quarta-feira, 2 de maio de 2018

A Era dos Heróis Humanizados


Nessa chamada era pós-moderna, não cabem mais heróis ancestrais da Mitologia Greco-Romana, nem os da fase antiga da DC Comics, como Batman e Superman, e da Marvel, como Quarteto Fantástico e as primeiras versões do Homem-Aranha.

Com o esvaziamento dos valores, o materialismo crescente e a grave crise moral que assola o Planeta, houve uma profunda mudança de crenças. O Homem perdeu-se de si mesmo, da sua própria identidade. Por outro lado, o ser humano é um sobrevivente; diante de impasses, ele sempre busca uma saída.

Assim, nessa travessia existencial, a humanidade inicia uma onda renovadora. Descobre, nesse ínterim, que sua natureza se compõe de luz e sombra. Nesse contexto, é difícil crer num super-herói infalível, sem qualquer vestígio de imperfeição. Esses heróis praticamente imortais chegavam a beirar a desumanidade, pois todo humano é imperfeito.

Hoje, as editoras de quadrinhos mais poderosas, como a DC Comics e a Marvel, investem em heróis cada vez mais humanizados e falíveis. Agora, é possível visualizar uma alma no interior de seus corpos musculosos ou ocultos sob armaduras tecnológicas potentes. Por exemplo, no filme Batman X Superman, é possível encontrar dois heróis profundamente humanos. Batman projeta sua própria sombra em seu antagonista, e vice-versa. Aqui, os dois justiceiros expõem suas faces controversas e sombrias.

Em Capitão América: Guerra Civil, há um enfrentamento dos personagens principais, Capitão América e O Homem de Ferro, desencadeando uma grave ruptura da parceria entre ambos, bem como da própria equipe, Os Vingadores. A partir desse momento, o governo e até parte da população passa a considerar os famosos heróis como uma ameaça ao Planeta.

Vejo no longa Vingadores: Guerra Infinita, o auge dessa tendência humanizadora. Os Guardiães da Galáxia são praticamente anti-heróis; Homem de Ferro e Capitão América continuam sem se falar; Bruce Banner está em crise com seu alter ego, o Hulk; mais que nunca, todos os heróis expõem sua vulnerabilidade. Suas feridas estão expostas.


O próprio vilão, Tanos, tem seu lado humano, e sua ação destrutiva é contextualizada. O público tem a oportunidade de senão aceitar, pelo menos entender suas razões. O Titã, que já apareceu em Guardiões da Galáxia, revela neste longa suas próprias fraquezas. O final, impactante, nos leva a refletir sobre o papel dos heróis no mundo contemporâneo.

Além disso, mesmo os aficionados mais materialistas, se é que alguém convictamente materialista é fã de personagens fantásticos, passam a questionar: para onde vão os heróis quando supostamente ‘morrem’ ou desaparecem?  Como o Superman, antes de ressuscitar em A Liga da Justiça?

No primeiro filme protagonizado pelo Homem Formiga, mencionou-se o Reino Quântico, uma outra dimensão, onde só se ingressa utilizando energia, um transporte místico ou por meio da Partícula Pym, através da qual o protagonista encolhe. O Doutor Estranho, também presente no recente Vingadores, também já esteve neste universo alternativo, pois tem o dom de viajar entre os vários mundos.

Essa dimensão e a noção de Multiverso serão significativas em Vingadores 4. De repente, pode ser uma forma de explicar onde foram parar os personagens que ‘desmaterializaram’ no final de Guerra Infinita. Aqui compartilho da mesma opinião de Vitória Pratini, em seu artigo postado no site Adoro Cinema. Essas dimensões e universos alternativos seriam uma espécie de “Mundo das Almas”. Não é incrível pensar que, agora, os super-heróis são, na verdade, super-humanos, dotados de uma alma capaz de viajar para outras dimensões?

Seguindo essa esteira, nos meus livros Terras dos Encantados: A Jornada do Círculo e A Herdeira das Estrelas, suas protagonistas, Nina, Lorena e Lícia não são heroínas infalíveis, robóticas. Pelo contrário. São “espíritos livres, demasiadamente humanos”, como diz Nietzsche. Elas percorrem uma árdua jornada, tentando salvar mundos à beira da destruição.


As personagens vivenciam conflitos e dilemas internos, enfrentam seus próprios demônios, mergulham em suas faces mais sombrias e também expõem suas fragilidades. Mesmo assim, seguem adiante, combatendo as sombras presentes em si mesmas e nas dimensões que percorrem, enquanto tentam curar as feridas da alma.

Como em Vingadores: Guerra Infinita, minhas protagonistas defrontam-se igualmente com seus passados obscuros, enfrentando fantasmas que teimam em voltar para assombrá-las. Nesse mundo caótico e confuso em que vivemos, ante tramas com finais impactantes e suspensos, resta-nos reescrever nossa própria história.  

Referência:


Pratini, Vitória. “O que vem por aí depois de Vingadores: Guerra Infinita? ” in http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-139637/