Se alguém procura um portal mágico por onde seja possível compreender mais a fundo as mensagens transmitidas pelos desenhos encantados da Pixar, a chave está neste livro de Robert Velarde. Em suas páginas é possível encontrar não interpretações fechadas e dogmáticas, mas esforços bem-sucedidos de compreensão das animações que, a cada ano, cativam crianças e adultos com suas imagens e histórias sedutoras.
Nesta obra o autor extrai conteúdos preciosos das produções da Pixar Animation Studios, e os analisa de uma perspectiva cristã, com apoio na Bíblia e também na Filosofia. Ele também deixa margem para a interpretação pessoal de cada leitor ao apresentar a visão do estúdio e os resumos de cada enredo.
Embora possamos estar assistindo a brinquedos ou carros que ganham vida, ou monstros, ou até mesmo ratos, os personagens criados pela Pixar possuem características de realidade com as quais podemos nos identificar. Além disso, em nosso mundo obscuro e muitas vezes negativo, os filmes da Pixar oferecem esperança, imaginação, beleza e um grau de pureza e inocência que chegam a ser considerados contraculturais em nossa época.
A Pixar se constituiu como empresa autônoma em 1986, sendo posteriormente adquirida pela Disney em uma transação financeira que envolveu 7,4 bilhões de dólares. Ela vem colecionando sucessos de público a cada criação produzida por uma tecnologia virtual cada vez mais sofisticada.
Robert deixa claro, na Introdução, que não tem a intenção de converter as animações em parábolas cristãs, nem de induzir o leitor a crer que a Pixar tem o objetivo consciente de transmitir uma lição evangélica subjacente aos roteiros de seus desenhos. Ele apenas busca, em cada uma delas, a presença de virtudes como identidade, justiça, amizade, humor, família, coragem, entre outras, que compõem os capítulos desta obra.
Nos dois primeiros ele expõe um ponto de vista mais amplo das ideias que orientam este livro: virtude, sabedoria, esperança e imaginação. Nos demais o escritor explora os temas-chave da obra a partir da interpretação de um filme específico, embora outras animações sejam também debatidas no que se refere à temática enfocada.
A imaginação é parte da natureza humana e a chama criativa está em nossa constituição. (...) A Pixar claramente valoriza a criatividade e a imaginação. Juntamente com a ênfase colocada em contar uma boa história, os filmes da Pixar se desenvolvem a partir de personagens e cenários criativos, frutos da imaginação. As animações não ignoram as únicas e variadas expressões da criatividade artística nos seres humanos. Ratatouille, um filme sobre um rato que quer ser um chef de cuisine, é bastante claro no que diz respeito a sua admiração pela imaginação humana.
O autor acredita que os filmes da Pixar não só divertem o público, mas vão “Ao infinito... e além!”, como sempre nos adverte o personagem de Toy Story, o patrulheiro espacial Buzz Lightyear. Esta frase convida o espectador a criar uma perfeita identidade com as realidades imaginárias concebidas pelos produtores deste estúdio, os quais se valem, principalmente, da criatividade e da imaginação.
Os capítulos do livro têm basicamente a mesma estrutura; ao discutir, por exemplo, a questão da identidade, Robert elege o filme que irá guiar este debate – neste caso, Toy Story –, oferece dados básicos sobre sua produção, introduz o conceito que será analisado, revela sua perspectiva bíblica, o ponto de vista da Pixar e então se aprofunda na interpretação da animação principal, deixando igualmente espaço para a apresentação de um ou mais desenhos que se relacionem ao mesmo tema.
Para captar as maravilhas naturais a partir da perspectiva das formigas, a equipe da Pixar criou o que eles chamaram de bug-cam (câmera-inseto, em tradução livre). O dispositivo em miniatura tinha uma câmera acoplada que filmaria do ponto de vista de uma formiga, ou seja, como seria para formigas rastejar pelo chão e olhar para flores, folhas, árvores e outros objetos.
No final de cada parte há questões para discussão que podem ser essenciais não só para o próprio leitor testar seu entendimento do texto e das produções abordadas, mas principalmente para debates coletivos, os quais podem ser inclusive encenados no ambiente escolar, pois alguns dos tópicos propostos são mais amplos, excluindo o viés religioso, que no contexto educacional pode, às vezes, ganhar uma conotação mais polêmica. Além disso, no Anexo C há um Guia para discussão sobre os filmes, o qual pode enriquecer ainda mais a troca de ideias.
