sexta-feira, 17 de novembro de 2023

O que é, afinal, a paz?

 

O Natal se aproxima. Guerras pipocam pelo Planeta. Quando Jesus nasceu, Roma dominava boa parte do mundo. Porém, os romanos não foram seu maior obstáculo, e sim os corações humanos, sempre instáveis, mergulhados ora na luz, ora na sombra. Em um instante acreditam, no outro desacreditam, encolhem-se num casulo, fogem de si mesmos.



Os próprios discípulos de Cristo apresentavam sérias instabilidades emocionais. Segundo o psiquiatra Augusto Cury, Pedro sofria de um mal ancestral, a ansiedade, e lutava contra a própria intolerância. João, o aprendiz mais amoroso, revelava traços de bipolaridade. Tomé, como quase todos sabem, padecia de constante ceticismo.
Eles conviveram com o Messias, testemunharam curas então consideradas milagrosas, conversões inacreditáveis, fenômenos inimagináveis protagonizados por Jesus. Mesmo assim, precisaram trilhar árduas travessias pessoais, intransferíveis, em busca do autoconhecimento, do amadurecimento emocional e espiritual, da paz interior.
Diante de um conflito como o de Israel e Palestina, ambientado justamente na Terra Santa, nunca se falou tanto em paz mundial como agora. Ver inocentes morrendo em bombardeios transmitidos ao vivo pela TV beira o insuportável.
Mas ouso questionar: o que é, afinal, essa paz? De que forma traduzir um conceito tão vago e abstrato? É possível impô-la por meio de leis e resoluções, como as da Organização das Nações Unidas (ONU)?
Aqui apenas ensaio uma resposta. Onde começa a paz, senão dentro de cada um de nós, fruto de um processo, uma busca constante por nós mesmos, por nossos propósitos, pelo sentido da nossa existência. É um exercício difícil e incessante, todavia essencial.
Por isso Guimarães Rosa dizia que “viver é perigoso” e seus personagens percorriam uma jornada existencial à procura de respostas. Sim, no plural, pois como diz a canção-tema do filme Barbie, Closer to fine, interpretada por Brandi Carlile, “Existe mais de uma resposta para estas questões”.
Nessa busca, à medida que cultivamos a paz interior, ela vai ganhando contornos mais concretos e se estende ao círculo familiar, à convivência profissional, à interação social e a outras esferas da vida.
Ao longo desse caminho sinuoso, torna-se mais fácil admitir, como disse uma amiga, que não somos todos iguais e que a diferença é bem-vinda. Desse processo nascem a amizade, a tolerância, em todos os níveis, até alcançar as nações. Aí, sim, a tão sonhada, porém incompreendida paz mundial ganha consistência e uma maior probabilidade de se tornar real, pois a minha felicidade se torna a sua felicidade, a minha paz se torna a sua paz.
Todavia, essa conquista demanda luta frequente contra as más paixões, vigilância, ânimo forte para não desistir diante das inúmeras quedas, disciplina, esforço. Qualquer hábito e aprendizado requer dedicação e repetição, quantas vezes for preciso.
 Gilberto Gil diz: “A paz fez um mar da revolução invadir meu destino”. Nas palavras de Jesus: “Eu não vim trazer paz, mas espada”, referindo-se à luta pelo aperfeiçoamento de cada um, rumo à evolução espiritual.