destruição de seu mundo. Ela deu início a gerações de sucessoras,
mulheres que supostamente deveriam ter o mesmo Dom da ancestral de Lia.
É a esse universo sobrecarregado
de tradições que Lia deveria pertencer, mas a princesa acredita não se encaixar
neste contexto. Algo em si a leva a rejeitar sua missão, mas ao partir na
companhia de Pauline, sua dama de companhia e melhor amiga, ela leva também,
quase sem querer, dois obscuros livros, escritos em um idioma estranho.
A princípio, parecia apenas um
ato de vingança contra o Erudito, um dos membros do Conselho do Rei, que não
ocultava seu ódio pela princesa. Mas, à medida que vai decifrando sua mensagem,
originária de terras distantes, do Reino de Venda, berço de povos bárbaros, Lia
começa a compreender um pouco melhor as tradições e qual o seu verdadeiro papel
nessa história.
Porém, enquanto busca a si mesma
e crê estar realizando seus sonhos em Terravin, ela não imagina que o Príncipe
de Dalbreck, intrigado com sua decisão inesperada, decidiu seguir seus passos e
tentar entender quem era aquela garota que ousava abandoná-lo no momento do
casamento.
Enquanto isso, nem Lia, nem o
Príncipe, sequer suspeitam de que um temerário assassino também foi enviado por
Venda para encontrar a princesa. E nenhum dos três, ao traçar seus planos,
poderia contar com a interferência das armadilhas do coração em seus caminhos.
Embora os personagens masculinos
sejam fascinantes e sedutores, a força feminina prepondera nos meandros desta
história. Não só a de Lia, mas a de suas ancestrais - Morrighan, Gaudrel, Venda
– e também a de suas companheiras de jornada. O leitor logo percebe que a
fragilidade de Pauline é mera ilusão e outras guerreiras cruzarão igualmente os
caminhos da protagonista, surpreendendo por sua força e determinação.
É através dos relatos ancestrais
que o leitor conhece o passado dos povos de Morrighan, Dalbreck e Venda. A
autora intercala a trama com trechos de Os Últimos Testemunhos de Gaudrel, o
Livro dos Textos Sagrados de Morrighan e A Canção de Venda. Aliás, Mary Pearson
vai além; um pouco como Tolkien, de O Senhor dos Anéis, ela cria o idioma de
Venda, algo que realmente me impressionou. A trama principal, por sua vez, é
narrada sob três pontos de vista, o de Lia, o do Príncipe e o do Assassino, o
que é fantástico, pois nos permite saber o que se passa no interior de cada um
deles.
O trabalho da editora dá o toque
final nesta obra genial. A edição em capa dura, que traduz com perfeição a
atmosfera da história; a diagramação; o mapa do universo fantástico estruturado
pela autora, e outras pequenas surpresas, revelam o trabalho impecável da Dark
Side Books.
Mary E. Pearson é uma premiada autora que vive no sul da
Califórnia. Ela já é reconhecida por seus sete livros destinados ao público
juvenil — entre eles a série The Jenna Fox Chronicles -, e é graduada em artes
pela Long Beach State University, além de ser mestre pela San Diego State
University.
Apaixonada pela missão de ser
mãe, ela ama caminhar, cozinhar e viajar por lugares desconhecidos. Hoje Mary
escreve em tempo integral e reside em San Diego, ao lado de seu marido e de
seus dois cachorros.
Ah! Em tempo! O segundo volume, The Heart of Betrayal, será lançado no
final de outubro. E já está em pré-venda.
Editora: Dark Side Books
Autora: Mary E. Pearson
Origem: Nacional
Edição: 1ª
409 Páginas
Preço: R$ 30,70
Capa: Brochura
Formato: Médio