quarta-feira, 12 de setembro de 2012

"O Natal das Fadas"


Há dois meses a Fadinha Pituka partia para outras esferas. Mas, como disse alguém muito especial, a "morte" é só uma diferença de vibração. Estamos mais próximas que nunca. Como logo será Natal novamente, a Pitukinha aproveita para contar uma aventura que se passou justamente nesta ocasião.
 
 
Sempre me disseram que os gatos têm sete vidas. Nunca tive razões para refletir melhor sobre essa antiga história, mas agora eu certamente acredito nisso. Algumas travessuras já me colocaram em perigo antes, mas desta vez foi por um triz, e a culpa nem foi minha. Fico me perguntando: quantas vidas já terei perdido? Quantas ainda me restam?

Bem, vocês devem estar curiosos. Então vou direto ao ponto, embora nem tanto, porque é tão legal criar um ar de suspense, deixar todos imaginando o que, afinal, quase me roubou uma de minhas vidas... Assim quem sabe conquisto alguns leitores? Legal, também não precisa enrolar tanto, não é?
 
Tudo aconteceu às vésperas do Natal, essa festa criada pelos humanos... parece que é aniversário de um cara importante, Jesus. Acho que ele também tinha sete vidas, pois pelo que sei enfrentou muitas ameaças, desde pequeno, e saiu vivo de todas, sem nem um arranhão. Mas na última não teve como fugir, foi pregado em uma Cruz – ah! Eu não suportaria isso não! Embora eu também enfrentado uma provação cruel, assim como minha mãe, que passou ainda mais perto da Senhora Morte.
Pois bem, todos estavam ocupados em comprar, montar árvores de Natal, preparar tudo. Eu acompanhava o movimento da cama macia que me abrigou neste período. O pai da Aninha, minha ‘mãe’ humana, estava viajando e ia voltar justamente no dia fatal. Como ela estava hospedada por algum tempo no quarto dele, eu também me refugiava ali. A gente fazia a festa, ouvindo som até tarde enquanto ela lia sem parar; acho que era o último livro do Harry Potter.

Pena! Tudo que é bom acaba logo. No dia em que o pai da Aninha estava voltando ela teve que desocupar o quarto. E eu também. Aí minha ‘mãe’ aproveitou para lavar a colcha colorida, com carinha de meninas que mais pareciam fadas, sobre a qual eu sempre adormecia.

Era uma manhã de segunda-feira. Já viram dia mais chato e entediante? Sem o edredom eu não podia fazer alongamento nem dormir em cama alguma. Então segui minha mãe Milly e fomos passear pelo quintal. Quem sabe a gente encontrava algum tesouro? Tinha cheiro de cachorro em cada canto.

Argh! Aroma de Ryan, meu irmão adotivo. Não me entendam mal, eu até gosto dele, mas é enorme e tem um jeito meio traiçoeiro. A qualquer momento pode me atacar. Prefiro manter a distância. Ele ficou solto o dia todo no domingo, pois estava muito calor e todos foram a uma festa; nós, os bichinhos, ficamos em casa, para variar. O danado do cachorro não parou de latir um só instante. E sobrou prá nós. Calma, vocês vão entender.

 
Princesinha Pituka



Continuamos nossa exploração pelos arredores e, de repente, minha mãe farejou algo do lado, quase embaixo do carro. Hummmm! Um pedaço suculento de carne com arroz, tudo bem temperadinho!!! Deu água na boca, ou melhor, no focinho. A gente sabia que era errado comer aquilo, pois nossa ‘mãe’ humana só permite ração em nosso cardápio, nada mais. Ah! Quem pode dizer que resistiria a essa tentação?!

Nhoc! Percebi que minha mãe já estava devorando a raridade gastronômica; eu tinha que agir logo. Fui chegando devagarzinho e tratei logo de comer o resto. Quem mandou vacilar, não é? A mamãe felina comeu a maior parte. Na hora fiquei com raiva, mas depois agradeci muito ao tal Jesus. Parece que ele está sempre pronto mesmo para salvar a gente, não é?

Poucos minutos depois comecei a sentir uma sensação estranha no estômago. Uma dor, um enjôo esquisito; e só piorava. Comecei a gemer no jardim, mas a Aninha não deu muita importância porque eu sempre faço isso para chamar a atenção. Quem manda querer enganar os outros? Depois ninguém mais acredita em você.

Consegui me acalmar um pouco. Quando a Aninha ficou livre das obrigações, me pegou no colo e logo eu estava deitada no meu sofá – oops, meu e da Milly. Pouco tempo depois percebi que minha mãe estava bem mal. Nessa hora a ‘mamãe’ humana estava sozinha; sua irmã mal tinha saído e a Milly já começou a miar de uma forma estranha; estava babando sem parar e começando a sufocar.

A Aninha levou um susto; tentou socorrer minha mãe, mas não sabia o que fazer. Ela correu para o telefone e pediu socorro aos médicos da clínica que de vez em quando eu freqüentava. Como estava sem carro, procurou desesperadamente seguir as orientações da doutora. Abriu a boca da minha mãe e seu dedo desceu pela garganta dela – quase vomitei vendo essa cena!

