domingo, 22 de maio de 2011

"Beautiful Creatures - Dezesseis Luas" (Margaret Stohl/Kami Garcia)



Olha só, pessoal, esta série promete ser a melhor no estilo da ficção sobrenatural, a julgar pelo que o primeiro livro, Dezesseis Luas, provoca no leitor. Cada página é um manjar saboroso que nosso olhar percorre não apenas com a obrigação de seguir adiante até alcançar a última linha, mas também e principalmente com o prazer supremo da leitura de uma narrativa que nos envolve, seduz e hipnotiza, como um ato mágico.
O vestido de Lena caía sobre o corpo, justo nos lugares certos mas sem parecer coisa do Little Miss, em um tecido prateado, tão delicado quanto uma teia de aranha prateada, tecida por aranhas prateadas.
A história é narrada na primeira pessoa por um adolescente – sim, desta vez o ponto de vista é masculino, cedendo voz à esfera feminina em apenas uma passagem da trama; mesmo assim é possível ouvir Lena, que divide o espaço principal do enredo com o narrador, Ethan, como se ela estivesse se dirigindo diretamente ao leitor, tal a sintonia desenvolvida entre estas almas unidas pelas forças que regem o destino.
Tudo se passa no condado de Gatlin, na Carolina do Sul, uma pequena comunidade que, como descreve o protagonista no prólogo, parece estar perdida no meio do nada; em sua superfície é um lugarejo parado no tempo, preso nas teias do passado, no período da Guerra Civil norte-americana ou Guerra da Secessão, quando o Norte e o Sul lutaram entre si.
Gatlin não era um lugar complicado; Gatlin era Gatlin. (...) Nada mudava nunca. Amanhã seria o primeiro dia de aula, no segundo ano do ensino médio na escola Stonewall Jackson High, e eu já sabia tudo que iria acontecer: onde eu me sentaria, com quem eu falaria, as piadas, as garotas, quem estacionaria onde.
Não havia surpresas no condado de Gatlin. Éramos nada mais nada menos do que o epicentro no meio do nada.
Seus habitantes vivem em função de uma história nada gloriosa, na qual seus ancestrais se rebelaram contra a União, unidos em uma Confederação, com o objetivo de defender sua postura escravagista, essencial para desenvolver a cultura do algodão, uma compensação por seu atraso econômico em relação ao Norte.

Naturalmente eles foram derrotados; e durante o confronto muitas vidas se perderam. Mesmo assim as mulheres ainda se unem em instituições como o FRA, Filhas da Revolução Americana, na qual cada integrante tem que ser realmente descendente de um patriota desta Revolta. Os homens, por sua vez, se preparam todo ano para a Encenação da Batalha de Honey Hill, um dos poucos episódios da Guerra Civil no qual foram vitoriosos. Para isso eles desenterram os uniformes e armas de seus ancestrais e recriam a atmosfera de uma era da qual não conseguem se libertar.
As encenações da Guerra Civil são um fenômeno bizarramente estranho, e a Encenação da Batalha de Honey Hill não era exceção. (...) Quem queria correr por aí atirando com armas antigas que eram tão instáveis que eram famosas por estourar membros das pessoas quando disparadas? (...) Quem ligava para recriar batalhas que aconteceram em uma guerra que ocorreu há quase 150 anos e na qual o sul não venceu? Quem faria isso?
Em Gatlin, e na maior parte do sul, a resposta seria: seu médico, seu advogado, seu pastor, o cara que conserta seu carro e o que entrega sua correspondência, provavelmente seu pai, todos seus tios e primos (...) e certamente o dono da loja de armas da cidade.
Neste cenário sufocante Ethan Wate sente-se profundamente deslocado; órfão de mãe, herdeiro de seu espírito rebelde e independente, abandonado pelo pai, que vive trancado no escritório, supostamente escrevendo um livro interminável, desde a morte da esposa, e criado por Amma, uma mulher misteriosa que segue a tradição familiar de se comunicar com os espíritos e guarda em sua mente um arsenal infinito de feitiços e vodus protetores, o jovem sonha em partir de Gatlin assim que terminar o colégio.
É então que ele conhece Lena, a garota que chega à cidade para subverter os acontecimentos e revelar o que se esconde nas entranhas da província; Ethan vai descobrir, pouco a pouco, que nada é o que parece ser e Gatlin não é simplesmente um recanto perdido no meio do nada.
Lena é a sobrinha de Macon Ravenwood, proprietário da fazenda mais antiga da região; embora sua família seja praticamente a mais tradicional de Gatlin, é vista com desconfiança e mal-estar por todos da cidade, pois o tio da jovem está recluso em sua propriedade há mais de quinze anos. Sua casa e suas terras são consideradas mal-assombradas e as mais terríveis e macabras histórias circulam sobre o que se passa no interior de Ravenwood.
Um rabecão. Fiquei paralisado.
Então ela se virou, e pela janela aberta pude ver uma garota olhando em minha direção. Pelo menos pensei ver. (...) O mau presságio não era apenas um rabecão. Era uma garota. (...)
Macon Melchizedek Ravenwood era o recluso da cidade. Vamos apenas dizer que eu lembrava o bastante de O Sol é para Todos para saber que o Velho Ravenwood fazia Boo Radley parecer um cara extremamente popular. Ele morava em uma casa velha em ruínas, na fazenda mais antiga e abominável de Gatlin, e acho que ninguém o via desde antes de eu nascer ou mais.
Como toda pequena comunidade, os habitantes de Gatlin hostilizam Lena desde o início, com exceção de Ethan e de seu melhor amigo, Link. Ao conhecê-la, o protagonista percebe imediatamente que ela é a garota que invade seus sonhos todas as noites, desde a morte da mãe. Na verdade são pesadelos nos quais constantemente ele tenta salvá-la, mas Lena escapa de suas mãos e cai em um terrível abismo.
A partir deste momento sentimentos como medo, intolerância, ódio e preconceito despertam em Gatlin, direcionados a Lena e a quem permanecer ao seu lado. Ela traz em seus olhos verdes temíveis tempestades, não só no sentido metafórico, mas também literalmente. Estranhos acontecimentos se desencadeiam naquela que parecia ser uma pacata cidade, e Ethan vai finalmente descobrir a outra Gatlin que se oculta sob a que sempre conheceu.
Mas ninguém acreditou que a explicação podia ser uma janela velha e o vento. Acreditavam mais na sobrinha de um velho e uma tempestade com relâmpagos. A tempestade de olhos verdes que tinha acabado de se mudar para a cidade. O furacão Lena. Uma coisa era certa: o tempo tinha mudado mesmo. Gatlin nunca tinha visto uma tempestade assim. (...)
Mas alguém tinha que fazer alguma coisa. Uma escola inteira não podia derrubar uma pessoa assim. Uma cidade inteira não podia derrubar uma família. Só que, na verdade podiam, porque sempre tinham feito isso.

