sábado, 4 de maio de 2013

"Ser Escritor"




Não devemos desconsiderar completamente as artes das musas, mas elas não são tudo no processo de criação, e sim apenas mais um elemento na configuração do talento de um escritor. Assim como a paixão pelo ofício da cura no futuro médico e a fascinação pelas leis naquele que pretende ser um advogado.

Mas o defensor do direito não vai atuar em um tribunal, nem o doutor vai reinar soberano na sala de cirurgia ou no consultório sem passar pela Universidade, onde irão conquistar o aprendizado necessário para o exercício da profissão.

Da mesma forma não basta para o escritor ter talento e inspiração; ele também deve aprender as técnicas literárias se desejar se destacar no mercado editorial. E esse processo não desmerece autor algum. Alguém pode alegar que os escritores antigos não precisavam passar por esse estágio de formação.

Pois bem, nem sempre as Universidades e as graduações e pós-graduações foram necessárias, mas raros conquistam hoje um espaço na esfera econômica sem passar por essas e outras etapas educativas. Quem não acompanhar as mudanças do mundo contemporâneo, com a revolução tecnológica e o mundo virtual, permanecerá à margem da vida moderna. E terá menos chances de sucesso.

O Book Page Editorial atua no sentido de ajudar novos autores a produzir histórias que realmente cativam o leitor, do início ao fim, com a elaboração de cenas e sequelas de qualidade, a construção de personagens consistentes, Pontos de Vista (PDV) e Pontos de Observação (PDO) corretos, a edificação de diálogos ricos e criativos, a gramática mais apurada, a melhor estruturação textual, levando em conta coesão, concisão, clareza e outros elementos importantes.

Para isso o Book Page conta com trabalhos de leitura crítica, coaching literário, revisão, preparação de texto, resenhas e ghostwriting. Conheça melhor nosso trabalho; conheça o site, envie um e-mail e esclareça suas dúvidas. Faça um orçamento. E conquiste maiores perspectivas de publicação para o seu livro.





sexta-feira, 3 de maio de 2013

"Doce Vampira" (Ju Lund)

Pessoal, segue a sinopse de um livro que promete encantar os leitores e praticamente inaugura um novo gênero literário no Brasil: o 'Queer Chick'. E o Prosa Encantada, junto com o Infoescola, está promovendo um super sorteio de um exemplar autografado e com dedicatória. 
Quer ganhar? É só curtir o Infoescola no Face por meio da página  http://www.meusorteio.com/E4232; cliquem no botão "participar com facebook" ou com o twitter. 
Apenas curtir a página, mas sem clicar no botão de participar, não fará com que as pessoas participem. 

Se puderem, sigam também o Prosa Encantada e curtam sua página no Face. Serão muito bem-vindos. 




A protagonista desta obra singular é uma garota silenciosa e reservada. Mas quando conhece Ester, uma bela e sedutora vampira, a paixão desperta pouco a pouco e toma conta de seu corpo e de seu coração. Tudo começa com uma estreita amizade e quando as duas se dão conta, não há mais como impedir o crescimento desta emoção imprevisível.

Agora Eduarda é obrigada a enfrentar os preconceitos familiares, dos amigos e de toda a sociedade. Tudo para permanecer ao lado de sua Doce Vampira. Resta saber se este sentimento é intenso o bastante para suportar a terrível discriminação social que acompanha normalmente a relação entre duas mulheres.

Há nesta narrativa um clima “Queer Chick”, ou seja, uma mescla do gênero fantástico com tópicos comuns no mundo de hoje, como a aversão à homossexualidade, a hostilidade racial e o extremismo religioso. Ju confessa que a centelha criativa que gerou esta história teve origem no interior de sua mente, em trechos de sonhos e pesadelos, de uma paisagem que transcende seu imaginário.

Juliana Lund nasceu no dia 3 de novembro de 1983. Aos 30 anos é conhecida como Ju Lund, seu nome artístico. Ela cresceu ao lado dos livros, ou melhor, com eles em mãos, graças ao incentivo de seus familiares. À medida que o tempo passava, ela corria atrás de bibliotecas para matar a fome que a consumia cada vez mais.

