Pessoal, esse é um livro realmente especial. Embora seja hoje um
sucesso na lista dos mais vendidos na categoria de negócios, ele tem o poder
mágico de transformar cada um de nós. Basta ler, exercitar e querer.
Aliás, mesmo quando não temos a
oportunidade de vivenciar a liderança, alguns conceitos ainda assim se aplicam
a nossa existência. É fundamental refletir sobre os princípios que a coach,
Beatriz Sampaio, transmite ao protagonista, o gerente Lúcio Queiroz.
Logo na Introdução a autora
esclarece que se inspirou em vários gerentes que passaram por seu consultório
na criação de seu personagem. Assim, fica claro que seu perfil psicológico não
é mera ficção, e sim fruto de uma realidade ainda persistente em nossos dias. É
curioso perceber que não é uma questão de faixa etária, pois Márcia enfatiza
que muitos deles são mais novos que seu explosivo empresário.
E garanto que qualquer semelhança com a realidade não terá sido mera
coincidência. Não inventei nada, nenhuma das atitudes extremas do personagem,
por incrível que possa parecer, foram fruto de minha imaginação. Apenas misturei
episódios protagonizados por alguns gerentes que conheci em meus 20 anos de
trajetória como formadora de gestores.
Lúcio é diretor comercial do
Grupo Brandão. Ele é casado há mais de vinte e quatro anos com Vera, mas seu
empenho obsessivo na esfera profissional provocou o fim de seu matrimônio. Não
suportando mais a desatenção e a indiferença, a esposa pede a separação e se
afasta definitivamente do marido, embora seu coração ainda insista em ser fiel
a ele.
O executivo segue em sua jornada
autodestrutiva. Educado em um contexto repressor, guiado pela diretriz de que
‘manda quem pode e obedece quem tem juízo’, ele alimenta uma mentalidade
conservadora e um gênio terrível. Discípulo dos preceitos exercitados por antigos
gestores, ele acredita realmente que está agindo corretamente ao intimidar,
desrespeitar, julgar, acusar e demitir seus funcionários, sem ao menos ouvi-los
ou dar-lhes uma segunda oportunidade.
Ele passa como um trator sobre
todos, sem sequer se importar com as conseqüências. Tudo que deseja é superar
metas a cada ano e preparar a seara para que seu filho, Alexandre, assuma
posteriormente a presidência da empresa. Lúcio não percebe, porém, a dimensão
do abismo que se estabelece entre ele e seu herdeiro.
Alexandre, seu pai tem dez anos a mais do que eu. Isso não é desculpa
para ser tão retrógrado, eu sei. Ele aprendeu a gerenciar por tentativa e erro.
Foi criado num mundo onde o militarismo imperava. O “manda quem pode obedece
quem tem juízo” era considerado o lema da época. Lúcio sempre teve dificuldade
para se relacionar com gente, então se escondia atrás de uma carga monstruosa
de trabalho. (...) Olha, todos temos na cabeça o pai ideal e o pai real. Amadurecer
é perceber que o pai ideal não existe.
Alexandre representa novos
valores, mudanças de paradigmas irrefutáveis, um modelo de gestão mais humano,
que dá ênfase ao diálogo, ao respeito, à compreensão do outro. Aos poucos esse
choque de ideais e de visão de mundo gera uma distância inevitável entre pai e
filho. A ruptura total se concretiza em um episódio envolvendo Suzana, uma das
vendedoras do Call Center.
Lúcio se irrita com ela quando a
jovem transmite uma informação incorretamente; sem nem mesmo se importar com
sua gravidez avançada, ele a agride verbalmente e chega ao auge da cólera
quando a gerente da equipe intervém; irado, bate a porta com tanta intensidade
que ela se despedaça em milhares de fragmentos. Suzana imediatamente procura
Alexandre, receptivo e atento com os subordinados.
Alexandre fica chocado com a
atitude paterna; os dois travam uma discussão acalorada e o jovem pede
demissão. Além disso, avisa ao pai que irá trabalhar com seu maior adversário,
Jairo Martins, outro representante da gestão moderna. Tudo se agrava quando o
jovem deixa o apartamento que divide com Lúcio.
O coração do protagonista não
resiste e ele quase morre. A partir deste momento ele passa a refletir sobre
sua vida, especialmente porque não recebe uma única visita no hospital. É neste
contexto que conhece Beatriz Sampaio, voluntária no Cardio Help. A princípio
ele não aceita ajuda, mas logo desmorona diante da doçura e da competência da
coach.
O fundo do poço não era o lugar onde eu queria estar nesta tarde de
sábado. Mas como poderia me sentir de outra forma deitado num leito de hospital
depois de quase morrer? O que me vem à cabeça não são flashbacks ou simples
recordações do passado; a minha estória pregressa me afeta hoje, me afeta nesse
momento, embora lá vão pelo menos dez anos desde que meu mundo começou a
desabar.
Gradualmente Lúcio percebe que
não pode mais continuar agindo da mesma forma. Disposto a mudar, ele se alia a
Beatriz e com sua assessoria vai tecendo sua mudança interior e uma nova
concepção de gestão. O primeiro passo é conhecer a si mesmo; o segundo é
perceber como é visto pelos demais; o terceiro é se aceitar totalmente; o
quarto é despertar no íntimo o seu melhor. Aqui permito ao leitor que caminhe
até a conclusão da narrativa e descubra por si mesmo a quinta lição, a mais
significativa, essencial para todos.
Uma etapa de cada vez, Lúcio vai
superando obstáculos e dificuldades e vencendo seu pior adversário, ele mesmo. Aprende
a buscar a opinião dos outros sobre suas atitudes, e a dar o feedback positivo
a seus subordinados. Encontra em sua essência forças para se controlar,
humildade e o poder de amar e perdoar.
Quem de nós nunca sentiu a
necessidade de se modificar, de consertar erros cometidos, de reconhecer suas
fraquezas, de estabelecer intimidade com as pessoas a nossa volta, de perdoar e
ser perdoado? Este livro permite ao leitor se tornar um ser humano melhor se
estiver disposto a percorrer o mesmo caminho seguido por Lúcio Queiroz.
Márcia presenteia o leitor não
somente com um livro, mas antes de tudo com um roteiro que nos permite
conquistar uma segunda oportunidade. Marcas e cicatrizes permanecem, mas mesmo
elas nos preparam para o necessário amadurecimento emocional e espiritual, e
assim um novo eu pode emergir e alçar vôos mais ousados.
Li somente com os olhos, mas vez por outra os lábios acompanhavam:
Quando diz coisas estando em
momentos de raiva, suas palavras deixam marcas como essas. É o mesmo que enfiar
uma faca em alguém, e depois retirá-la. Não importa quantas vezes peça
desculpas, a cicatriz continuará lá. Uma agressão verbal é tão ruim quanto uma
agressão física.
É. A cicatriz ficou. O desafio é não produzir outras.
A trama, bem estruturada e
inteligente, diverte e ao mesmo tempo emociona o leitor. A leitura é leve,
fluida e saborosa. E proporciona momentos de indispensável reflexão. A capa é
criativa, lembra na verdade uma história apocalíptica, atmosfera que traduz
perfeitamente a sensação de aniquilação de um velho ser e seu renascimento.
Editora
DVS, 2012
Autora: Márcia Luz
Origem: Nacional
Edição: 1
176 Páginas
Preço: R$
18,50
Capa:
Brochura
Formato:
Médio
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