sexta-feira, 11 de março de 2011

Resenha - "Linhas" (Sophia Bennett)


 
Se alguém espera encontrar aqui apenas mais um produto do gênero chick-lit, uma obra voltada somente para mulherzinhas, está enganado. Embora a princípio este livro realmente pareça navegar nesta direção, logo o leitor percebe que está diante de uma história completamente diferente, na qual nada parece ser o que é.

As protagonistas são aparentemente três adolescentes comuns, com sonhos, desejos, questões típicas da idade; por outro lado, porém, elas já definiram seus caminhos profissionais. Nonie, filha de uma ex-modelo e neta de uma fiel adepta da alta-costura, é apaixonada por moda, mas não sabe desenhar, nem tem o corpo apropriado para seguir os passos da mãe.

No caminho para o metrô, dois sujeitos de jaqueta e calças jeans encardidas berram do outro lado da rua:
- Esquisitona!
- Se enxerga, perna prateada!
Eddie passa um braço pelos meus ombros, de maneira protetora. Jenny segura minha mão. Mas eu estou acostumada com isso, não me importo mais. Se algum megadeus da moda debochar do jeito como eu me visto, talvez eu até fique ligeiramente abalada, mas caras vestindo jeans da cabeça aos pés não estão lá em posição de me criticar.

Jenny é uma ótima intérprete teatral, mas subitamente tem a oportunidade de iniciar uma carreira cinematográfica em Hollywood, a Meca dos astros e estrelas, com os quais irá conviver e contracenar nos tapetes vermelhos e sob os holofotes da mídia especializada. O problema é que isso acontece justamente quando seu corpo passa pelas terríveis transformações da adolescência, as fatídicas espinhas, os seios que crescem demais e o tão temido aumento do peso.

Edie é a garota que não se interessa tanto quanto as amigas pelas ‘futilidades’ da vida; seu passatempo, com certeza, não é percorrer alucinadamente as vitrines das lojas, como Nonie, que a inveja por ela ter um corpo de modelo, oculto sob roupas clássicas e convencionais. Seu sonho é ser um membro das Nações Unidas e transformar o Planeta; ela mantém um blog, pois tem a incrível necessidade de compartilhar suas ideias e tudo que sabe sobre as amigas, e nele divulga todas as causas que abraça.

A vida das amigas se modifica radicalmente quando elas conhecem Crow, uma menina de 12 anos, refugiada da Uganda, enviada por sua família para Londres não só com o objetivo de ter melhores oportunidades intelectuais, mas principalmente por razões políticas; é sua única chance de se manter viva. Dotada de um talento precoce e inacreditável para a moda, ela encontra neste universo um refúgio de suas tristezas e uma forma de tentar esquecer o passado. Quando seus caminhos se cruzam, nada será mais como antes.

Mas Crow vem do norte, perto do Sudão, e ali é tudo bem diferente. Há muitos anos o governo combate um grupo de rebeldes chamado Exército da Resistência do Senhor. Os rebeldes se escondem na mata e usam crianças para o combate. (...) As meninas eram obrigadas a ter filhos com os soldados. Por isso, as crianças que moravam nesses vilarejos distantes costumavam caminhar quilômetros e quilômetros todas as tardes até encontrar um lugar seguro em alguma cidade, onde houvesse gente capaz de protegê-las. (...) Eram chamadas de "os andarilhos da noite".
- E Crow era uma delas?

A história é narrada do ponto de vista de Nonie, a qual surpreende o leitor ao revelar ser muito mais que uma garota fútil e superficial. Ela é, com certeza, o alterego da autora, que aproveita este enredo para aliar suas duas paixões: a literatura e a moda. Além do mais, Sophia Bennett se vale de Crow para denunciar a triste realidade das crianças invisíveis da Uganda; Edie representa, nesta obra, a voz que se eleva em defesa desta infância perdida da África.

A autora consegue unir, nesta série que promete abalar não só o universo fashion, mas também um público mais eclético, uma história leve e ao mesmo tempo densa, engraçada, porém igualmente triste. Todos os ingredientes são mesclados nas proporções corretas, e o resultado é um livro original, saboroso e fluente, no qual não faltam nem mesmo doses de um suspense eletrizante. No final resta aquele desejo de já emendar a leitura do segundo volume. Tomara que a sequência seja logo publicada!

A máquina de costura preta está instalada na mesa de trabalho. As roupas prontas já estão na arara e nos cabideiros. Suas criações e inspirações favoritas estão em uma pilha alta de papel, prontas para ser presas com alfinetes em enormes murais nas paredes. Um vestido quase terminado veste o boneco. Moldes de papel cobrem a cama e o chão. Quando apareço para ver se está tudo bem, ela não consegue evitar um sorriso.

Sophia Bennett tinha um sonho desde criança, tornar-se uma escritora. Ao longo da vida, porém, alimentou outros desejos, como o de ser aeromoça ou autora de peças teatrais. Outro desejo intenso era ser estilista, mas seu fracasso como desenhista a impediu de seguir adiante no universo fashion. Antes de embarcar na trajetória literária, Sophia publicou alguns de seus escritos em veículos como The Times e Guardian; ela também criou quatro contos protagonizados por detetives. Hoje ela reside em Londres, ao lado do marido, de quatro filhos, várias árvores, patos e cisnes.


Um comentário:

  1. Oi Ana Lú,

    Estou louca por esse livro... vou continuar minha luta para encontrá-lo e comprar em mãos. qro comprar e ler - sem a ansiedade da espera on line =).

    Adorei seu blog

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