Dos livros infantis, passando pelas fábulas e por livros de fantasia, chegou finalmente à Literatura Fantástica. Levou algum tempo para perceber que esse gênero literário seria sua paixão definitiva e guiaria suas futuras escolhas. Ela iniciou sua trajetória neste universo através das narrativas sobrenaturais, da fantasia urbana e de alguns elementos das histórias de terror.

Há três anos criou o blog Portal, pois sentia a necessidade profunda de dividir o que lia e escrevia com outros amantes da literatura. Ele também tem como meta disseminar os livros e estimular a leitura do gênero fantástico e dos autores brasileiros. Depois de algum tempo semeando seus contos no universo virtual, a autora desejou folhear um livro impresso com suas histórias.

Assim surgiu sua obra Entrecontos, com tudo que tinha publicado no site ao longo do ano. Hoje há no mercado duas edições desta obra e uma terceira a caminho. A partir daí as propostas começaram a surgir, tais como integrar as coletâneas Autores Fantásticos, da editora Argonautas, do Rio Grande do Sul, e Vampiros de Alma, coordenada de forma autônoma por Anny Lucard.

Doce Vampira, publicada pela editora Ornitorrinco, é seu primeiro romance. 

Editora: Ornitorrinco

Autora: Ju Lund

Origem: Nacional

Edição: 1

210 Páginas

Preço: R$ 33,90

Capa: Brochura

Formato: Médio






quinta-feira, 11 de abril de 2013

"O Inverno das Fadas" (Carolina Munhoz)


O leitor é convidado aqui a escalar as montanhas de Bassenthwaite e ingressar no universo dos Sídhes. A ele é permitido surpreender fadas e elfos em sua mais profunda intimidade. Em pleno Samhain, quando o véu entre o mundo dos humanos e o dos povos mágicos é rompido, é possível espiar o interior do palácio do Governador Arawn e conhecer sua neta, Sophia Coldheart, uma fada nada comum.


Cabe ao ser feérico desempenhar uma missão na esfera humana: seduzir, encantar, enfeitiçar artistas talentosos, pessoas que se destacam no meio da multidão e trazem consigo o dom de criar. Ela é, portanto, uma musa. Inspira homens e mulheres que apresentam um potencial especial, seja na música, no cinema, no teatro, nas artes plásticas ou na literatura.

Sophia os fascina em seus sonhos ou face a face. Seja como for, sua presença arrebata almas e corações. Suas caças, ansiosas por glória, fama e prazer, logo se curvam diante da fada loira e bela. Mas sua beleza é fatal; a criatura mágica sempre cumpre sua palavra e seus amantes recebem o que desejam; porém tudo tem seu preço, e o seu é alto e irreversível.

Donald, Jade, Brad, Mickey, Richard, Britney, entre outros tantos, jamais se enquadrariam em uma vida longa, todavia comum; eles aspiram algo mais e nem por um instante se permitem medir as conseqüências de seus desejos; na verdade, seriam capazes de qualquer coisa para conquistar a glória imortal, até mesmo mergulhar em um processo de completa autodestruição que invariavelmente culmina em um fim trágico.

Donald tinha, sim, um amigo imaginário, mas nunca foi louco. Ao crescer, o transformou em uma amiga e, naquele momento, no quinto dia do quarto mês, a mesma sugava sua última gota de energia. Ele perdia a alma à medida que esquecia o motivo de sua existência e, ao ter os últimos sopros de vida extraídos por ela, sentiu-se em um forte dia de inverno, mesmo sendo uma ensolarada manhã de primavera. 

Sim, compactuar com Sophia, uma Leanan Sídhe, é quase como se lançar nos braços de sua prima Banshee, a Fada da Morte. Pois não há salvação para estas almas consumidas pela febre de uma vida fora do comum. Enquanto isso, a Rainha do Inverno, famosa por seu coração de gelo e sua incapacidade de amar, se alimenta da energia destes humanos à medida que os inspira na criação de suas obras-primas, até estar completamente abastecida, como um vampiro que suga suas presas para sobreviver. Se assim não agir, Sophia morre.

Assim foi com sua mãe, que se apaixonou por um elfo. Contra todas as expectativas e riscos, eles se casaram. No entanto seu pai não resistiu ao poder da esposa e, logo após o nascimento de Sophia, partiu nos braços da morte, logo seguido por sua amada. A fada loira sabe que este será seu destino se algum dia cair nas armadilhas do amor, algo que lhe parece completamente impossível.

