O possível aval do Governo a uma conduta sem limites da Polícia permitiu e continuará a permitir tragédias anunciadas, como a de Paraisópolis. Parece que não há limites para os atuais líderes de nosso país; eles demonstram uma doentia sede de sangue.
Talvez
por acreditarem que nas veias de jovens pobres, negros e moradores da
periferia, de indígenas e de populações ribeirinhas corra um sangue diferente,
inferior. Ou, quem sabe, temam que circule nas almas deles uma energia
poderosa, transformadora.
Sim,
nossos governantes têm alergia à democracia, à Constituição. E tudo fazem para
driblar as leis, tentando criar mecanismos que lhes permitam exercer um domínio
despótico sobre o povo que deveriam orientar.
Assim,
surgem instrumentos como o excludente de ilicitude e o GLO – Garantia da Lei e
da Ordem -, um AI-5 disfarçado, já que ele pretende utilizar contra as manifestações
públicas e também no campo. Juristas esclarecem que esses dispositivos permitem
a um agente de segurança matar uma pessoa sem ser punido, alegando legítima
defesa.
Há
tempos vêm ocorrendo nas periferias das grandes metrópoles um extermínio da
população sem maiores recursos econômicos. Mas, desde que o atual governo
acenou com a possibilidade de se matar impunemente, a extinção em massa vem se
acentuando, principalmente em comunidades onde a maior parte da juventude só
tem como opção de lazer os “pancadões”, ou seja, bailes funks que atraem um
número cada vez maior de jovens que, neles, buscam esquecer um cotidiano
marcado pela miséria e pela violência.
Esses
jovens já estão há muito tempo encurralados em becos sem saída. E agora, literalmente,
são exterminados de forma sádica por policiais despreparados e cruéis, os
quais, ao abater essa juventude, possivelmente estejam tentando eliminar uma
realidade que os assusta, pois lembra a própria origem de muitos deles, à qual
temem voltar. Por outro lado, aterroriza o governo, pois essa nova geração
detém um potencial inovador que ela mesma desconhece.
Então,
como os nazistas, a extrema-direita instaurada no poder estimula o massacre,
autoriza o uso indiscriminado de bombas, sprays de pimenta, cassetetes e de
todo tipo de agressão que inutilize essa mocidade. A ordem é eliminar qualquer
um que represente ameaça, qualquer obstáculo que impeça o domínio do clã
familiar que pretende se perpetuar no despotismo.
As
vítimas são jovens entre 14 e 23 anos, com histórias e sonhos. Vidas
interrompidas. Seus crimes? Ter o ímpeto da juventude, morar na periferia e
desejar se distrair, como qualquer pessoa. As vítimas também são os que
silenciam diante da barbárie.