Nestes
tempos de incertezas, precisamos, mais que nunca, de um caminho para seguir. Na
jornada do herói, os protagonistas das histórias encontram aliados e vilões,
refúgios e obstáculos. Mas, como já afirmei em um post anterior, mesmo na
ficção os personagens estão mais humanizados. Luzes e sombras nos habitam. A
velha luta entre o bem e o mal, personalizados em heróis e vilões, está fora de
moda.
Devemos,
portanto, buscar dentro de nós mesmos as raízes da intolerância e arrancar as
ervas daninhas. Infelizmente, no auge da frustração com ideologias e políticas
econômicas e sociais, muitos estão deixando seus monstros interiores dominarem.
Esse é o maior risco que corre a Humanidade, nesses dias conturbados.
É
aí que surgem os fantasmas do preconceito, do ódio, do desrespeito, da
intolerância. As pessoas se deixam controlar por suas emoções, quando deveriam,
na verdade, governá-las. Essas questões são bem antigas e estão presentes na
literatura universal. Por exemplo, a homofobia, tão atual.
Durante
os séculos XIX e XX o mundo assistiu várias manifestações contra o
homossexualismo. Mas jamais como em nosso século. Hoje, por exemplo, Guimarães
Rosa seria considerado ousado e, num governo fascista, certamente censurado.
Afinal, em seu clássico, Grande Sertão: Veredas, ele insinua, a princípio, um
relacionamento homoafetivo entre Diadorim e Riobaldo.
Aqueles
que se colocam em um pedestal e julgam o gênero, a religião, as crenças do
outro, acreditando até mesmo ter poder de vida e morte sobre as pessoas, agem
como semideuses. No fundo, todo ditador, todos que agem contra os princípios da
democracia, creem ter um poder divino. E vejam o que deles pensa o poeta
português Fernando Pessoa: “Arre! Estou farto
de semi-deuses! Onde é que há gente no mundo???”
Sim,
onde está nossa humanidade? Nosso poder de compreensão, de compaixão, de
solidariedade? Onde está a tão disseminada cordialidade brasileira? Na obra A
Hora da Estrela, Clarice Lispector já lidava com uma temática espinhosa, a
opressão e exclusão da mulher pobre, nordestina, sinalizando o lado selvagem e
sombrio do brasileiro.
Fico
imaginando que essa mentalidade selvagem estava incubada em muitos espíritos
intolerantes e agressivos, à espera de uma figura autoritária que respaldasse
esse comportamento. É como se, a partir desse momento, as portas da insanidade
e do ódio se abrissem, libertando monstros e fantasmas ali guardados por tanto
tempo.
Para
sobreviver a essa cultura do ódio, precisamos despertar nosso lado heroico,
erradicar as sombras que nos habitam e, como nossos heróis preferidos, vestir
nossas capas e máscaras. Só que nossas armas devem ser as indicadas pelo Evangelho,
um dos livros mais antigos e menos conhecidos, por essa razão tão distorcido: o
amor, o perdão, a compreensão.
Porém,
como diz João, no Apocalipse, sem ser mornos. Ou seja, devemos sair de cima do
muro, ser firmes, não nos curvarmos diante dos erros. Neste momento, silenciar
ou se omitir é contribuir para que nosso país caia nas armadilhas do fascismo. Portanto,
o caminho a seguir, nestes dias incertos, é o do combate a toda ameaça à
liberdade, com as armas da tolerância e do respeito, da firmeza e do amor.
Independente
de quem ganhe as eleições presidenciais deste ano, há um fato inquestionável. A
sociedade brasileira está rachada. Mas é possível, seja quem for nosso
candidato, manter os princípios democráticos, especialmente a liberdade de
expressão.
Parabéns Aninha por sua posição.Muito bom e oportuno para tentar fazer pensar aqueles que se dizem cristãos
ResponderExcluirÉ o que mais desejo, despertar reflexões. bjs
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