quarta-feira, 25 de maio de 2011

"Só Garotos" (Patti Smith)





Patti Smith sonhava com uma canção que despertasse os mortos, mas neste livro ela foi além ao recriar e eternizar a imagem do artista Robert Mapplethorpe. Ela cumpriu a promessa feita ao amigo, amante e companheiro de todos os momentos; antes de sua morte, jurou que imortalizaria a história de ambos em uma teia de palavras e imagens.

Por que não consigo escrever algo que faça despertar os mortos? Essa busca é o que arde mais fundo. Superei a perda de sua escrivaninha e da cadeira, mas nunca o desejo de produzir uma corrente de palavras mais valiosa que as esmeraldas de Cortés.
Ao acompanharmos a trajetória deste inusitado casal temos a impressão de que ambos nasceram já predestinados a um encontro que transformaria radicalmente suas existências e deixaria uma marca significativa na produção artística dos efervescentes anos 60 e 70 em Nova Iorque.
Ambos nasceram no mesmo ano, em 1946, numa segunda-feira; ela na véspera de ano-novo, em Chicago; ele no dia 4 de novembro, na cidade de Long Island. Robert era fruto de uma família conservadora e católica, enquanto Patti desfrutava de um ambiente mais liberal, embora primasse pelas constantes dificuldades financeiras. Os dois tinham uma atração irresistível pelos ícones do catolicismo.
Desde a infância Patti e Robert cultivavam um fascínio especial pelo belo; criada em Nova Jersey, a futura poeta e performer descobria aos poucos o valor da beleza e a rebeldia do rock and roll; mais tarde ela faria uma fusão histórica deste ritmo subversivo e do poder da poesia, inspirada em Bob Dylan e no poeta francês Arthur Rimbaud.
Foi minha entrada na radiância da imaginação. (...) Bem no fundo de mim mesma, com a simetria de um floco de neve girando acima de mim, intensificando-se através das minhas pálpebras, capturei o mais valioso suvenir, um caco do caleidoscópio do céu.

 Robert, por sua vez, despertava precocemente sua irresistível atração pelas artes visuais, encantado com jogos de luzes e sombras, tons e brilhos, ornamentos e revestimentos. Além disso, ele adorava chocar as pessoas com seus desenhos preenchidos por cores inusitadas, combinações que intrigavam as pessoas e provocavam as mais diversas reações; o inquieto e polêmico artista já estava presente no garoto que se dedicava a produzir camafeus e colares de miçangas.
A luz caiu sobre as páginas de seu livro de colorir, sobre suas mãos de criança. Ele ficava animado ao colorir, não com o ato de preencher o espaço, mas com a escolha de cores que ninguém mais escolheria. (...) Era um desenhista nato e secretamente distorcia e tornava abstratas suas imagens, sentindo seu poder aumentar. Era um artista, e sabia disso.

Patti, aos vinte anos, decide partir para Nova Iorque com uma bagagem singela e nada no bolso, com exceção de algum dinheiro para comprar sua passagem, o qual, aliás, ela complementa com a ajuda do anjo do destino que a guia até a cidade dos artistas. A jovem sulista espera contar com o apoio de amigos que moram no Brooklyn, mas eles já não estão mais no mesmo endereço; é neste momento que ela vê Robert pela primeira vez.
A garota sonhadora, que alimenta o desejo de ser artista, mas ao mesmo tempo não compartilha da loucura de outros amantes da arte, vai se unir algum tempo depois ao garoto sensível e delicado, belo como um anjo, que alimenta em sua alma um turbilhão em constante ebulição, um ser mutante que tenta dolorosamente expressar a forma de cada pensamento que atravessa sua mente.
Ele seria uma capa comprida, uma pétala de veludo. Não era o pensamento mas a forma do pensamento que o atormentava. Entrava nele como um espírito horrível e fazia seu coração bater pesado, descompassado, sua pele vibrar e ele se sentir sob uma máscara fantasmagórica, sensual mas sufocante.
Juntos eles atravessam os períodos mais difíceis de suas vidas, a penosa busca pela expressão artística, por um sentido existencial, pela tradução de seus anseios. Enquanto Robert é movido pelo desejo de compreender sua ambígua sexualidade, por uma ambição que se traduz no afã de ser reconhecido e de conquistar a independência financeira, Patti é mobilizada pelo sonho de fazer a diferença com sua arte, de lutar pela justiça e revolucionar o mundo com as armas da poesia e do rock and roll.


