No dia 26 a Fadinha Pituka
completou duas semanas na esfera espiritual. Como a saudade apertou, decidi
contar mais sobre ela nesta página. Como toda gata, ela adorava passear e rolar
nos telhados da vida. Mas gostava ainda mais de ser resgatada, e por isso
sempre fingia ter medo de voltar; assim atraía a atenção de todos e alguém
sempre ia ao seu encontro para salvá-la dos seres que habitam a noite.
Minha abelhinha tinha um recanto
preferido, bem atrás da caixa d’água do vizinho. Ela amava se esconder ali e
ver todos desesperados a sua procura. Mas lá era justamente o lugar mais
difícil de retornar, e impossível de se alcançar. Havia uma altura vertiginosa
do telhado ao chão, e um mínimo espaço para o salto do gato, ou melhor, da
gata.
Qual a saída senão improvisar uma
caixa exatamente do seu tamanho e estendê-la sobre o abismo com a ajuda de um
cabo longo e de muita perícia, não a minha, certamente, pois não tenho essa
habilidade. Restava sempre convencer a Pitukinha a entrar nesta arca encantada
e, então, içar e trazer de volta a gatinha sapeca. Uma vez tudo realmente se
complicou e quase tive que chamar o bombeiro. Ela já queria ser famosa nesta
época.
Como em toda história, sempre há
um ou mais vilões. Em um de seus passeios diurnos pelo alto das casas da
vizinhança, a Fadinha simplesmente desapareceu. Fiquei desesperada; procurei
pelas ruas do bairro e... nada! Mobilizei toda a criançada, de repente todas
queriam demais encontrar minha gatinha, mesmo sem conhecê-la. Quando anoiteceu,
minhas esperanças começaram a esmorecer e meu estômago naufragou, assim como
meu coração. Sem saber o que fazer, fui meditar sob o chuveiro, tanto quanto
minhas lágrimas permitiram.
Mas, sem meu conhecimento, a
garotada prosseguiu na busca. Afinal, criança tem energia de sobra! Quando saí
do banho a campainha de casa tocou, e meu coração quase parou. Alguns garotos
ali estavam, e traziam boas-novas. Eles tinham visto uma gatinha no
estacionamento do Museu de Osasco, muito próximo de onde moro, e ela se parecia
muito com a Pitukinha; minha descrição dela era realmente perfeita!
Fadinha Pituka e sua mãe Milly |
Corri até o local com uma orquestra
percussiva tocando em meu peito e sem nem sentir minhas pernas. Quando finalmente
cheguei mal pude acreditar. Ela estava ali; apesar da escuridão, eu sabia que
era minha gatinha. Como o lugar estava trancado, ninguém sabia o que fazer. A
fadinha estava com muito medo e não parava de miar, mas não vinha ao encontro
dos desconhecidos que se propuseram a pular o portão. Aos poucos, porém, eu a
acalmei e foi possível resgatá-la.
Fui para casa ainda tremendo, mas
feliz por levar a Pitukinha no colo. Nesta época ela usava uma coleira, e só
depois me dei conta de que ela estava enroscada em sua pata. Concluímos que
alguém a tinha empurrado do telhado; só assim ela poderia ter caído naquele
recanto sombrio com a coleira envolta em sua patinha; suspeitamos de um vizinho
que morava atrás da minha casa, e tinha fama de ser rabugento e não suportar
animais. Deus foi muito generoso com a Pituka naquela ocasião, pois ela poderia
até ter se enforcado. Minha primeira providência foi jogar fora este objeto
inútil, embora ele até fosse charmoso, pois tinha inclusive uma sinetinha que
sempre anunciava sua chegada.
Com o tempo a idade foi se
aproximando, os problemas na coluna apareceram, e a Pituka foi reduzindo suas
caminhadas pelos telhados do mundo. Quando o Ryan, meu cachorro, desembarcou em
nosso quintal e fez morada na laje de casa, plataforma de onde a fadinha sempre
partia para seus passeios, ela desistiu definitivamente de suas andanças nas
alturas.
Com certeza a fadinha tinha
saudades desses tempos mágicos, como nós de nossa infância e das brincadeiras,
mas pelo menos ela não reprimiu a criança que morava em sua essência. Apenas
assumiu outras folias e diversões. E assim foi até o fim; mesmo doente a
Pitukinha ainda ensaiava, de vez em quando, uns trejeitos marotos, e adorava
pousar o queixo em minha mão e fechar os olhinhos, ouvindo canções e sonhando
com o paraíso reservado aos seres mágicos.
Aguardem mais histórias
surpreendentes e vilões inacreditáveis. Saibam como a Pitukinha gastou
realmente suas sete vidas!
Nossa que Pitukinha arteira...gostei muito da história amiga, e espero poder ler mais sobre ela por aqui. Eu tenho uma cachorrinha que amo tanto, mas tanto, que me dói o coração deixá-la em casa e vir para o trabalho, incrível como eles parecem pessoas quando se integram na nossa família. A amo tanto que cuido sempre a hora de chegar em casa para fazermos a festa, mesmo que ela tenha virado tudo de perna pro ar.
ResponderExcluirBeijoaks elis
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