- Não sei se já nos encontramos antes, mas me aconchegar em seu ventre me despertou profunda conexão.
“Essa
criança vai destruir minha vida. Agora que minha carreira está decolando... Se
levar adiante a gestação, jamais terei uma oportunidade como essa.”
-
Olha só, prometo te ajudar, te apoiar. Confia. Deus tem seu próprio tempo. Na
hora certa Ele vai te recompensar.
“Já
decidi. Estudei muito; amo demais minha profissão para abrir mão dessa chance
de trabalhar no exterior. Vou procurar o médico que minha amiga me indicou.”
-
Pelo menos me deixe viver. Quando eu nascer, se não mudar de ideia, você pode
me doar para alguém.
“Eu
até poderia aguardar o nascimento da criança. Mas se meu chefe souber da minha
gravidez, vai dar a promoção para outra pessoa. Afinal, ele precisa de mim
agora, não daqui a sete meses.”
-
Por favor, eu me encolho aqui. Ninguém nem vai perceber que sua barriga
cresceu. Faço qualquer coisa por uma oportunidade de viver.
“Afinal,
é só um feto mesmo. É melhor eu me apressar. Ainda não há vida em meu útero.”
-
(Profunda tristeza e angústia).
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-
Ah, que delícia navegar nesse oceano quentinho. Já te amo, mãezinha.
“Ai,
meu corpo está se deformando. Já engordei, os seios crescendo. Daqui a pouco
meu namorado vai procurar outra mulher.”
-
Olhe bem no espelho. Mais bela que nunca. Seus olhos brilham, a pele ganhou uma
luz especial. Papai deve estar muito feliz.
“Não,
não, não nasci para ser mãe. Quem vai cuidar do bebê enquanto vou dançar, me
divertir? Meus pais foram bem claros. A responsabilidade é só minha e do pai da
criança.”
-
Pode continuar dançando enquanto estou por aqui. Gosto muito de música também.
E depois do meu nascimento, é só uma questão de dias. Vou conquistar meus avós;
eles vão cuidar de mim.
“Só
de pensar no parto fico maluca. Duvido que ele vai segurar minhas mãos, como
prometeu. Hoje nem me ligou. Depois, roupa de grávida não faz meu estilo. Quero
continuar a curtir a vida.”
-
E eu só quero viver. Olha, é por pouco tempo. Certeza que meus avós vão ficar
comigo. Você não precisa me criar. Pode continuar se divertindo.
“É isso. Meu amor acabou de me mandar uma
mensagem. Por sorte, pensa como eu. Somos muito novos. Vou procurar a médica
que ele encontrou. Logo estaremos livres.
Sem
culpa. É só um feto. Nem tem alma ainda, então é um ser sem vida.”
-
(Revolta e desespero).
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-
Graças a Deus um ventre decidiu me abrigar. Obrigada, mãe.
“Como
vou criar mais um filho? Já fiz e refiz todas as contas. Meu Deus, uma sexta criança?
Vai passar fome, sede, nem terá o que vestir. Desse jeito vou morar na rua.”
-
A gente dá um jeito, mãezinha. Pense bem, não serei só mais uma boca, mas
também um braço para trabalhar. Só me deixe viver.
“Que
desespero. Nem um aborto posso pagar. O que fazer? Minhas crianças estão desnutridas.
Por que Deus me manda mais uma?”
-
Porque Ele confia na sua força, na sua capacidade de superação. Estou disposto
a qualquer coisa para ter o dom da vida. Aliás, fetos são seres vivos, viu? Por
favor, tem que me ouvir.
“Talvez
minha comadre possa me fazer umas ervas. E de agora em diante meu marido vai
ter que usar a tal camisinha, ao invés de ficar no bar bebendo.”
-
Mãezinha, ouça. Me deixe nascer. Aí pode me dar para alguém criar. Vou
entender.
“Poderia
deixar esse bebê nascer. Mas para isso vou ter que me alimentar melhor. Senão
ele vai morrer dentro do meu ventre. E talvez me leve junto. Aí quem vai cuidar
dos outros?”
-
Acredite em Deus, mãe. Ele vai me deixar nascer, eu sei. E a senhora ainda vai
viver muito tempo.
“Posso
não. Me sinto sem forças. Se pelo menos meu homem me ajudasse... Pronto. Vou
procurar a comadre.”
-
(Desânimo. Raiva.)
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Tantos
outros cenários. Mesmos impasses. Diálogos improváveis. Desconexão.
Pais
que ignoram o essencial. Fetos têm vida. Fetos importam.
O
que significa tirar uma vida? Quais as implicações físicas, psíquicas,
espirituais?
Sem
julgamentos, sem críticas, sem condenação. Afinal, não sou Deus. Apenas levanto
questões. Deixo aqui fragmentos e reflexões.
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