O casal vive inicialmente no Brooklyn, uma fase ingênua e romântica; aos poucos, porém, Robert se torna sombrio, o que se reflete em seu trabalho; seu comportamento provoca a primeira e única ruptura entre ambos. Nesta época Patti vai a Paris pela primeira vez ao lado de sua irmã Linda.
Não me importava trabalhar na obscuridade. Eu era apenas uma estudante. Ao passo que Robert, embora tímido, não verbal e aparentemente desconectado dos outros a sua volta, era muito ambicioso. Ele considerava Duchamp e Warhol seus modelos. A grande arte e a alta sociedade; ele aspirava a ambas. Éramos uma mistura curiosa de Cinderela em Paris e Fausto.
Ao voltar para Nova Iorque ela se une novamente a Robert, apesar de já estar ciente de sua homossexualidade. Após uma breve e terrível passagem pelo decadente Hotel Allerton, o pior estágio de suas vidas, eles seguem para o Hotel Chelsea, o recanto dos boêmios e artistas nova-iorquinos.
Esta é a etapa que propicia a Patti e Robert o necessário amadurecimento pessoal e artístico. Por este refúgio passaram, entre outros, Jimi Hendrix, Janis Joplin, o escritor Arthur C. Clarke, o poeta Dylan Thomas, Bob Dylan, William Burroughs, Edie Sedgwick, entre outros.
O Chelsea parecia uma casa de bonecas de Além da imaginação, com uma centena de quartos, sendo cada um deles um pequeno universo. Eu vagava pelos corredores tentando encontrar seus espíritos, mortos ou vivos. Minhas aventuras eram algo sorrateiras, como entreabrir uma porta e ver de relance o piano de cauda de Virgil Thompson, ou ficar par ada diante da porta de Arthur C. Clarke, torcendo para que ele talvez surgisse de repente. (...) Tanta gente escreveu, falou e convulsionou nesses quartos vitorianos de casa de boneca.
Algum tempo depois eles conseguem alugar um loft a poucas quadras do Hotel, onde cada um tem seu próprio espaço de morada e criação. Quando, porém, com o passar dos anos, o bairro se torna decadente e violento, inicia-se uma nova fase na vida de ambos. Robert assume discretamente o relacionamento com o mecenas e colecionador de arte Sam Wagstaff Jr., que o instala em um loft na Bond Street, futuro point artístico, onde ele se dedica de corpo e alma à fotografia, definitivamente seu campo de atuação mais importante, ao lado do desenho, da pintura e de suas colagens.
Patti se une ao músico Allen Lanier, tecladista da banda que viria a ser conhecida como Blue Öyster Cult. Ele a convida para morar em um apartamento na East Tenth Street, bem próximo da St. Mark’s Church, onde ela realizou com sucesso seu ritual de iniciação pública no mundo da poesia, e a algumas quadras da morada de Robert.
Se um dia eu fosse apresentar meus poemas, ali seria o lugar. Meu objetivo não era simplesmente ler bem ou garantir minha presença. Era deixar minha marca na St. Mark. Fiz isso pela Poesia. Fiz por Rimbaud, e fiz por Gregory. Eu queria infundir o mundo da escrita com a urgência e o ataque frontal do rock and roll.
Enquanto o fotógrafo mergulha cada vez mais fundo no submundo sexual, matéria-prima de suas criações, Patti ingressa gradualmente no universo musical. Patti Smith encontra finalmente seu caminho no definitivo vínculo entre poesia e música, e seu álbum Horses, de 1975, foi eleito pela revista Times como um dos cem melhores de todos os tempos.


O livro tem início com a morte de Robert, e é assim que Patti conclui sua obra, tentando dizer adeus a sua estrela azul, que estará sempre brilhando em um céu pintado pelo artista, imortal em sua criação e perpetuado no trabalho da eterna companheira, não só nos desenhos hoje reconhecidos até mesmo pela Fundação Cartier de Paris, mas também em sua obra poética e na produção musical consagrada.
Dissemos adeus e saí do quarto dele. Mas algo me atraiu de volta. Ele caíra em um sono leve. Fiquei ali parada olhando para ele. Pacífico, como uma criança antiga. Ele abriu os olhos e sorriu. "Já voltou?" E tornou a dormir.
E assim minha última imagem foi a primeira. Um jovem adormecido sob um manto de luz, que abriu os olhos com um sorriso de reconhecimento para alguém que nunca fora uma estranha para ele.
Patti vive atualmente em Detroit, ao lado do marido, o músico Fred Sonic Smith, com quem tem dois filhos, Jackson e Jesse Paris. Entre seus livros estão Babel e Auguries of Innocence.

