Este é um dos raros romances espíritas que realmente enfoca os conceitos presentes na Doutrina. Questões essenciais são esclarecidas nesta obra, sem falar na trama, ambientada na Índia em um período histórico anterior à vinda de Cristo. Amei este livro. Envolvente, emocionante, divertido e eletrizante. Vale a leitura!
Esta obra navega na contramão de
boa parte da literatura espírita contemporânea, a começar pela escolha da época
e do cenário. Ela se passa na Índia, antes da vinda de Jesus, quando cada reino
adorava sua própria divindade. Naripura não é exceção à regra; aí a deusa Nari
governa o coração e as almas dos súditos do soberano Viasa.
A estas terras, porém, as esferas
espirituais enviaram um ser atípico, com um dom especial e uma missão árdua e
sublime a cumprir. Chandra, desde a infância, não se comporta como um príncipe
terreno, e sim como uma criança singela, terna, destemida e visionária. Sempre
que pode ele foge para o bosque e se une aos pequenos da aldeia, sem nunca agir
como se fosse superior a eles.
Antes mesmo de completar seis
anos o garoto já profetizava; em sua inocência e pureza não se continha e
contrariava as orientações do Amigo, entidade espiritual de intensa luz que
sempre o acompanhava e protegia. Falante e repleto de energia, ele sempre
expressava publicamente as revelações de seu mentor, assim como ocorreu com o
nascimento de seu irmão, Nanda, quando ninguém mais acreditava que Mádri
geraria outro filho.
“O Amigo” (...) era um vulto luminoso que, após brisa agradável e
perfumada, surgia muito ligeiramente por entre as árvores do bosque, nos
ambientes do palácio, nos jardins, onde quer que fosse. O Amigo falava-lhe
sobre acontecimentos. (...) Suas palavras soavam como o suave bater das asas de
uma borboleta. (...) Suas aparições eram espontâneas. (...)
Olhou ao redor. Será que o Amigo ainda estava presente? (...)
- Errei, não foi? Não devia ter falado sobre os parentes de Ramai.
Falei demais, como a rainha sempre diz. (...) Sou mesmo descuidado! Você me
disse que não devo dizer tudo que ouço.
Também previu que a criança não
seria santa, como afirmava Nura, o sumo sacerdote de Nari, e que ele próprio
não herdaria o trono do pai. Suas profecias contrariam incessantemente o líder
do templo, que cada vez mais perde sua reputação junto ao rei. Enquanto o
representante da deusa insiste em reprimir os que não se submetem a ela, como o
ancião Asita e os ascetas orientados por Sanjaia e sua irmã Kasturbai, Chandra
segue o caminho inverso e se torna protetor dos devotos do Misericordioso.
Viasa, um governante sensato e
justo, nada vê de errado nas concepções dos seguidores de Sanjaia, mas
imposições políticas e sacerdotais o obrigam a mantê-los no calabouço, até que
uma inesperada enfermidade o atinge e Chandra convence a mãe da necessidade de
libertar os cativos para que o pai encontre a cura. A rainha segue seus
conselhos, mas nesse ínterim o príncipe também adoece gravemente, e no auge do
desespero o soberano renuncia a Nari e encontra abrigo no Criador, a quem seu
filho já se referia quando era mais novo.
Mesmo com Chandra restabelecido,
os pais ainda hesitam e entregam a criança nas mãos do sacerdote; arrependidos
e alertados por um ser espiritual, resgatam o filho e dão início a um
rompimento que futuramente trará graves conseqüências para a família e o reino.
- Se a deusa do meu povo não me ouve e nem mesmo os deuses de outra
nação, ouve-me, então, um que não conheço um que não é conhecido por imagem de
pedra. Ouça-me Aquele que meu próprio primogênito me falou um dia: o Maior de
Todos os Seres. Se é que você existe e governa acima de todos os monumentos e
estátuas, cure meu filho, eu suplico. (...) desdenhe a própria morte, que
tombará vencida pelo seu poder insuperável. (...)
Da janela de seu aposento, Nura viu a comitiva real parar diante do
templo. (...) No salão (...) Viasa foi logo tomando a palavra:
- Senhor, viemos para desfazer um erro. Chandra jamais deveria ter
vindo para cá. Viemos buscá-lo.
Nura foi incapaz de ocultar o desapontamento. (...) Sentia-se
desacreditado perante os demais. Os reis não lhe confiavam a guarda do
herdeiro.
Quinze anos se passam e agora o
protagonista é um jovem marcado pelo período de reclusão no templo, dividido
entre as crenças da meninice e a devoção a Nari. Inquieto, ele está sempre à
procura de algo que não sabe definir; nunca mais o Amigo se manifestou, mas o
reencontro com Sanjaia e o contato com Asita podem definir seus caminhos.
Nesta ocasião dois eventos dão
uma nova guinada à história. Ele decide se casar com sua amiga de infância,
Kadine, mas ela pertence a uma casta inferior, e sua insistência em tê-la como
esposa pode atrair a fúria dos sacerdotes, especialmente de Nura, que se revela
capaz da maior traição a sua cidade e ao soberano em troca do poder espiritual
absoluto.
Por outro lado, Chandra salva sem
querer a vida de seu primo, Duriodana, filho do rei de Pandya, Sugriva, um dos
maiores inimigos de Viasa e do povo de Naripura. Este ato desprendido não
impede que nuvens escuras pairem sobre a cidade dos deuses, e visões de guerra
e sangue invadam a mente do herdeiro de Viasa e logo se transformam em
prenúncios de tempos sombrios.
A autora compõe com maestria uma
narrativa delicada, sensível, comovente, repleta de lições profundas e
inesquecíveis. Ao mesmo tempo ela cria uma trama eletrizante, capaz de prender
a atenção do leitor da primeira página até o final surpreendente e tocante.
Além disso, Evanice reconstitui um período da história da Índia que reflete
quase fielmente a sociedade indiana contemporânea, ainda ancorada na ancestral
divisão em castas.
Evanice Maria Pereira é graduada
em Comunicação e Marketing. Em 1990 a escritora deu início a sua trajetória
espírita no Instituto Espírita Obreiros do Bem. Atualmente ela coopera com os
trabalhadores do Grupo de Estudos Espíritas Maria de Nazaré, localizado no
Jardim Piratininga, em Osasco. A médium é palestrante, milita na esfera da
assistência espiritual e na elaboração do periódico deste Centro Kardecista e
integra o coral do Instituto Obreiros do Bem.
Editora
Butterfly, 2011
Autor: Evanice Maria Pereira
Origem: Nacional
Edição: 1
330 Páginas
Preço: R$
32,90
Capa:
Brochura
Formato:
Médio
Parabéns Ana Lú, pelo comentário tão sensível. Você realmente captou a alma do romance. Espero que goste também do meu segundo livro, Para sempre contigo, lançado na bienal do Anhembi deste ano. Convido você para a Tarde de Autógrafos no dia 1/12 a partir de 14:00 na Livraria Mensageiros de Luz em Osasco. Um abraço. Evanice.
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