Até o dia em que conhece William, um escritor dotado de raro dom, mas condenado ao anonimato em uma cidadezinha do condado de Cúmbria, Keswick, um lugarejo povoado por lendas e histórias sobre os povos encantados. A princípio ele é apenas mais um doador de energias para Sophia, mas pouco a pouco o jovem intriga a fada. Há algo de diferente no inglês, sua personalidade é tecida por outra substância, distinta da que animava seus antigos amantes.

Quando se dá conta, Sophia está completamente apaixonada por William, sem saber como nem o porquê. Ele corresponde intensamente aos seus sentimentos e, ao contrário dos demais, se tivesse que escolher entre o que sente pela fada e a glória eterna, teria uma opinião bem diferente, apesar de ter perspectivas promissoras quando se candidata ao prêmio literário Helen Beatrix Potter.

Ele odiava o papo de inspiração. Aquela conversinha de sentar pela primeira vez e escrever uma historinha achando estar arrasando. Para ele, escrever era passar dias e noites em claro, lutando com as palavras para conseguir montar algo que, um dia, iria modificar a vida de uma pessoa. Naquele momento, estaria tocando o interior dela. Sua função como escritor e ser humano estaria completa. Mas, nos últimos meses, algo o perturbava. O garoto que nunca foi de fantasiar em suas histórias começou a perceber que inseria seres mágicos nas obras. (...)
Ele sempre achou tudo uma bela maluquice, só que vinha sonhando com um ser que com certeza se tratava de um Sídhe. 

Sophia nunca imaginou que um dia poderia se apaixonar por alguém. E agora, o que fazer? Como impedir que William seja também consumido por seus encantos? Até onde irá a fada para salvar o escritor? E ele, terá forças para morrer por sua amada e ao mesmo tempo preservar a integridade de sua alma? Ou terá o mesmo fim dos outros, o suicídio?

Sophia é uma personagem incomum, uma espécie de anti-heroína. Ora surpreende o leitor com atitudes heroicas e inesperadas, ora o choca com as lembranças de comportamentos sombrios e condenáveis. É capaz de atos nobres e de um desapego ímpar em alguns momentos, porém em outros revela uma postura egoísta e implacável.

Carolina entretece sua narrativa mágica com inúmeras alusões ao universo pop, críticas sutis à indústria cultural, à manipulação e corrupção das almas dos que não resistem às promessas de fama, glória e poder, e com profundas reflexões sobre a natureza espiritual do ser humano, o sentido da existência e o legado histórico e cultural do Homem.

- Eu AMO essa música!
- (...) Essa é a Cold, Cold Heart da Dinah Washington!
- (...) Eu conheço essa música pela Norah Jones.
                                    (...)
- (...) Posso ser o Harry Potter de Keswick. Não ligo. Até se eu fosse um Cullen não iria ligar para os comentários dessa cidade. 
                                    (...)
O que seria o Homem? E o seu legado?
Sophia achava que a História sempre possuiu grande importância na compreensão da humanidade (...) A Leanan achava que se os humanos abandonassem a história, poderia resultar em um rompimento grave com a própria identidade cultural e pessoal do mundo. (...)
William seria uma representação histórica para a cultura de seu povo e do povo das fadas. Ele iria reunir dois povos distintos em uma mesma história. (...) O garoto iria mudar o mundo. Essa seria sua maior herança. 

Uma ideia genial é intitular cada capítulo com o nome ou o trecho de uma música, sempre relacionado ao seu conteúdo. Ícones da cultura nerd estão também aqui e ali ao longo da narrativa, como os personagens de O Senhor dos Anéis e Star Wars, hackers, e o game World of Warcraft.

Também há referências literárias, como uma homenagem à maior autora de literatura infantil de todos os tempos, Beatrix Potter, criadora do inesquecível Peter Rabbit, e musicais: Dinah Washington, Norah Jones, entre outras. Aliás, a autora resgata a própria protagonista de A Fada, Melanie Aine, que tem uma participação especial nesta narrativa.