Editora: Companhia das Letras
Autor: Patti Smith
ISBN: 9788535917765

Origem: Nacional

Ano: 2011

Edição: 2

Número de páginas: 272

Acabamento: Brochura

Formato: Médio

Volumes: 1

domingo, 22 de maio de 2011

"Beautiful Creatures - Dezesseis Luas" (Margaret Stohl/Kami Garcia)



Olha só, pessoal, esta série promete ser a melhor no estilo da ficção sobrenatural, a julgar pelo que o primeiro livro, Dezesseis Luas, provoca no leitor. Cada página é um manjar saboroso que nosso olhar percorre não apenas com a obrigação de seguir adiante até alcançar a última linha, mas também e principalmente com o prazer supremo da leitura de uma narrativa que nos envolve, seduz e hipnotiza, como um ato mágico.
O vestido de Lena caía sobre o corpo, justo nos lugares certos mas sem parecer coisa do Little Miss, em um tecido prateado, tão delicado quanto uma teia de aranha prateada, tecida por aranhas prateadas.
A história é narrada na primeira pessoa por um adolescente – sim, desta vez o ponto de vista é masculino, cedendo voz à esfera feminina em apenas uma passagem da trama; mesmo assim é possível ouvir Lena, que divide o espaço principal do enredo com o narrador, Ethan, como se ela estivesse se dirigindo diretamente ao leitor, tal a sintonia desenvolvida entre estas almas unidas pelas forças que regem o destino.
Tudo se passa no condado de Gatlin, na Carolina do Sul, uma pequena comunidade que, como descreve o protagonista no prólogo, parece estar perdida no meio do nada; em sua superfície é um lugarejo parado no tempo, preso nas teias do passado, no período da Guerra Civil norte-americana ou Guerra da Secessão, quando o Norte e o Sul lutaram entre si.
Gatlin não era um lugar complicado; Gatlin era Gatlin. (...) Nada mudava nunca. Amanhã seria o primeiro dia de aula, no segundo ano do ensino médio na escola Stonewall Jackson High, e eu já sabia tudo que iria acontecer: onde eu me sentaria, com quem eu falaria, as piadas, as garotas, quem estacionaria onde.
Não havia surpresas no condado de Gatlin. Éramos nada mais nada menos do que o epicentro no meio do nada.
Seus habitantes vivem em função de uma história nada gloriosa, na qual seus ancestrais se rebelaram contra a União, unidos em uma Confederação, com o objetivo de defender sua postura escravagista, essencial para desenvolver a cultura do algodão, uma compensação por seu atraso econômico em relação ao Norte.

