Deseja mergulhar em
uma trama policial arrepiante? Recomendo sem hesitar este romance!
É divertido imaginar que Antonio possa
ser o alterego do escritor, pois não casualmente os dois são graduados em
Psicologia, lecionam na Universidade e exercitam a literatura ou, como frisa o
protagonista, uma espécie de ficção jornalística policial. Embora Pastoriza
crie somente em sua língua nativa, o espanhol, e se oculte sob pseudônimos
inusitados.
Apesar de não ser um detetive
profissional e muitas vezes duvidar de seu poder de análise, é sempre indicado para
investigar casos complexos que se desenrolam no contexto universitário. Neste
caso ele é diretor da Faculdade de Psicologia da Bartolomeu Dias e auditor da
Universidade.
Quando Adriana, uma estudante de
Farmácia da Unidade Tijuca, vizinha do Morro do Borel, é atingida em pleno
campus, após uma fuga alucinada pelas ruelas estreitas da favela, o reitor e
proprietário da Universidade, Jaime Ortega, pede a Pastoriza que desvende o
significado de uma letra de funk encontrada junto à aluna e descubra qual a
conexão deste papel com o crime.
Aos poucos uma rede intrincada se
revela. Qual a ligação entre Lucas, o analfabeto que passou no vestibular da
Universidade, e altas figuras da sociedade carioca? Porque ele atirou em
Adriana? O iletrado é realmente um ignorante que mal sabe se expressar? Como
Nicole, ex-namorada do analista, obtém seus furos de reportagem?
Quem é o Doutor? Qual o papel de
Vasconcelos, chefe da Polícia Civil, nesta trama ardilosa? Há algum vínculo entre
a venda de cotas da Universidade para os americanos e o crime no campus? Até
onde iria o senador Raul Silvério, proprietário do Centro Universitário
Provinciano, para destruir Ortega, seu principal adversário?
Pena mergulha no cerne do
conflito entre as milícias e o crime organizado. Duas estruturas marginais que
se revezam nos morros cariocas e dominam seus moradores. É entre esses poderes
paralelos que Adriana acidentalmente se interpõe. Na letra do funk ela inscreve
uma mensagem misteriosa, em torno da qual a trama se desenvolve.
À medida que Pastoriza, com a
parceria e cumplicidade do detetive Rover, segurança da Faculdade, avança em
suas investigações, expõe inevitavelmente as entranhas da Universidade, indicando
os rumos preocupantes do ensino em nosso país. Sua ligação com os meandros da
política, da imprensa e do crime organizado alimenta uma estrutura viciada que
compromete os rumos da educação no Brasil.
Felipe Pena é certamente um bom
contador de histórias. Às vezes divaga ao discorrer sobre a decadência da
educação universitária, principal foco de sua obra. Nestas ocasiões o autor
quebra um pouco o ritmo da trama eletrizante, mas seu poder de unir
perfeitamente todos os fios da trama transforma essas digressões em mais um
artifício narrativo.
O autor intensifica o suspense ao
concluir cada capítulo com uma ponta de mistério. Ele constrói e desconstrói
seu romance policial com desenvoltura e boas doses de ironia. Ao mesmo tempo que
cria uma história saborosa neste gênero tão desprezado no Brasil, ele se sente
à vontade para refletir sobre o mesmo e até para tecer algumas críticas
saudáveis, especialmente através de Pastoriza.
Transparece no texto a paixão do
escritor pelos romances policiais; aqui e ali tece inúmeras referências
literárias, particularmente aos autores deste gênero, como Rubem Fonseca e
Dostoiévski, que explora esta vertente em alguns de seus clássicos. Mas também
cita Freud e Ferenczi em suas viagens psicanalíticas. Mesmo assim Pena não se
enquadra na categoria dos escritores que esbanjam erudição e escrevem para
raros; faz questão de privilegiar o leitor, não os críticos.
Muitas surpresas e reviravoltas
aguardam o leitor nesta jornada. A revelação da identidade do vilão é
surpreendente. Aliás, esta é uma das passagens mais brilhantes do livro. Nela o
autor aproveita para meditar sobre a própria estrutura narrativa do gênero
policial através de seu protagonista, quando assume a posição do leitor e tenta
através de seu olhar descobrir quem é o Doutor. Genial!
Felipe Pena é jornalista,
psicólogo, doutor em Literatura pela PUC-Rio, pós-doutorado em Semiologia pela
Universidade de Paris/Sorbonne III, leciona na Universidade Federal Fluminense,
mas se considera um ignorante por decisão própria. Também escreve roteiros para
TV e crônicas para o Jornal do Brasil. O autor reside no Rio de Janeiro.
Editora: Record
Autor: Felipe Pena
336 Páginas
Ano: 2011
Volume: 1
Preço: R$ 34,90
Capa: Brochura
Formato: Médio
Edição: 1
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