domingo, 29 de julho de 2012

Pelos Telhados do Mundo


No dia 26 a Fadinha Pituka completou duas semanas na esfera espiritual. Como a saudade apertou, decidi contar mais sobre ela nesta página. Como toda gata, ela adorava passear e rolar nos telhados da vida. Mas gostava ainda mais de ser resgatada, e por isso sempre fingia ter medo de voltar; assim atraía a atenção de todos e alguém sempre ia ao seu encontro para salvá-la dos seres que habitam a noite.


Minha abelhinha tinha um recanto preferido, bem atrás da caixa d’água do vizinho. Ela amava se esconder ali e ver todos desesperados a sua procura. Mas lá era justamente o lugar mais difícil de retornar, e impossível de se alcançar. Havia uma altura vertiginosa do telhado ao chão, e um mínimo espaço para o salto do gato, ou melhor, da gata.

Qual a saída senão improvisar uma caixa exatamente do seu tamanho e estendê-la sobre o abismo com a ajuda de um cabo longo e de muita perícia, não a minha, certamente, pois não tenho essa habilidade. Restava sempre convencer a Pitukinha a entrar nesta arca encantada e, então, içar e trazer de volta a gatinha sapeca. Uma vez tudo realmente se complicou e quase tive que chamar o bombeiro. Ela já queria ser famosa nesta época.

Como em toda história, sempre há um ou mais vilões. Em um de seus passeios diurnos pelo alto das casas da vizinhança, a Fadinha simplesmente desapareceu. Fiquei desesperada; procurei pelas ruas do bairro e... nada! Mobilizei toda a criançada, de repente todas queriam demais encontrar minha gatinha, mesmo sem conhecê-la. Quando anoiteceu, minhas esperanças começaram a esmorecer e meu estômago naufragou, assim como meu coração. Sem saber o que fazer, fui meditar sob o chuveiro, tanto quanto minhas lágrimas permitiram.

Mas, sem meu conhecimento, a garotada prosseguiu na busca. Afinal, criança tem energia de sobra! Quando saí do banho a campainha de casa tocou, e meu coração quase parou. Alguns garotos ali estavam, e traziam boas-novas. Eles tinham visto uma gatinha no estacionamento do Museu de Osasco, muito próximo de onde moro, e ela se parecia muito com a Pitukinha; minha descrição dela era realmente perfeita!

Fadinha Pituka e sua mãe Milly



Corri até o local com uma orquestra percussiva tocando em meu peito e sem nem sentir minhas pernas. Quando finalmente cheguei mal pude acreditar. Ela estava ali; apesar da escuridão, eu sabia que era minha gatinha. Como o lugar estava trancado, ninguém sabia o que fazer. A fadinha estava com muito medo e não parava de miar, mas não vinha ao encontro dos desconhecidos que se propuseram a pular o portão. Aos poucos, porém, eu a acalmei e foi possível resgatá-la.

Fui para casa ainda tremendo, mas feliz por levar a Pitukinha no colo. Nesta época ela usava uma coleira, e só depois me dei conta de que ela estava enroscada em sua pata. Concluímos que alguém a tinha empurrado do telhado; só assim ela poderia ter caído naquele recanto sombrio com a coleira envolta em sua patinha; suspeitamos de um vizinho que morava atrás da minha casa, e tinha fama de ser rabugento e não suportar animais. Deus foi muito generoso com a Pituka naquela ocasião, pois ela poderia até ter se enforcado. Minha primeira providência foi jogar fora este objeto inútil, embora ele até fosse charmoso, pois tinha inclusive uma sinetinha que sempre anunciava sua chegada.

Com o tempo a idade foi se aproximando, os problemas na coluna apareceram, e a Pituka foi reduzindo suas caminhadas pelos telhados do mundo. Quando o Ryan, meu cachorro, desembarcou em nosso quintal e fez morada na laje de casa, plataforma de onde a fadinha sempre partia para seus passeios, ela desistiu definitivamente de suas andanças nas alturas.

Com certeza a fadinha tinha saudades desses tempos mágicos, como nós de nossa infância e das brincadeiras, mas pelo menos ela não reprimiu a criança que morava em sua essência. Apenas assumiu outras folias e diversões. E assim foi até o fim; mesmo doente a Pitukinha ainda ensaiava, de vez em quando, uns trejeitos marotos, e adorava pousar o queixo em minha mão e fechar os olhinhos, ouvindo canções e sonhando com o paraíso reservado aos seres mágicos.

Aguardem mais histórias surpreendentes e vilões inacreditáveis. Saibam como a Pitukinha gastou realmente suas sete vidas!

Um comentário:

  1. Nossa que Pitukinha arteira...gostei muito da história amiga, e espero poder ler mais sobre ela por aqui. Eu tenho uma cachorrinha que amo tanto, mas tanto, que me dói o coração deixá-la em casa e vir para o trabalho, incrível como eles parecem pessoas quando se integram na nossa família. A amo tanto que cuido sempre a hora de chegar em casa para fazermos a festa, mesmo que ela tenha virado tudo de perna pro ar.

    Beijoaks elis
    http://amagiareal.blogspot.com.br/

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