Naturalmente eles foram derrotados; e durante o confronto muitas vidas se perderam. Mesmo assim as mulheres ainda se unem em instituições como o FRA, Filhas da Revolução Americana, na qual cada integrante tem que ser realmente descendente de um patriota desta Revolta. Os homens, por sua vez, se preparam todo ano para a Encenação da Batalha de Honey Hill, um dos poucos episódios da Guerra Civil no qual foram vitoriosos. Para isso eles desenterram os uniformes e armas de seus ancestrais e recriam a atmosfera de uma era da qual não conseguem se libertar.
As encenações da Guerra Civil são um fenômeno bizarramente estranho, e a Encenação da Batalha de Honey Hill não era exceção. (...) Quem queria correr por aí atirando com armas antigas que eram tão instáveis que eram famosas por estourar membros das pessoas quando disparadas? (...) Quem ligava para recriar batalhas que aconteceram em uma guerra que ocorreu há quase 150 anos e na qual o sul não venceu? Quem faria isso?
Em Gatlin, e na maior parte do sul, a resposta seria: seu médico, seu advogado, seu pastor, o cara que conserta seu carro e o que entrega sua correspondência, provavelmente seu pai, todos seus tios e primos (...) e certamente o dono da loja de armas da cidade.
Neste cenário sufocante Ethan Wate sente-se profundamente deslocado; órfão de mãe, herdeiro de seu espírito rebelde e independente, abandonado pelo pai, que vive trancado no escritório, supostamente escrevendo um livro interminável, desde a morte da esposa, e criado por Amma, uma mulher misteriosa que segue a tradição familiar de se comunicar com os espíritos e guarda em sua mente um arsenal infinito de feitiços e vodus protetores, o jovem sonha em partir de Gatlin assim que terminar o colégio.
É então que ele conhece Lena, a garota que chega à cidade para subverter os acontecimentos e revelar o que se esconde nas entranhas da província; Ethan vai descobrir, pouco a pouco, que nada é o que parece ser e Gatlin não é simplesmente um recanto perdido no meio do nada.
Lena é a sobrinha de Macon Ravenwood, proprietário da fazenda mais antiga da região; embora sua família seja praticamente a mais tradicional de Gatlin, é vista com desconfiança e mal-estar por todos da cidade, pois o tio da jovem está recluso em sua propriedade há mais de quinze anos. Sua casa e suas terras são consideradas mal-assombradas e as mais terríveis e macabras histórias circulam sobre o que se passa no interior de Ravenwood.
Um rabecão. Fiquei paralisado.
Então ela se virou, e pela janela aberta pude ver uma garota olhando em minha direção. Pelo menos pensei ver. (...) O mau presságio não era apenas um rabecão. Era uma garota. (...)
Macon Melchizedek Ravenwood era o recluso da cidade. Vamos apenas dizer que eu lembrava o bastante de O Sol é para Todos para saber que o Velho Ravenwood fazia Boo Radley parecer um cara extremamente popular. Ele morava em uma casa velha em ruínas, na fazenda mais antiga e abominável de Gatlin, e acho que ninguém o via desde antes de eu nascer ou mais.
Como toda pequena comunidade, os habitantes de Gatlin hostilizam Lena desde o início, com exceção de Ethan e de seu melhor amigo, Link. Ao conhecê-la, o protagonista percebe imediatamente que ela é a garota que invade seus sonhos todas as noites, desde a morte da mãe. Na verdade são pesadelos nos quais constantemente ele tenta salvá-la, mas Lena escapa de suas mãos e cai em um terrível abismo.
A partir deste momento sentimentos como medo, intolerância, ódio e preconceito despertam em Gatlin, direcionados a Lena e a quem permanecer ao seu lado. Ela traz em seus olhos verdes temíveis tempestades, não só no sentido metafórico, mas também literalmente. Estranhos acontecimentos se desencadeiam naquela que parecia ser uma pacata cidade, e Ethan vai finalmente descobrir a outra Gatlin que se oculta sob a que sempre conheceu.
Mas ninguém acreditou que a explicação podia ser uma janela velha e o vento. Acreditavam mais na sobrinha de um velho e uma tempestade com relâmpagos. A tempestade de olhos verdes que tinha acabado de se mudar para a cidade. O furacão Lena. Uma coisa era certa: o tempo tinha mudado mesmo. Gatlin nunca tinha visto uma tempestade assim. (...)
Mas alguém tinha que fazer alguma coisa. Uma escola inteira não podia derrubar uma pessoa assim. Uma cidade inteira não podia derrubar uma família. Só que, na verdade podiam, porque sempre tinham feito isso.