De suas descobertas vai depender seu futuro ao lado de Lena, e o da própria jovem, que luta contra o relógio, pois uma terrível maldição paira sobre a noite de seu aniversário de 16 anos. Para salvar seu amor, Ethan tem não só que vencer o tempo presente, mas também o passado, enraizado no período da Guerra Civil, além das proibições de suas famílias.
Este é um livro sobre a força do amor contra as fogueiras da intolerância, as sombras e luzes presentes em cada um, o poder das nossas escolhas, a oportunidade de conhecer e aceitar o outro e a diferença, ao invés de reencenar constantemente a velha história das Inquisições.
Um mês antes, eu não teria acreditado, mas agora eu sabia bem. Aqui era Gatlin. Não a Gatlin que eu achava que conhecia, mas alguma outra Gatlin que aparentemente tinha ficado escondida bem à minha vista o tempo todo. (...)
Parecia não haver nada inacreditável demais para esta Gatlin. É engraçado como a gente pode morar em um lugar a vida toda e mesmo assim não vê-lo de verdade.
Sua narrativa poética nos envolve – aliás, a literatura, especialmente a poesia, entretece com intensidade a trama eletrizante que nos prende do início ao fim da leitura; e o mais incrível é que, após percorrer 485 páginas, nosso maior desejo, no final, é que a história não termine; aliás, já poderíamos embarcar sem hesitar em sua sequência.
Esta obra é fruto da parceria de duas novas autoras que realmente prometem em termos de talento e de sintonia. Kami Garcia é a garota sulista, traz em sua alma as mais variadas crendices, adora assar pães e tortas. Como diversos personagens da narrativa, ela também é descendente de patriotas da Guerra e alguns de seus familiares integram As Filhas da Revolução Americana. Ela é mestre em Educação.
Margaret Stohl nos lembra Lena, pois enfrentou igualmente inúmeros problemas desde os seus 15 anos. Ela trabalhou muito tempo escrevendo e elaborando videogames populares. Apaixonada por literatura americana, a escritora é mestre em inglês na Universidade de Stanford e estudou escrita criativa. Este é o primeiro romance de ambas, que moram na Califórnia com seus familiares.


Editora: Galera Record

Autor: Kami Garcia e Margaret Stohl

ISBN: 9788501086914

Origem: Nacional

Ano: 2010

Edição: 1

Número de páginas: 490

Acabamento: Brochura

Formato: Médio

Volumes: 1

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