É divertido tentar descobrir que celebridades se ocultam sob os nomes fictícios, tentando unir as pistas oferecidas pela autora. Mickey, por exemplo, certamente se refere ao cantor Michael Jackson, enquanto Maganus deve ser o alterego de Paulo Coelho. Ao mesmo tempo, é triste relembrar o destino de tantos artistas repletos de energia e talento. Mas, como diz Sophia, sempre há esperança. E oportunidade de redenção.



Carolina Munhóz é jornalista e escritora. Fã da saga Harry Potter, ela foi um dos membros do Potterish, um dos sites mais importantes sobre o célebre bruxo; e teve a oportunidade de conhecer os protagonistas da série ao visitar os Estados Unidos. Nesta ocasião, justamente aos 18 anos, viajou por vários países, entre eles Inglaterra, França, Itália e Suíça.

Suas peripécias atraíram o foco da mídia, tais como Folha de São Paulo, Estadão, TV Cultura, Disney Channel, rádio Record de Londres e Época, revista que a comparou a autoras do quilate de Cassandra Clare e Alexandra Adornetto. Hoje a jovem escritora se dedica de corpo e alma à literatura e atua amplamente nas redes sociais. E é musa de seu próprio autor, que também lhe inspira sem cessar, o marido Raphael Draccon. 


Editora: Fantasy/Casa da Palavra

Autora: Carolina Munhóz

Origem: Nacional

Edição: 1

302 Páginas

Preço: R$ 33,00

Capa: Brochura

Formato: Médio




quarta-feira, 10 de abril de 2013

"Como Dizer Adeus em Robô" (Natalie Standiford)


Esta história tem tudo para se tornar cult também no Brasil. Ela realmente promete! Eu amei a sinopse; aliás, só se encontra algo sobre o livro em inglês. Mas a editora Record promete lançar ainda este mês a versão brasileira. É torcer e já começar a contar os segundos, como eu. 



Nesta história que já se tornou cult nos Estados Unidos, dois jovens desajustados são intensamente atraídos um pelo outro. Jonah é um adolescente solitário e sarcástico. Bea é uma garota incompreendida pela mãe, uma mulher emocionalmente instável que apelida a própria filha de robô quando ela não consegue expressar sua dor diante da morte de seu bichinho de estimação, um gerbo.

Surpreendendo os colegas, o jovem pálido e reservado, maliciosamente chamado de Garoto Fantasma por seus companheiros, se torna amigo da nova aluna do colégio. E todos ficam mais surpresos ainda quando os dois se envolvem em uma intensa relação platônica.

Imediatamente Bea se dá conta de que tem mais afinidade com Jonah do que com as garotas maliciosas e incomunicáveis que a cercam. Ela passa a confiar cada vez mais no novo amigo, mesmo quando seu passado estranho e trágico vem à tona. Certamente os adolescentes, especialmente os que vivem à margem da vida social, vão se identificar com este conto lunático e sombrio.

Além dos detalhes que permitem a este público a identificação perfeita com os personagens, a autora também tece ao longo da trama várias referências culturais, como os filmes dirigidos por John Waters e o músico ‘outsider’ Daniel Johnston. A narrativa em primeira pessoa, conduzida por Bea, vai cativar o leitor e o enredo imprevisível o manterá engajado até a última linha.

Decididamente Natalie criou nesta obra uma anti-história de amor com todos os contornos de uma narrativa cult e um sabor semelhante ao encontrado em outro livro cultuado pelos jovens leitores, As Vantagens de ser Invisível, de Stephen Chbosky. Pode-se afirmar, sem margem de erro, que ela construiu uma narrativa honesta e complexa que não passa por cima de questões perturbadoras.

Os personagens secundários, especialmente os frequentes programas de entrevistas, são retratados com um peculiar humor dissimulado. Certamente os adolescentes terão uma empatia incomum com as emoções intensas de Beatrice e Jonah, e compreenderão mais que ninguém as razões que os levaram a sentir que foram feitos um para o outro.

Natalie Standiford nasceu na cidade de Baltimore, em Maryland, nos Estados Unidos. Ela trabalhou no departamento de Livros Infanto-Juvenis da editora Random House por três anos, passando de assistente editorial a Editora Assistente. Foi um aprendizado perfeito para alguém que, como ela, já alimentava o sonho de ser escritora.