De suas descobertas vai depender seu futuro ao lado de Lena, e o da própria jovem, que luta contra o relógio, pois uma terrível maldição paira sobre a noite de seu aniversário de 16 anos. Para salvar seu amor, Ethan tem não só que vencer o tempo presente, mas também o passado, enraizado no período da Guerra Civil, além das proibições de suas famílias.
Este é um livro sobre a força do amor contra as fogueiras da intolerância, as sombras e luzes presentes em cada um, o poder das nossas escolhas, a oportunidade de conhecer e aceitar o outro e a diferença, ao invés de reencenar constantemente a velha história das Inquisições.
Um mês antes, eu não teria acreditado, mas agora eu sabia bem. Aqui era Gatlin. Não a Gatlin que eu achava que conhecia, mas alguma outra Gatlin que aparentemente tinha ficado escondida bem à minha vista o tempo todo. (...)
Parecia não haver nada inacreditável demais para esta Gatlin. É engraçado como a gente pode morar em um lugar a vida toda e mesmo assim não vê-lo de verdade.
Sua narrativa poética nos envolve – aliás, a literatura, especialmente a poesia, entretece com intensidade a trama eletrizante que nos prende do início ao fim da leitura; e o mais incrível é que, após percorrer 485 páginas, nosso maior desejo, no final, é que a história não termine; aliás, já poderíamos embarcar sem hesitar em sua sequência.
Esta obra é fruto da parceria de duas novas autoras que realmente prometem em termos de talento e de sintonia. Kami Garcia é a garota sulista, traz em sua alma as mais variadas crendices, adora assar pães e tortas. Como diversos personagens da narrativa, ela também é descendente de patriotas da Guerra e alguns de seus familiares integram As Filhas da Revolução Americana. Ela é mestre em Educação.
Margaret Stohl nos lembra Lena, pois enfrentou igualmente inúmeros problemas desde os seus 15 anos. Ela trabalhou muito tempo escrevendo e elaborando videogames populares. Apaixonada por literatura americana, a escritora é mestre em inglês na Universidade de Stanford e estudou escrita criativa. Este é o primeiro romance de ambas, que moram na Califórnia com seus familiares.


Editora: Galera Record

Autor: Kami Garcia e Margaret Stohl

ISBN: 9788501086914

Origem: Nacional

Ano: 2010

Edição: 1

Número de páginas: 490

Acabamento: Brochura

Formato: Médio

Volumes: 1

terça-feira, 17 de maio de 2011

"Os Imortais - Chama Negra" (Alyson Noël)

Olha só, pessoal. Embora eu já tenha lido os volumes anteriores da série Os Imortais, vou postar primeiro o livro 4, Chama Negra, porque este é, sem dúvida, o melhor até agora, e estou louca para compartilhar com vocês minhas impressões. Mas prometo postar os outros depois, ok?



Ao que parece, a série Os Imortais fica melhor a cada livro, e certamente Chama Negra é o melhor de todos até agora. Nesta sequência, Ever sofre as consequências das atitudes tomadas no final de Terra de Sombras, quando apelou para a magia com propósitos completamente egoístas.
Como a autora deixa claro neste volume, a magia tem como objetivo manipular energia, não pessoas. Quando a protagonista tenta amarrar Roman a si mesma, com o objetivo de controlar sua mente e, assim, induzi-lo a lhe devolver o antídoto que permitiria a consumação física de seu amor por Damen, o feitiço vira contra a feiticeira e ela é que fica sob o domínio do cruel imortal.
Mas Ava, como sempre, resolve ignorar meu comportamento e prossegue como se eu nada tivesse dito:
- aprendi que a magia, como a materialização, é apenas a simples manipulação da energia. Mas, enquanto a materialização normalmente é reservada à manipulação da matéria, a magia, pelo menos em mãos erradas... (...) Bem, se não for praticada corretamente, com a intenção adequada, tende a manipular pessoas, e é aí que começam os problemas.
Ever se torna totalmente obcecada por seu adversário; seus pensamentos, sonhos, desejos e ambições se voltam exclusivamente para os olhos azuis e a pele bronzeada de Roman; no momento em que olha para ele, a chama negra acesa em seu íntimo brilha com uma intensidade à qual ela não pode resistir.
Aos poucos a jovem imortal é dominada pelo que ela acredita ser um monstro alheio a ela, mas na verdade é seu próprio lado sombrio, desperto por seu envolvimento com magia negra. Ever não tem consciência de que esta face obscura esteve sempre presente em seu íntimo, pronta para emergir ao primeiro impulso favorável.

Porque Roman está certo. Total e completamente certo. O único motivo pelo qual perdi, pelo qual não consegui o que queria, é o fato de o monstro ser eu, não há diferença entre nós. Ele é responsável por toda a ação, por todas as decisões, enquanto eu apenas acompanho, sem saber como pisar no freio ou dar o fora.
(...) A fera está dentro de você, Ever, porque você a colocou aí dentro. Mas, acredite, pode se livrar dela com a mesma facilidade.


