No momento em
que soube do acidente com James McSill, meu mestre e amigo, me veio uma estranha sensação. Foi como se um imortal, de repente, se tornasse mortal.
Todavia, logo depois percebi minha confusão; suas lições é que sempre serão eternas em minhas histórias.
Não só nas que produzi sob sua consultoria, mas em cada palavra que ainda tecerei em minha jornada.
Quando conheci
o James, tinha acabado de concluir um Mestrado na USP, na área de teoria
literária e literatura comparada. Imaginem o choque inicial quando ouvi as
teses do famoso coaching literário. Fiquei quase em choque! Então, hoje, Guimarães
Rosa e Clarice Lispector não se tornariam best-sellers? Detalhe: minha dissertação foi justamente sobre Guimarães Rosa. Precisei de um tempo para digerir essa realidade. Não foi fácil, e ainda não é, deixar de lado ideias tão cristalizadas, os preconceitos que nos contagiam na Academia.
Até então, eu
escrevia apenas poesia, achava que jamais seria capaz de escrever um conto e ficção
era um sonho quase inatingível. Minha mente era praticamente uma fábrica de
ideias, mas eu era muito indisciplinada; começava a criar uma história, depois
abandonava e partia para outra. Enfim, após uma nova experiência com James,
desta vez em Canela, num workshop para produção de livros infantis, decidi. Era
hora de me arriscar nessa aventura incerta.
Foi
arrepiante desde o início. Não sabia nem como ia pagar a consultoria. Mas,
quando me dei conta, eu já estava concluindo meu livro, após uma longa jornada
repleta de obstáculos, dilemas, reflexões, decisões, jump cuts, cliffhangers.
Desta vez, porém, meus objetivos eram claros e firmes, assim, o desfecho foi
feliz. Minha história está aí, pronta para ir ao encontro do leitor.
Além disso,
há um mês lancei meu primeiro livro de contos, A Garota da Luz Dourada, pela editora Scenarium Plural, inspirada
pelas técnicas que o mestre me ensinou. O aprendizado que conquistei certamente me guiará ao longo de minha carreira literária. Basta aprimorá-lo cada vez mais.
Nesse
fim-de-semana, estive no V Congresso Luso-Brasileiro de Autores e Amigos de
James McSill. Senti a presença dele ali, mais que nunca, no
discurso de cada palestrante, nas canções da Ingrid, da Ana Cláudia, do
Leandro, nas homenagens, nas páginas dos livros à venda nos estandes, na
dedicação dos organizadores. Mas, então, me perguntei: por que chorar por ele? Ou se entristecer? Afinal, seu legado é mais forte que a morte. James, com certeza, iria preferir o som cristalino dos risos, histórias divertidas, a ironia fina e anedotas criativas. E, claro, ser imortal como os fados e os acordes de Imagine.
Fotos do Congresso:
Equipe Book in a Box |
Eu e Ken Shaw |
Portugal em peso |
Lançamento da Revista Pense Mais |
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