Logo descobriu que não queria ser editora, e sim autora em tempo integral. Em um período de transição, deixou o emprego efetivo e tornou-se freelancer. Iniciou sua trajetória literária escrevendo e-readers, livros de imagens e obras infanto-juvenis. Atualmente está escrevendo para adolescentes. A autora também toca baixo em uma banda chamada Tiger Beat.

Fontes:

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

"Ainda Não Te Disse Nada" (Mauricio Gomyde)



Posto aqui o livro do Maurício justamente quando ele conquistou um super feito: a obra será publicada nos países de língua inglesa. Não é demais?! O autor merece, pois nenhum outro homem conseguiu traduzir tão bem a alma feminina. Com leveza e delicadeza ele desnuda este universo e conquista o coração de suas leitoras (e dos leitores também, estou certa disso).


Quem não desejaria protagonizar uma história como esta? Apaixonar-se pela intensidade das palavras de um homem misterioso, desconhecido, atemporal? Um elo gerado pela escolha de um momento, guiada por uma força gravitacional que impele dois seres de terras distantes a um destino aparentemente impossível, porém ao mesmo tempo inevitável.

Marina Albertini é uma garota do século XXI, moderna, não consegue imaginar como é possível, nos dias atuais, se corresponder com alguém por meio de cartas; afinal, um e-mail é mais veloz e prático, e o retorno é quase imediato. Por que perder tempo com tantas palavras se basta uma mensagem quase cifrada, bem ao estilo dos torpedos virtuais?

Mas a protagonista não é como as jovens de seu tempo. Embora suas melhores amigas, Thaís, escritora à procura de si mesma, e Francesca, mãe da garotinha Ciça, sejam sonhadoras e no fundo anseiem também por uma realização afetiva, a romântica Marina destoa do mundo em que vive. Ela mais parece uma personagem do século XIX à procura do homem ideal.

Marina é uma jovem linda, inteligente, decidida, talentosa. Filha de um padeiro de origem italiana, criada para seguir os passos do pai, ela deixa a cidadezinha de São Pedro da Serra e vai para São Paulo realizar um de seus maiores sonhos: ser estilista e se destacar no universo da moda.

Marina até poderia ter continuado na pequena São Pedro da Serra (...) Assumir a padaria, sustento dos pais, o caminho natural para a vida. (...) Mas tudo o que ela não queria era ter certeza das coisas. (...) O projeto era viver o mundo da moda, (...) O ofício aprendido desde pequena com a avó, quando sentava a seu lado e costurava as roupas das bonecas do jeito que a velha fazia nas roupas da família, ganhou lugar insubstituível na parte do destino que lhe cabia interferir.

Para financiar os estudos ela trabalha em período integral no Correio. Sua rotina se resume ao trabalho e à parada quase diária na livraria mais próxima, onde através das revistas de moda é transportada para outras dimensões, e nestas esferas mágicas exercita um estilo próprio ao copiar os modelos em voga. Sempre com a cumplicidade de Seu Patrício, o atendente do café.

O próximo desembarque de seu dia-a-dia é o Istituto Europeo di Design, Scuola di Moda a San Paolo; aí ela se diverte com Thaís e Francesca, e dribla as cantadas do professor de fotografia, o sedutor Luca, herdeiro de uma tradicional família italiana, proprietária de uma cantina em São Paulo, com quem manterá um breve e desastroso relacionamento.

No fim da noite a jovem retorna ao apartamento e reencontra Nina, seu peixe de estimação, com quem se identifica profundamente na solidão e na sensação de ser cativa de um tempo ao qual não pertence. Seus momentos de realização pessoal são aqueles em que se dedica ao mundo da moda, especialmente através do blog www.amodademarina.com.br.  Aí ela expõe seu trabalho e recebe um gratificante feedback de suas seguidoras.

Mas o futuro de Marina revela surpresas inesperadas, as quais colocam em cheque suas crenças e a levam até mesmo a questionar suas escolhas profissionais e existenciais. Tudo muda quando ela conhece Júlia, a misteriosa ruiva que uma vez por semana posta uma enigmática carta na mesma agência da protagonista.


Desde o início ela chama a atenção de Marina e de Dona Jane, sua melhor amiga no trabalho e fã incondicional das antigas cartas trocadas entre dois apaixonados. Um dia, no café, ela tem a oportunidade de conhecer melhor a cliente, que se identifica como O Anjo Carteiro.