Ever percorrerá uma árdua e dolorosa jornada de dor, desespero, ilusão, erros, frustrações, equívocos, escolhas erradas, até compreender o processo de amadurecimento que atravessa por entre espinhos e abismos, o qual lhe permitirá alcançar o conhecimento e o domínio de si mesma. Enquanto isso, ela revê antigos conceitos e se liberta de ressentimentos e preconceitos.
Esta travessia não prescinde da passagem pelas sombras, um território definido pelo psicólogo Carl Gustav Jung como o eu sombrio, que reside dentro de cada um de nós, inconsciente e reprimido, rejeitado pela nossa consciência. Esta é a chama negra com a qual Ever não tem a mínima intenção de se identificar, pois é sempre mais fácil culpar forças externas pela ação de nossas próprias disposições internas.

- Um lado sombrio? - Olho para ela, lembrando-me de ter ouvido algo similar há algumas horas. - Você quer dizer, como... um eu-sombra?
- Agora você está citando Jung? - Ela ri.
Franzo o cenho, sem ter ideia de quem é.
- Dr. Carl Jung. - Ela continua rindo. - Ele escreveu tudo sobre o eu-sombra, basicamente dizendo que é nossa parte inconsciente e reprimida, as partes que nos esforçamos para negar.
O leitor será cúmplice de Ever nesta viagem interior, irá se irritar com ela, julgá-la, para depois se identificar plenamente com a jovem imortal ao entender que a vida é complexa, e o aprendizado transformador nasce justamente dos erros, das decepções, das quedas ao longo do caminho.
Nestes momentos difíceis a protagonista recorrerá a Jude, pois não tem coragem de revelar a Damen que, apesar de suas orientações, ela sucumbiu à tentação de apelar à magia no combate ao seu maior inimigo. Ao mesmo tempo em que luta para resistir à atração hipnotizante que a domina cada vez mais, é obrigada a vencer o impulso de eliminar do caminho sua rival, justamente Haven, a melhor amiga que ela mesma transformou em imortal, a nova eleita de Roman.
A autora vai ainda mais além ao desvendar as almas de Roman e Haven, a nova imortal que se deixa seduzir pelos poderes que a convertem, finalmente, de patinha feia e patética em mulher poderosa e sedutora. Alyson se vale destes personagens para discutir sutilmente a questão do bullying, um comportamento que pode ter início no próprio ambiente familiar.

A fera nasceu há seiscentos anos, quando o pai o espancou, quando Damen o negligenciou, quando Drina foi gentil com ele. Certamente ele poderia ter vivido de outra forma, feito escolhas melhores, se pelo menos alguém tivesse lhe mostrado o caminho. Mas ninguém pode dar o que não tem.
De um enredo simples, sem maiores complicações, Noël extrai temáticas profundas e significativas, como a constituição energética do pensamento, o lado sombrio presente em cada ser, o poder de atração de mentes afins, a sintonia entre os semelhantes, a morte, as complexas teias de emoções que configuram a identidade de cada um, o processo de evolução espiritual do ser humano. Além disso, a trama eletrizante levará o leitor a roer as unhas até a última linha do livro.

Quando você foca no que teme, atrai mais daquilo que teme. Quando foca no que não quer, atrai mais daquilo que não quer. Quando foca em tentar controlar os outros, acaba sendo controlada. Sua concentração em algo traz mais disso e mais coisas como isso para sua vida. Impor sua vontade aos outros, para persuadi-los a fazer algo que normalmente não fariam... bem, isso não apenas não funciona, como também acaba voltando diretamente para você.


Alyson Noël é autora dos volumes Para Sempre e Lua Azul, os quais compõem a série Os Imortais; além disso, a escritora já tem sete romances publicados. O próximo livro da saga, Estrela da Noite, promete questões existenciais ainda mais intensas; e com certeza uma Ever mais amadurecida e segura.

  • Editora: Intrínseca

  • Autor: Alyson Noel

  • ISBN: 9788580570120

  • Origem: Nacional

  • Ano: 2011

  • Edição: 1

  • Número de páginas: 248

  • Acabamento: Brochura

  • Formato: Médio






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    sexta-feira, 13 de maio de 2011

    Lançamento: "A Segunda Declaração" (Wang Xiaoping)

    Oi Pessoal
    Aí vai mais um superlançamento da Editora Cultrix. Desta vez é um clássico que contempla não só a filosofia, mas a espiritualidade, a cultura, a sociologia, e outros campos do conhecimento humano. Muito bacana, mesmo! Espero poder postar aqui em breve a resenha deste livro que parece estar tão afinado com o mundo moderno.



