Este é um dos livros mais marcantes, perturbadores e surpreendentes que já li. Quando iniciei sua leitura, que por si só já é uma jornada existencial de autoconhecimento, descobertas e transformações, não poderia jamais imaginar que cada página me levaria de um mergulho completo nas sombras até um novo despertar.
Assim, o leitor mais atento pode se tornar a companhia ideal de Alice, a protagonista, em sua viagem ao encontro de si mesma e das respostas que tanto busca; eles poderão seguir juntos e compartilhar cada questionamento, dúvida, reflexão, confusão e angústia.
Nos outros bancos, pessoas rezavam fervorosamente para agradecer, pedir auxílio, achar conforto... Deus atendia suas preces, disso eles tinham certeza, mas nem sempre era como eles queriam, porque Ele sabe o que é melhor para todo mundo e, às vezes - e a Aliança no altar lembrava isso -, era preciso agir duramente com os humanos para que eles entendessem. Bom, isso era o que ela costumava pensar.
Nos outros bancos, pessoas rezavam fervorosamente para agradecer, pedir auxílio, achar conforto... Deus atendia suas preces, disso eles tinham certeza, mas nem sempre era como eles queriam, porque Ele sabe o que é melhor para todo mundo e, às vezes - e a Aliança no altar lembrava isso -, era preciso agir duramente com os humanos para que eles entendessem. Bom, isso era o que ela costumava pensar.
O prólogo do livro indica uma trama eletrizante e nos leva a alimentar vastas expectativas relativas ao desdobramento da história. Mas quem espera por uma sequência ininterrupta de ação e suspense acaba se decepcionando no início da narrativa, que se passa mais no interior de Alice. Esta etapa, porém, é fundamental para o desenvolvimento do enredo, e exige uma boa dose de atenção e concentração.
É neste momento que o autor apresenta sua personagem, talvez uma espécie de alterego, por meio da qual ele mesmo revela sua visão sobre Deus, ou melhor, a evolução de seu ponto de vista. Á medida que os dilemas interiores de Alice se tornam familiares, nos convidando, muitas vezes, a partilhar de suas indagações e questões, a trama vai adquirindo outras tonalidades e conquistando outros rumos. Quando o leitor se dá conta, já está totalmente envolvido e não consegue mais se desligar da história.
Nascemos para nos encontrar com ele e viver em Sua Paz eternamente, após a morte. (...) Entretanto, a questão continua a se aplicar: por quê? Por que um ser Onipotente, Onisciente e Onipresente precisaria de seres inferiores como nós? Para fazer o quê? A pergunta ficava no ar, naquele ar pesado, preso no apartamento há dias e que zanzava pelos cômodos, sem se reciclar, já que nenhuma janela ou porta havia sido aberta.
Nascemos para nos encontrar com ele e viver em Sua Paz eternamente, após a morte. (...) Entretanto, a questão continua a se aplicar: por quê? Por que um ser Onipotente, Onisciente e Onipresente precisaria de seres inferiores como nós? Para fazer o quê? A pergunta ficava no ar, naquele ar pesado, preso no apartamento há dias e que zanzava pelos cômodos, sem se reciclar, já que nenhuma janela ou porta havia sido aberta.
Há dez anos a cidade de São Paulo, considerada o centro do pecado e da corrupção, das sombras e do desprezo aos ensinamentos do Criador, foi destruída, supostamente por um Deus colérico que se volta contra suas criaturas quando perde as esperanças com relação à Humanidade.
Alice perde a mãe nesta tragédia que se abateu sobre uma das maiores metrópoles do Planeta, e agora seu pai também está morto, e tudo indica que ele cometeu o suicídio. A jovem, porém, não consegue acreditar nesta versão. Após permanecer algum tempo isolada em seu apartamento, sem forças para continuar a viver, ela decide sair em busca de respostas. Não só em relação à morte de Alberto Villela, mas também e talvez principalmente no que diz respeito a Deus e ao que ela considera Sua máxima traição.
Estátuas de sal, lembrava-se da expressão. Ela designava um suicídio em massa. Desde o incidente em São Paulo, muitas pessoas se suicidaram nas cidades que faziam fronteira com a antiga capital. Em todos os casos, os suicidas deixaram cartas (...) Algumas cartas ainda chegavam a atacar Deus, discordando de sua atitude de destruir a cidade, afirmando que "não fazia sentido". (...) O nome era uma referência à mulher do profeta Ló da história de Sodoma. (...) A mulher, no entanto, no momento da destruição da cidade, virou-se e transformou-se em uma estátua de sal.
Estátuas de sal, lembrava-se da expressão. Ela designava um suicídio em massa. Desde o incidente em São Paulo, muitas pessoas se suicidaram nas cidades que faziam fronteira com a antiga capital. Em todos os casos, os suicidas deixaram cartas (...) Algumas cartas ainda chegavam a atacar Deus, discordando de sua atitude de destruir a cidade, afirmando que "não fazia sentido". (...) O nome era uma referência à mulher do profeta Ló da história de Sodoma. (...) A mulher, no entanto, no momento da destruição da cidade, virou-se e transformou-se em uma estátua de sal.
Para continuar viva, a protagonista precisa encontrar o sentido da existência, agora que o Criador decidiu aniquilar seus filhos; afinal, porque Ele os criaria para logo depois destruí-los? Ao receber uma enigmática correspondência, ela segue as pistas nela contidas e inicia uma jornada que a conduz até as ruínas de São Paulo, na qual a entrada de qualquer ser vivo foi proibida após o evento apocalíptico que a atingiu.
Da morte, da destruição, surgia a vida. Não era assim no mundo inteiro, desde o começo? O ciclo da vida e da morte. Os átomos que compunham o corpo de Alice já compuseram uma árvore, um animal, outra pessoa. A própria alimentação já representava esse ciclo. Matar para viver, mesmo que fosse tirar a vida de um vegetal. Morte e vida se completam, pensou. São lados da mesma moeda. Um não existe sem o outro.
Nestes dias sombrios em que estamos mergulhados, esta é com certeza uma leitura indispensável. Ao longo do caminho o autor transmite, por meio de enigmas e inusitadas profecias, profundas reflexões sobre a Divindade, tolerância religiosa, o Demônio, o bem e o mal, a vida e a morte, entre outras tantas questões que afligem a alma humana.
André Cardinali é certamente um jovem atípico. Com apenas 23 anos ele já escreveu quatro romances, é graduado em Rádio e TV, atua como roteirista, repórter, compositor e escritor. Nascido em Piracicaba, no interior de São Paulo, aos 7 anos ele já surpreendia a professora de Português com suas redações. Estátuas de Sal é sua primeira publicação, uma iniciativa da Editora Novo Século, que dedica um de seus selos editoriais aos novos talentos brasileiros.
Autor: CARDINALI, ANDRÉ
Editora: NOVO SÉCULO
Assunto: LITERATURA NACIONAL - DRAMA
ISBN: 9788576793755
Origem: NACIONAL
Ano: 2010
Edição: 1
Número de Páginas: 296
Acabamento: BROCHURA
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