quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Geração Exterminada



O possível aval do Governo a uma conduta sem limites da Polícia permitiu e continuará a permitir tragédias anunciadas, como a de Paraisópolis. Parece que não há limites para os atuais líderes de nosso país; eles demonstram uma doentia sede de sangue.

Talvez por acreditarem que nas veias de jovens pobres, negros e moradores da periferia, de indígenas e de populações ribeirinhas corra um sangue diferente, inferior. Ou, quem sabe, temam que circule nas almas deles uma energia poderosa, transformadora.
Sim, nossos governantes têm alergia à democracia, à Constituição. E tudo fazem para driblar as leis, tentando criar mecanismos que lhes permitam exercer um domínio despótico sobre o povo que deveriam orientar.
Assim, surgem instrumentos como o excludente de ilicitude e o GLO – Garantia da Lei e da Ordem -, um AI-5 disfarçado, já que ele pretende utilizar contra as manifestações públicas e também no campo. Juristas esclarecem que esses dispositivos permitem a um agente de segurança matar uma pessoa sem ser punido, alegando legítima defesa.


Há tempos vêm ocorrendo nas periferias das grandes metrópoles um extermínio da população sem maiores recursos econômicos. Mas, desde que o atual governo acenou com a possibilidade de se matar impunemente, a extinção em massa vem se acentuando, principalmente em comunidades onde a maior parte da juventude só tem como opção de lazer os “pancadões”, ou seja, bailes funks que atraem um número cada vez maior de jovens que, neles, buscam esquecer um cotidiano marcado pela miséria e pela violência.
Esses jovens já estão há muito tempo encurralados em becos sem saída. E agora, literalmente, são exterminados de forma sádica por policiais despreparados e cruéis, os quais, ao abater essa juventude, possivelmente estejam tentando eliminar uma realidade que os assusta, pois lembra a própria origem de muitos deles, à qual temem voltar. Por outro lado, aterroriza o governo, pois essa nova geração detém um potencial inovador que ela mesma desconhece.
Então, como os nazistas, a extrema-direita instaurada no poder estimula o massacre, autoriza o uso indiscriminado de bombas, sprays de pimenta, cassetetes e de todo tipo de agressão que inutilize essa mocidade. A ordem é eliminar qualquer um que represente ameaça, qualquer obstáculo que impeça o domínio do clã familiar que pretende se perpetuar no despotismo.
As vítimas são jovens entre 14 e 23 anos, com histórias e sonhos. Vidas interrompidas. Seus crimes? Ter o ímpeto da juventude, morar na periferia e desejar se distrair, como qualquer pessoa. As vítimas também são os que silenciam diante da barbárie.