- (...) Você escreve cartas pra uma pessoa que não conhece, como se fosse outra que também não conhece?
(...) – Mas quem contrata dita as cartas?
- Nada! Quem contrata dá as informações iniciais sobre as duas pessoas e depois vou sozinha, na criatividade.
- Nossa... E funciona?
- Funciona, porque as pessoas pra quem escrevo querem que tudo seja verdade ela parou, fechou os olhos por dois segundos e abriu devagar. – Não é questão de ser ou não verdade... A verdade mora em quem acredita, entende?

A partir deste momento ela se apaixona pela ideia de se passar por outra pessoa com a intenção de levar conforto e bem-estar a pessoas solitárias que nunca mais tiveram contato com entes queridos. Graças ao Anjo Carteiro elas podem ser novamente felizes, mesmo que tudo não passe de uma ilusão.

Pouco tempo depois uma carta de Portugal, destinada à Amada Eterna e enviada para a Caixa Postal 787, vai parar nas mãos de Marina. Tentando encontrar sua destinatária, mergulha em uma jornada sem volta. Ao saber que Julia de LaRocque está morta, não resiste à tentação e acaba lendo a carta.

É imediatamente fisgada pelo encantamento tecido por Heitor em cada linha, e logo descobre que Julia é o Anjo Carteiro que conheceu. Após um breve impasse, Marina assume a identidade da Amada Eterna, Milena Carvalho. A jovem nunca mais será a mesma, pois a cada carta ela se sente mais ligada ao seu autor; e até onde sabe ele é um homem de pelo menos 70 e poucos anos.

Entre pétalas de rosas, cavalos lusitanos, vinho e música portuguesa, Marina é pouco a pouco seduzida por uma história cada vez mais envolvente e pelo poder de palavras que aproximam dois mundos ao mesmo tempo tão próximos e tão distantes. Seria loucura se apaixonar pela alma de alguém?


Gostaria de terminar estas palavras com o trecho de uma das canções que mais gosto, do Pedro, cantor, nascido aqui no Porto. Peço que Lourenço cante para mim todas as vezes que vem cá: “Largo a espera e sigo o sul. Perco a quimera, meu anjo azul. Fica forte, sê amada. Quero que saibas que ainda não te disse nada. Pede-me a paz, dou-te o mundo"...

(...) Não queria admitir, mas estava apaixonada por um monte de palavras, por uma história que não lhe pertencia.

(...) - É muita loucura gostar da alma de alguém?    
  
Nem mesmo a possibilidade de finalmente realizar o sonho de trabalhar em Paris, através de um concurso da revista Elle em parceria com a grife francesa Gus & John, alivia seu coração. A inusitada troca de cartas só acentua sua sensação de não pertencer a este mundo, mas Marina não consegue refrear o estranho impulso de seguir adiante, como se o destino a impelisse rumo a um propósito maior.

Maurício tece esta narrativa romântica com delicadeza, maestria e poesia insuperáveis. Mestre na arte de contar histórias, ele transforma a leitura em uma experiência saborosa e inesquecível. Suas cartas intensas e apaixonadas despertam sonhos e desejos adormecidos e tocam a alma da mesma forma que os acordes mágicos da canção de Pedro Abrunhosa, da qual o autor colheu o título deste livro encantador, cativante, divertido e comovente. É genial o contraste entre dois estilos de vida, representados pelas correspondências apaixonantes e pelos e-mails objetivos e práticos, sem vida.  
      
Não é difícil acreditar que é realmente possível se apaixonar pela magia das palavras, bem como pelas notas de uma melodia. Em Ainda Não Te Disse Nada o autor alia duas de suas maiores paixões: a música e a literatura. Ele se projeta literariamente em Thaís e na sua incessante busca da inspiração. E na esfera musical Maurício se espelha no músico português Henrique Lourenço e também na trilha sonora de Marina para cada momento de sua vida, especialmente naqueles em que cria seus modelos.  


Maurício Gomyde é paulistano, porém atualmente reside em Brasília. É escritor, baterista e compositor. Ele publica suas obras de forma independente através do selo criado pelo próprio autor, o Porto 71. Seu livro de estréia é o Mundo de Vidro. Recentemente o escritor lançou O Rosto Que Precede o Sonho.