Entendi depois que ela estava verificando se nada estava obstruindo a tal da glote – lugarzinho perigoso, pois se alguma coisa para ali e tranca a entrada de ar, a gente morre sufocada. Minha ‘mãe’ humana queria também provocar o vômito, porque assim a Milly podia expulsar do seu corpo qualquer elemento estranho.

Nada adiantou. Então finalmente decidiu pedir ajuda ao seu primo, o Tiago. Enquanto ele vinha ao nosso encontro, a Milly correu na bacia de areia e eliminou pelo menos algumas toxinas, expelidas pelo intestino. Eca! Eu já estava apavorada, pois meu organismo já dava claros sinais de que não estava bem.
 
Milly, a Fada-Rainha


E ainda por cima tive que ficar sozinha enquanto eles levavam minha mãe ao hospital. Minha mente disparava na velocidade da luz; meus pensamentos nem faziam mais sentido. As dores irradiavam por todo meu corpo; estava em pânico, por mim e pela mamãe. Será que a gente ia morrer?

Soube mais tarde que o Tiago praticamente transformou seu veículo em um carro voador. A Milly mal entrou e já foi conduzida ao consultório da Doutora Alice. Ela imediatamente diagnosticou envenenamento por chumbinho. Como a gente podia adivinhar que tinha veneno naquele banquete dos deuses?

Agora sei que nada cai dos céus; é bom sempre desconfiar quando certo tesouro brilha diante de seus olhos. Resistam! Não cedam! Com certeza é uma armadilha. E nem era para nós! Quem preparou tudo tão direitinho tinha outra vítima no laço. Adivinhem quem?

Se pensaram no Ryan, atiraram no alvo. Os criminosos que tentaram nos matar imaginaram que ele ficaria novamente no quintal. Mas é raro ele caminhar pela casa à luz do sol. Normalmente o cachorro permanece na parte superior, que chamam de laje, e só desce à noite.

Ao contrário de mim e da mamãe; só não teríamos caído nesta cilada se fosse um dia como outro qualquer, sem maiores alterações. Naquela segunda tudo estava diferente por conta do retorno do dono da casa. E nós também saímos da rotina; há algum tempo em repouso para nos recuperarmos de uma crise séria de coluna, sem ver ou sentir o sol há vários dias, optamos por um passeio sob a luz solar.

E o resultado foi esse: comemos chumbinho disfarçado de ceia natalina. Vocês devem estar se perguntando: quem foram os cruéis vilões? Capazes de envenenar bichinhos inocentes – bem, nem tanto... -, e ainda na proximidade do Natal? Certamente eles não entenderam bem as lições do homem chamado Jesus.

Conheço um pouco do Evangelho porque participo de sua leitura com minha ‘mãe’ humana. Já esse vizinho perverso não deve ter prestado atenção alguma nos ensinamentos desse Mestre. Pronto, já entreguei o jogo; não podemos provar, mas ele simplesmente odeia o Ryan, e nunca escondeu de ninguém a sua rejeição. E só da sua casa seria possível jogar comida envenenada no quintal. O que vocês acham?
 

Fadinha Pituka
 
 
Ah! Claro. Querem saber o que aconteceu com a gente, não é? A essas alturas devem imaginar que pelo menos eu não morri, pois estou narrando nossas aventuras; a menos que eu fosse um narrador morto, tem alguns na literatura, não é? Bom, deixa prá lá! Vamos ao que interessa.

Minha mãe ficou internada e a Aninha voltou angustiada. Eu sentia dores cada vez mais fortes; meus nervos pulsavam e eu mal podia respirar. Não demorou muito e ela percebeu que eu não estava bem. Na verdade já tinha imaginado que também tinha comido o tal veneno.

Como o Tiago já tinha ido embora, ela recorreu à irmã, que tinha retornado. Fui levada à clínica, rezando para não morrer. O diagnóstico não poderia ser outro: chumbinho. Fiquei internada também, ao lado da gaiola de minha mamãe. Passamos as piores 24 horas de nossa vida. Dor, mal-estar, medo, angústia, e até minha mãe, que tem muita dificuldade para vomitar, livrou-se das substâncias tóxicas pelo focinho.

A Aninha praticamente nem dormiu aquela noite. Rezou até se cansar. E procurou confiar em Deus. Quem sabe Jesus fazia um daqueles milagres que encantavam e surpreendiam a todos naquela época? Podia ser um milagre de Natal. Que tal? Pois foi o que aconteceu.

No dia seguinte recebemos alta. Inacreditável! Estávamos vivas. A médica recomendou que a gente ficasse em total repouso. Deixou a Aninha preocupada quando disse que mal nos moveríamos por causa da dor. Achei desde o início que tudo era um exagero. Apesar do susto e do pavor que experimentei, naquele momento me sentia bem melhor.

E assim foi. Mal chegamos em casa e já fomos matando a saudade de cada cantinho. Os dias se passaram e nos recuperamos. Eu e mamãe agora acreditamos de verdade na história das sete vidas. E desde então temos algo em comum com os humanos: um Natal para comemorar, um aniversário para celebrar.

Um comentário:

  1. Oi Flor,

    Tem meme pra você aqui: http://amagiareal.blogspot.com.br/2012/09/memes-recebidos.html

    Beijoaks elis

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