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quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Tempos de Incerteza



Nestes tempos de incertezas, precisamos, mais que nunca, de um caminho para seguir. Na jornada do herói, os protagonistas das histórias encontram aliados e vilões, refúgios e obstáculos. Mas, como já afirmei em um post anterior, mesmo na ficção os personagens estão mais humanizados. Luzes e sombras nos habitam. A velha luta entre o bem e o mal, personalizados em heróis e vilões, está fora de moda. 


Devemos, portanto, buscar dentro de nós mesmos as raízes da intolerância e arrancar as ervas daninhas. Infelizmente, no auge da frustração com ideologias e políticas econômicas e sociais, muitos estão deixando seus monstros interiores dominarem. Esse é o maior risco que corre a Humanidade, nesses dias conturbados.

É aí que surgem os fantasmas do preconceito, do ódio, do desrespeito, da intolerância. As pessoas se deixam controlar por suas emoções, quando deveriam, na verdade, governá-las. Essas questões são bem antigas e estão presentes na literatura universal. Por exemplo, a homofobia, tão atual.

Durante os séculos XIX e XX o mundo assistiu várias manifestações contra o homossexualismo. Mas jamais como em nosso século. Hoje, por exemplo, Guimarães Rosa seria considerado ousado e, num governo fascista, certamente censurado. Afinal, em seu clássico, Grande Sertão: Veredas, ele insinua, a princípio, um relacionamento homoafetivo entre Diadorim e Riobaldo.

Aqueles que se colocam em um pedestal e julgam o gênero, a religião, as crenças do outro, acreditando até mesmo ter poder de vida e morte sobre as pessoas, agem como semideuses. No fundo, todo ditador, todos que agem contra os princípios da democracia, creem ter um poder divino. E vejam o que deles pensa o poeta português Fernando Pessoa: “Arre! Estou farto de semi-deuses! Onde é que há gente no mundo???” 





Sim, onde está nossa humanidade? Nosso poder de compreensão, de compaixão, de solidariedade? Onde está a tão disseminada cordialidade brasileira? Na obra A Hora da Estrela, Clarice Lispector já lidava com uma temática espinhosa, a opressão e exclusão da mulher pobre, nordestina, sinalizando o lado selvagem e sombrio do brasileiro.

Fico imaginando que essa mentalidade selvagem estava incubada em muitos espíritos intolerantes e agressivos, à espera de uma figura autoritária que respaldasse esse comportamento. É como se, a partir desse momento, as portas da insanidade e do ódio se abrissem, libertando monstros e fantasmas ali guardados por tanto tempo.

Para sobreviver a essa cultura do ódio, precisamos despertar nosso lado heroico, erradicar as sombras que nos habitam e, como nossos heróis preferidos, vestir nossas capas e máscaras. Só que nossas armas devem ser as indicadas pelo Evangelho, um dos livros mais antigos e menos conhecidos, por essa razão tão distorcido: o amor, o perdão, a compreensão.

Porém, como diz João, no Apocalipse, sem ser mornos. Ou seja, devemos sair de cima do muro, ser firmes, não nos curvarmos diante dos erros. Neste momento, silenciar ou se omitir é contribuir para que nosso país caia nas armadilhas do fascismo. Portanto, o caminho a seguir, nestes dias incertos, é o do combate a toda ameaça à liberdade, com as armas da tolerância e do respeito, da firmeza e do amor.

Independente de quem ganhe as eleições presidenciais deste ano, há um fato inquestionável. A sociedade brasileira está rachada. Mas é possível, seja quem for nosso candidato, manter os princípios democráticos, especialmente a liberdade de expressão.