Outros anexos completam o livro. No primeiro há um breve resumo das dez animações enfocadas nesta obra: Toy Story 1 e 2; Vida de Inseto; Monstros S. A; Procurando Nemo; Os Incríveis; Carros; Ratatouille;Wall-E e Up – Altas Aventuras. Toy Story 3 não chegou a ser incluída entre as produções da Pixar, talvez por ser muito recente. No segundo o leitor encontra uma lista dos dez curtas que acompanharam, no cinema ou em DVD, os longas criados pelo estúdio.
O exercício que Velarde nos propõe em A Fábrica de Sonhos da Pixar é rico e estimulante, principalmente quando o mundo moderno atravessa uma profunda crise de valores e um surto de ceticismo e materialismo sem precedentes. Sua análise nos leva a admirar ainda mais as produções deste estúdio cinematográfico, a correr para assistir os desenhos que perdemos e a rever os outros com um novo olhar.
Entre outras questões, o autor nos questiona sobre a importância da identidade, de sabermos quem somos, qual o propósito de nossa existência, a partir da crise vivenciada pelo personagem Buzz Lightyear, o qual não tem, a princípio, consciência de ser apenas “um brinquedo de criança”.
Quando cai no chão, Buzz quebra um braço e fica frustrado, impotente e confuso. “Eu sou apenas um brinquedo, um brinquedo estúpido e insignificante”, diz. (...) Woody esqueceu que ensinara para Buzz que “a vida só vale a pena quando a gente é amado por uma criança”. Nesse caso, Woody sabe que é um brinquedo, de modo que esse aspecto de sua identidade não é misterioso. Entretanto, ele está lutando contra outro aspecto de sua identidade, ou seja, o que é que ele deve fazer como um brinquedo? De modo similar, cada um de nós sabe que é humano, mas o que é que devemos fazer conosco como seres humanos?
Outro tópico fundamental é o da família, debatido a partir do filme Procurando Nemo. O amor paterno é o principal viés deste debate; através do sentimento possessivo de Marlin pelo filho Nemo, construído essencialmente por meio do medo da perda, o autor desenvolve uma bela discussão sobre a paternidade, o poder da fé, a importância da jornada existencial para o aprendizado e a evolução espiritual.
Cada capítulo é uma profunda lição de vida, um mergulho na alma humana. Este é, com certeza, um livro imperdível para pais, filhos, alunos, professores, humanos em geral. Ele nos leva a refletir sobre a qualidade de vida no mundo enlouquecido em que vivemos; muitas vezes estamos tão envolvidos em sua velocidade frenética que mal temos tempo para pensar em nossa própria caminhada.
À beira do pânico, Marlin diz: “Eu tenho que sair daqui! Eu tenho que achar meu filho! Eu tenho que contar para ele quantos anos as tartarugas vivem!” O que é tocante nessa cena é o incrível poder do amor paterno mostrado por Marlin. Tudo o que ele quer é continuar a busca por seu filho. (...) Um jogo de palavras ressalta o ponto. “Ela [a baleia] disse que a gente precisa soltar logo”, diz Dory. “Vai dar tudo certo”. (...) O jogo de palavras é uma metáfora para a paternidade. Às vezes os pais têm de soltar e confiar que seus filhos estarão bem. Obviamente, não sabemos ao certo se algo de ruim pode realmente acontecer, mas não podemos carregar esse peso para sempre.
Robert Velarde é integrante da Sociedade Evangélica Teológica, da Sociedade Filosófica Evangélica, da Sociedade dos Filósofos Cristãos e da Sociedade Internacional de Cristãos Apologéticos. Ele mora com a esposa, quatro filhos e inúmeros objetos da Pixar em Colorado, nos Estados Unidos.
Nossa gostei muito da resenha e do livro também, flor tem selo pra você no meu blog...beijoaks elis!!!!
ResponderExcluirOie!!! Adorei a resenha ainda mais por ainda não conhecer esse livro. Os filmes da Pixar sempre são ótimos e arrasam na qualidade.
ResponderExcluirJá estou seguindo seu blog ok? Quando puder dá uma passadinha no meu. =D
Bjusss
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