    Na obra A Segunda Declaração – O Próximo Passo da Evolução e o Futuro da Humanidade, que será lançada no Brasil pela Editora Cultrix no mês de maio, a chinesa Wang Xiaoping, considerada uma das pensadoras orientais mais geniais da atualidade aos 25 anos de idade, propõe a globalização de um único padrão cultural no qual as atitudes praticadas hoje são determinadas pelo futuro.
    A jovem escritora acredita que o Homem tem não somente um DNA orgânico, mas também um cultural, o que implica em afirmar que a modificação do comportamento humano reside em uma mudança ideológica seguida por uma transformação no âmbito cultural. Ou seja, só é possível a eclosão de um novo mundo se houver, antes, o surgimento de outra Humanidade, o que só ocorrerá quando uma nova cultura for criada.
    Para chegar a estas conclusões a autora bebe na fonte do saber de pensadores como Platão, Sócrates, Confúcio, Darwin, entre outros, e a partir da leitura destes clássicos ela chega a percepções e sensações pessoais sobre a existência e a vida social em nosso mundo. Assim ela edifica um paradigma específico para o século XXI.
    As pesquisas de Xiaoping percorrem as mais diversas esferas do pensamento humano, tais como tecnologia moderna, medicina, antropologia, estética, literatura, economia, política e ciência, tanto do Oriente quanto do Ocidente. Além disso, ela reserva um vasto espaço para debater questões como as células tronco e terapia genética, as quais desembocam inevitavelmente, conforme a autora, na potencialidade da vida eterna.
    A escritora elege a cultura Dacheng como aquela que deve ser disseminada em todo o Planeta; a discussão sobre este ponto se desenvolve ao longo do livro de forma específica, por meio de tópicos como o acesso cada vez mais viável às informações, embora não necessariamente ao conhecimento; a conquista tecnológica não acompanhada por metas coletivas nítidas; o saber não praticado por carência de ideais; o confronto fraterno e a união entre adversários.
    Assim que o leitor abre este livro, já é informado sobre os alicerces fundamentais que sustentarão sua tese: Cultura centrada no ser humano, Cultura amante da vida, Cultura Ecológica, Cultura Pacífica e cooperativa, Cultura do bem comum e Cultura de Grande Sucesso. 
    Xiaoping tem a pretensão de transcender, em sua obra, as pesquisas essenciais dos mais significativos futurólogos do mundo ocidental – Alvin Toffler em A Terceira Onda, e John Nasibitt em Megatendência. Ela estabelece uma interação dialética com os dois, superando o corpo teórico de ambos.
    No final do livro a escritora assina a carta aberta à Organização das Nações Unidas. Embora ela exponha alguns dos pontos vulneráveis desta entidade, como a dependência econômica que a vincula compulsoriamente às nações mais ricas, e sua destinação ocasional para simples debates, não deixa, porém, de afirmar que somente esta instituição pode concretizar seus ideais e propostas.
    Sucesso de público e crítica no Oriente, Wang Xiaoping é dona de uma invejável memória fotográfica. Com apenas 15 anos ela abandonou a escola para se tornar autodidata. A escritora já elaborou quatro livros, todos posicionados entre os mais vendidos e elogiados por críticos e leitores.

    Autora: Wang Xiaoping
    Assunto: Filosofia
    400 páginas
    Preço: R$ 62
    Capa: brochura
    Formato: 116,0 x 1,2 x 23,0 cm
    Editora Cultrix, 2011

    quarta-feira, 11 de maio de 2011

    Selos

    Olha só, pessoal! O Prosa está recebendo seus primeiros selinhos. Que felicidade, não é?

    O primeiro é da Ivete, do blog http://aprendacomanet.blogspot.com/, do dia 23 de fevereiro. Demorei para aprender a postar os selos, não é, rs rs rs! Um selo de aprovação que postarei em breve.

    Seguem os demais selos, que recebi da Elisandra, do blog A Magia Real http://lorielisandra.blogspot.com/search/label/Selos:


     





    Reproduzo aqui as regras que acompanham estes selos:

    1- Você deve fazer um post com os selinhos em seu blog;
    2- Linkar o Blog que te presenteou;
    3- Escolher entre 5 à 10 blogs para homenagear;
    4- Avisar os seus indicados 

    Vou homenagear os seguintes blogs:

    5 - Abstraia-se
    6 - Babi Lorentz 
    7 - http://viciadospelaleitura.blogspot.com/